Natureza Morta
A liberdade me assusta
Me deixa tonta,
Sem rumo ao sabor da cidade ,
Estou por minha conta
Mal acredito
Na vastidão deste espaço,
Fazer o quê com tanta ansiedade,
Não sei se danço, se canto,
Me encanto ou me ataranto
Cativeira de mim mesma
Vou andando em direção ao azul,
Que está mais nos meus olhos
Que neste horizonte sem fim,
Nem sei se fica ao norte ou ao sul
Acho que não fica em lugar algum
O mar já apagou a luz
Ficou escuro, perdeu o azul,
Até o luar está preguiçoso
Vai e vem, apaga e acende
Parece um vaga-lume teimoso,
Esse luar dengoso
Estou com saudade do meu recanto
Não vi nada demais neste chão,
Feito de pedra e asfalto
Nada brota desta terra sepultada,
Aqui ainda não vi noite enluarada
Até a madrugada parece enlutada
Quero voltar para o meu chão
Estou com falta de sono, de atenção,
Estou farta desta solidão
Que gruda na gente feito pó de carvão
Prefiro a liberdade com o pé no chão
Ao cárcere dourado da civilização,
Que quando muito vê lá do alto
O chão feito de asfalto
Como passarinho no mato
Só que pássaro não é homem
Nem paga caro o tal metro quadrado
Para viver engaiolado
MORGANA
Rio de Janeiro, 10/03/03
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