FERIDA ABERTA
No ar o cheiro do meu medo,
No fim, a carnificina de mim,
Que tanto quis e nada fiz
Para calar este grito,
Inútil
Dos ecos refletidos em séculos
De ouvidos moucos e olhos cegos
Na arena do meu tormento,
Me encolho no meu lamento
Envergonhado e rouco,
A encarar meu povo,
Taciturno e roto
A enfrentar a dor esquálida, quase,
Inválida
Por mais uma batalha mascarada
No vulto da mortalha negociada,
A lhe manchar a honra
Há muito testada,
Hoje, mercadoria barata,
Qual espada que corta mas não mata
Me flagro desnorteada e tonta,
A chorar em vão por um acerto de conta
Até desaguar todos os rios na lágrima,
Incolor
Que enlutou minha dor
E fez do meu pranto meu pudor
Embalada por todos os meus mortos,
Sôfregos,
De olhos vesgos e meigos
A rir desse pasmo que me engasgo,
E com um riso quase
Inaudível
Silenciosamente me dizem:
Que o nosso sangue já coloriu este pasto
Somos carne do mesmo talho
E no rastro desses falsos profetas,
Nossas pegadas já marcaram esta terra
Que vai resistir impávida e bela
À ferida aberta por mais esta guerra
MORGANA
Rio de Janeiro, 22/03/03
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