Carnes flamejantes adornadas de negros lírios,
lábios lactantes,
sedentos em seus pecados,
dementes em seu delírios,
Além das vozes, calado.;
além do deus e do diabo:
o anjo do eco alado,
a lira da fantasia.
Era tal, e nesta tela ele surgia:
uma tela não pintada,
uma tela amaldiçoada,
mas uma tela dotada do sonho de um andarilho.
Era tal, e neste sonho a poesia:
um sonho carnal, demasiado carnal,
além do bem e do mal,
um sonho de um santo que desce ao recinto de uma fogueira infernal.
Embriagado de vinho,
sedento de sangue.
Com um dedo lascivo por entre a boca aberta
e com uma flor preta
que do umbigo ao abismo descia
na língua indecorosa que percorre o paraíso,
desenhava em sua tela.
E então, nesta loucura insistente,
não mais do que de repente,
ouvia-se um canto
excitante e ardente,
o canto de um abutre displiscente
a ecoar eternamente:
carne, carne, isso só e nada mais!
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