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Artigos-->RREQUIEM PARA O. G. REGO DE CARVALHO -- 23/11/2013 - 20:37 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




RELER O. G. REGO DE CARVALHO



Por Rita de Cássia Amorim Andrade (*)



 



O 3º SALIPI nos traz de volta O. G. Rego. Não que ele estivesse ausente, ao contrário, é o escritor piauiense mais visitado, interpretado, analisado, desde questões de vestibular a dissertações de mestrado, passando pelos cursos de letras, nas disciplinas de Literatura Piauiense e Nacional. Eis porque, ao fazer comentários sobre a personagem LUCÍNIO, na narrativa de Rio Subterrâneo, sinto-me estar “chovendo no molhado” (se me permitem o clichê).



 



Harold Bloom (crítico literário americano) diz-nos: “…para sermos capazes de ler sentimentos humanos descritos em linguagem humana precisamos ler como seres humanos e fazê-lo plenamente”. Assim, creio não nos atarmos à visão simulacro, mas a uma  imagem semelhança. Oeiras, rica em personalidades com distúrbios mentais, forneceu ao autor cabedal para plantar esses tipos. Quantas e quantas vezes reli Rio Subterrâneo e sempre reencontrei essa marca em pessoas conhecidas da minha terra, a vizinha Simplício Mendes. Valho-me desse parâmetro para tentar ler o sentimento humano descrito no comportamento psicológico de “Lucínio”. Não me estenderei à investigação teórica, Fabiano de Cristo Rios Nogueira já o fez com mestria em “O mundo degradado de Lucínio”. Limito-me a ver dentro de um contexto ficcional, no caso de Lucínio, um processo insight, em que esse comportamento é extrapolado de maneira quase inconsciente: depósito de loucura, medo latente. Há a herança genética da loucura na personagem que se manifesta sob a influência do meio ambiente. Na estrutura social, o produto circunstancial, a convivência com familiares e amigos, carregados do estigma da loucura muito contribuem para esse fim. Ao mesmo tempo, dentro desse contexto social, o doente é novamente jogado para dentro de si, escondendo-se, ou sendo escondido pela família, pelo preconceito que o sufoca cada vez mais.



 



Lucínio emerge desse mundo conturbado para uma realidade exterior que lhe atrai. Tenta quebrar as correntes que lhe aprisionam no meio doente da família.



 



Valendo-se de convívio com outras pessoas, a personagem tenta fugir do seu mundo interior dificultado pelas próprias pessoas que o cercam. Tenta escapar desse estado por meio do amor. Procura a comunicabilidade por intermédio de valores autênticos, sem encontrar respaldo na sua mundividência. Esse conflito psíquico leva-o à degradação na medida em que os seus possíveis salvadores carregam também conflitos idênticos.



 



Outro fator que contribui para essa degradação é sua própria consciência repleta de lembranças de infância, em que surgia até mesmo na maldade infantil uma vontade interior de comunicação, ao quebrar o silêncio de “Joana”, ao sacudi-la para a vida por meio de um comportamento cruel:



 



“Ela não lhe dizia nada, quieta em seu mutismo. (O. J. Rego. 1988, p.30). {…} Joana não olharia com indiferença para essa lagarta-de-fogo. {…} Joana teria medo? Aproximou-se dela, com as mãos para trás. A  pobre louca não o via, se bem que os olhos estivessem virados em sua direção. Esse desdém atormentou-o. Queria vê-la agitada, e ia ser agora”.( O. G. Rego. 1988, p.31)



 



Tenta a salvação na amizade pelo colega “Benoni”, aparentemente sadio, mas um suicida que, ao chegar ao ato, deixa para Lucínio uma herança conflitante:



 



“Um tanto surpreso com a indiferença geral, Lucínio substitui Benoni no leito de morte, procurando imitá-lo em tudo, até na aparência de um sono tranqüilo. Com olhar curioso, pede a sua aprovação e se arrepia vendo-lhe à boca um esgar diabólico, que enregela e faz tremer. Tenta levantar as mãos, não pode; abrir as pálpebras, é inútil. Uma indolência fria, letal, pesa-lhe no corpo, domina-lhe a voz, chumba-o à cama em que se estira, de pés juntos: ver um cadáver. Benoni, que fizeste de mim? {…} Nunca devias ter permutado, Lucínio. Agora sobrevivo eu, enquanto irás para o túmulo amanhã, consciente de tudo….{…}Ele se defende, buscando, às cegas, escapar da morte. Com verdadeira obstinação vence afinal a Benoni, e desperta sôfrego, atônito, sem reconhecer a chuva”. (O. G. Rego. 1988, p.105)



 



Enfim, quando ressurge Helena como possível luz, descobre-se que ambos carregam ainda o peso da solidão, refletida na languidez da corrente de um rio escuro e profundo, qual suas almas:



 



“…Lucínio e Helena miravam a vastidão das águas, confusas dentro da neblina. Iam silenciosos: ele, a evocar a insônia da noite precedente, cheia de mistério e dúvida, e ela absorta na contemplação das espumas, como se visse os buraquinhos de Joana na parede — uma corrente secreta, viscosa, assim um rio subterrâneo: álgido, escuro e aterrador”.(O. G. Rego. 1988, p.162)



 



*(Antologia Escritores/Campelo, Tomaz Gomes. UBE/PI. Vol. IV – Rita de Cássia Amorim Andrade)



 



 



 





 



 



 



Orlando Geraldo Rego de Carvalho, conhecido como O. G. Rego de Carvalho, (Oeiras, 25 de janeiro de 1930 — Teresina, 9 de novembro de 2013) foi um escritor romancista brasileiro.



 



 



 



Ocupava a cadeira número 6 da Academia Piauiense de Letras e, além de romancista, era também Bacharel em Direito, professor e funcionário aposentado do Banco do Brasil. Doutor “Honoris Causa” da Universidade Federal do Piauí, integrou o Grupo Meridiano e pertence à Geração 45. Juntamente com o poeta H Dobal e o crítico M. Paulo Nunes, lançou em 1949 a revista “Caderno de Letras Meridiano”, um marco dentro do Modernismo Piauiense.



 



 



 



Sua obra mais marcante é Rio Subterrâneo, quando o escritor expõe de forma crua as neuroses, conflitos, medos, loucura e solidão de seus personagens.



 



 



 



Faleceu na manhã de 9 de novembro de 2013 no Hospital São Paulo em Teresina, aos 83 anos, de falência múltipla dos órgãos, após oito dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.



 



 



 



Principais obras:



 



 



 



Ulisses Entre o Amor e a Morte, 1953



 



Amarga Solidão, 1956



 



Rio Subterrâneo, 1967



 



Somos Todos Inocentes, 1971



 



Como e Por Que Me Fiz Escritor, 1989



 



Ficção Reunida, 2012



 



 



 



Fonte: Wikipédia



 



 

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