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Cartas-->CARTA AOS IRMÃOS GEORGINA E DANIEL ALBUQUERQUE -- 18/11/2002 - 16:37 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CARTA AOS IRMÃOS GEORGINA E DANIEL ALBUQUERQUE

A propósito da Crônica "Adolescentes na Maternidade", publicada a 19/08/2001, da Carta "Ao meu irmão Daniel C. Albuquerque", publicada a 21/08/2001 e da Carta-resposta "À Minha Irmã Maria Georgina", publicada a 22/08/2001, neste Site.

Meus queridos amigos Daniel e Georgina.

Não vim aqui analisar suas matérias incríveis, pois elas falam por si e eu estou longe de ser capaz de uma análise digna da profundidade do que vocês expressam.

Estou aqui por causa de um pequeno detalhe comum nas falas de vocês dois. Georgina fala em desligar a TV, descrente que está dos rumos da televisão brasileira. Daniel diz, literalmente: "Penso em me calar e guardar, introspectivo, essas minhas idéias, com receio de estar sendo inoportuno, chato e parecer pretensioso. Quem se incomoda com o que eu penso? Que peso teriam essas minhas conclusões? De que adianta ficar falando para quem não quer ouvir ou escrevendo para quem não quer ler?"

E eu tremo diante de tais declarações.

Confesso que tive e tenho ainda as mesmas dúvidas e angústias que vocês. De certa feita, o golpe foi tão forte que decidi nunca mais escrever. Olhei para meus textos: poemas, crônicas, livros e, principalmente artigos e cartas publicados em jornais locais e da Capital, durante quase uma vida. Achei que tudo fora inútil. Lembrei-me das madrugadas que passei debruçada sobra a máquina de escrever, muitas vezes embrulhada em uma manta para vencer o frio, tantas vezes o dia me surpreendendo ao entrar pela janela, e decidi parar, usando até uma expressão que hoje acredito presunçosa, além de arbitrária: "ninguém merece o meu sacrifício". E cumpri minha decisão de me calar por quase nove anos. Às vezes era assaltada pela inspiração, chegava a sufocar, mas permaneci fiel à promessa: nem uma linha. Quando escrevia cartas para amigos, poucas então, percebia que a escritora e, principalmente seu aspecto poeta, estava viva em mim. Mesmo assim eu a abafava, reprimia, acorrentava, tal fora a dor das decepções. Até que um amigo querido mostrou o quanto eu andava errada. Ele disse apenas: "É preciso voltar a escrever, não pode matar a inspiração." E eu percebi que tinha que optar: escrever ou implodir...

Hoje eu não faria mais aquele propósito absurdo de me calar. Compreendi a importância de minha missão como escritora: semear. Semear sem me preocupar se a semente vai ou não germinar, e muito menos desejar colher os frutos que provavelmente dará. Descobri que minha voz é importante, que tenho o dom maravilhoso da reflexão, e mais o dom de colocá-la no papel e entregá-la a quem a queira assimilar. Quando tenho resposta, claro que fico satisfeita, mas mais importante que isso é sentir que pessoas têm sede e que eu tenho a sua água. E hoje escrevo, escrevo apenas o que vivo e sinto, de tal forma que nem mais temo ou vacilo em me expor.

E vocês, Daniel e Georgina, têm também esse dom de refletir e falar, cada um a seu modo e de acordo com seu estilo. E, principalmente, o dom raro do amor universal. O amor de vocês não atinge apenas os filhos, os parentes, os amigos, é um amor que se estende e alcança a todos que sofrem e se angustiam com a dor do mundo e, talvez, até aqueles que, por uma razão ou outra, estão alienados e provocando grande parte dessa dor. Se vocês desligam a TV, se vocês se calam, o que será de todos nós, os mortos de sede? Se vocês desistem, como ficarão os terrenos férteis que não recebem as sementes? E, pior, como ficarão vocês, sufocados nas próprias sementes que se recusam a espalhar?

Daniel termina sua crônica dizendo: "É preciso pensar isso." Como vamos pensar se você, querido Daniel, se calar? O que diz é a verdade que muitas vezes não vemos, nem sempre por não querermos ver. Claro que nos importamos com o que você pensa e diz.

Georgina fala de uma sociedade "atrelada às rendosas e hipócritas manipulações de alguns de seus segmentos". Como vamos perceber os engodos que nos arrastam, como sociedade que somos, se você, querida Georgina, se calar? Você tem uma sensibilidade à flor da pele, uma cabeça singular, o dom de chegar aos mais simples e não tem o direito de se nos recusar.

Ambos tiveram o privilégio de uma formação firme e reta, de uma consciência profunda e delicada. São dons que vocês receberam e devem ser cultivados. Dons devem estar a serviço do próximo, principalmente daquele próximo que não teve a mesma sorte.

Estou aqui para pedir que nunca parem de falar e escrever, não nos privem do que têm de sobejo, continuem nos alertando para o que não deve ser e nos ajudando a ser melhores e, com isso, a melhorar o mundo. Digo isso em meu nome e com a certeza de que outros dizem o mesmo, embora não se manifestem. Creiam, nós queremos ouvir e queremos ler. Portanto, garrafas ao mar!

Beijos da amiga Sal


23/08/2001

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