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Contos-->Uma lição de amor -- 16/01/2003 - 10:32 (Michele Mourão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ruiz tinha por volta de cinco anos quando começou a ouvir essa
história. Não lembra bem, mas sabe que faz muito tempo. Os finais de
semana eram sagrados na casa da avó materna Dolores, uma
senhora jovem e bonita, que gostava de falar da vida alheia. Ela
achava um horror o comportamento dos novos moradores da
residência ao lado. Sabia apenas que eles não eram de muito papo,
discretos. Mas de dentro da casa ouvimos constantemente barulhos
estranhos, grunhidos.
"Esses vizinhos não param nunca. Mudaram há três meses e acabou
o sossego", dizia minha avó. E realmente, agora eu lembro. Todos os
sábados depois do almoço eu dormia e agora fico só dançando as
músicas do muro as com minhas primas (Dizia-se do muro por virem
detrás do muro).
Nossa origem também é de sangue quente. Meus avós são do México
e vieram ainda crianças para o Brasil. "Esses vizinhos assanhados
deviam por essas músicas mais altas", resmungava minha avó. Eu
não entendia nada. Ela não gostava da música alta mais queria que
eles colocassem ainda mais alta?, raciocinava.
Toda vez que a música que vinha do muro parava, eu achava que ele
viria ao chão. Nosso muro era encostado com a parede do quarto do
casal.
Minha mãe dizia que eles estavam apaixonados e que o amor era
lindo, por isso tanto barulho, vovó a interrompia dizendo: - Mas esse
amor é exagerado. Todos os dias não tem quem aguente. O tempo foi
passando eu fui crescendo. Ficamos vizinhos da minha avó. Apesar
de todos esses anos passar os finais de semana na casa da Dodo -
como minha mãe a chamava e eu imitava, eu nunca pude ver o tal
casal.
Eles pouco paravam na casa, trabalhavam muito e não saiam. Eles
nem tinham filhos. Mamãe dizia que "eles brincavam sozinhos e que
eram felizes assim". Mamãe sempre foi uma mulher muito boa, me
ensinava a ver a coisas das melhores maneiras possíveis.
Cresci aprendendo e ouvindo que existe alma gêmea, amor a primeira
vista e amor eterno. Que Deus cria um para o outro. Deve ser por isso
que me tornei um homem tão romântico.
A minha felicidade se realizou quando meu irmão mais velho foi fazer
faculdade de medicina no Chile. Acabei ganhando o quarto no
primeiro andar de casa. Da vista da varanda, eu podia ver a a área de
fora da casa do casal.
Um segredo que guardei durante anos, foi o buraco que fiz do lado da
minha cama para espiona-los. Mas para minha frustração nunca vi
nada. Já na fase da adolescência fazer festas em casa era minha
diversão. Chamava os amigos e fazíamos uma farra. Na primeira vez
que tive a idéia, devido a música alta depois da meia noite tive que
pedir permissão dos vizinhos.
Era por volta de 7 da noite quando me dirigi ao portão da casa deles.
Bati no portão que por diversas vezes achei que iria ao chão de tanto
que balançava. Aos 13 anos já conseguia entender muita coisa.
Ambos vieram me receber, educados e discretos eles estavam com
roupas de casa, bem a vontade.
Acho que foi nesse momento que nasceu minha paixão platônica por
ela. A mulher era linda, tinha os cabelos cor de mel lisinhos. Parecia
uma boneca, um anjo de tão delicada. Ele era o oposto, nunca
acostumei a elogiar pessoas do mesmo sexo que eu. Mas admirava o
que o casal representava para mim. Encantadores, foi a conclusão
que tirei após vê-los. Desde então idealizei para minha vida o que eu
pensava deles. Apaixonados com uma química perfeita, em total
sintonia.
Eu os via ao longe e percebia como eram felizes, sentados a mesa
olhando um para o outro, rindo a toa. A noite ou de dia, não tinha hora
ou lugar, eu achava que era um terremoto que vinha de lá. Tudo
tremia, até eu, de vontade de saber o que era tão bom? O que eles
faziam para ser melhor que os outros casais?
As vibrações boas que emanavam, com o clima de tranquilidade que
originava da casa, envolvia a todos os vizinhos, estava no ar. Meu
sonho de consumo se tornou em encontrar a minha menina linda, a
minha mulher maravilhosa e que nos completassemos, como um do
outro, como eles.
Um sábado que eu pensei que seria apenas mas um, acordei com a
buzina de um caminhão de mudança. Eles estavam indo embora. Sem
deixar rastros ou pistas o casal se mudou. O ar de romance e paixão
que contemplavam os moradores em conjunto deu lugar a vazão, era
como se perdessemos parte da nossa felicidade, mesmo que ilusória,
até porque ninguém sabia o nome deles. Minha avó que antes
reclamava, morreu querendo ter sido amada daquela maneira, sem
limites, só liberdades.
Passados quatro meses de angústia e solidão, o locatário apareceu
com os novos inquilinos. Por já ter sido morador da vizinhança, ele
passou pela casa dos vizinhos cumprimentado. Minha mãe quis logo
saber sobre o perfil dos novos vizinhos, aproveitei a brecha e
perguntei: O que aconteceu com o casal? - Mudaram - se para uma
casa maior. O espaço estava pequeno para a chegada dos trigêmeos.
Depois fiquei sabendo que eles já tentavam há anos terem filhos. E
que aquelas crianças estavam chegando para completar a felicidade
deles.
Sempre me emociono quando conto essa história. Há dois anos
quando me separei da minha primeira esposa com quem fui casado
por seis anos e com quem tive minha filha Lourdes de quatro anos.
Encontrei na internet o site do casal, chamado www.vidamor.com.br,
onde eles contavam toda a história de suas vidas. Os 30 anos de
união e sobre o sentimento que eles tinham como se um fosse do
outro, como se um pertencesse realmente ao outro.
Acho isso lindo, acredito plenamente e muitas das minhas idéias
sobre relacionamento provém de tudo que aprendi morando ao lado
de vizinhos enamorados, com o amor em total vigor. Hoje sei que
encontrarei quem também me procura, sei que o que é nosso está
reservado.


mimourao@yahoo.com.br
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