AMEAÇA VELADA
Na boca muda
O pensamento ferve,
No burburinho da minha criação
Rompe tênue fio entre eu e o alçapão,
No espaço vazio
Me vejo entre a queda e o mofo,
A tatear o fundo do poço
Serpenteio nas horas vadias
Gasto o resto do dia
Perdida na emoção finda,
Saturada deste exercício em vão,
Me liberto da minha imposta tirania,
Decidida dou um basta nessa agonia
Liberta,
Me visto, me aliso, me analiso,
Estreito a vista
Aflita, procuro rugas, pés de galinha,
Nada à vista, me dou por vista
Me entrelaço no meu próprio abraço
Perdida no meio da roda
Não tenho par,
Sou ameaça velada,
Sou medida de ponta a ponta,
Sou vítima da minha própria afronta
Não tenho culpa
E nem vou arranjar desculpas,
Joguei fora os restos de ternura,
Vesti meu manto de amargura
Estou só no meio da rua
Atordoada e tonta
Recolho os meus pedaços
Espalhados em tantas promessas,
Perdidos em tantas mentiras,
Sou eu sempre que rompo os laços
Me desembaraço,
Me perco e me acho,
Me dou um jeito
Sou meu próprio desfecho
Rachado, mas inteiro.
MORGANA
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Rio de Janeiro, 02/01/03
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