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cronicas-->31. NITRATO DE PRATA -- 10/10/2002 - 07:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Para mim, o mistério. Diziam os meus maiores que era para aplicar o nitrato de prata, produto cuja natureza sempre desconheci, mas cujo nome soava aos meus ouvidos como a palavra mágica da cura absoluta de qualquer moléstia.

Eu era assim. Não aceitava pacificamente as explicações mais claras e pungentes, no entanto, deixava a fantasia absorver-me todo o conteúdo mental, de sorte que os bens materiais me pareciam afastados totalmente da praticidade dos atos comuns. Eram o orgulho e o egoísmo que me faziam ufano do meu intelecto, sem máculas na intimidade de meus raciocínios pelo avesso.

Ainda hoje soletro a palavra ecumenismo como sendo a pureza dos sentimentos de todos os comandantes religiosos. Não lhe fui ao encalço do significado, pois me bastava saber que havia gente importante incentivando o roteiro do amor e da luta pela verdade.

Temo não ter total domínio da expressão e, por isso, me afasto dos companheiros na hora das discussões. Reservo-me, a demonstrar modéstia, sem o intuito, porém, de me pór a par dos temas e suas implicações morais e filosóficas. Tenho para mim que o verso da medalha sempre conterá o prisma mais importante, de modo que, pelo contumaz receio de falhar na adoção de um ponto de vista ponderado, coloco a desconfiança de que nem tudo está sendo ventilado, apelando para a fé no desenvolvimento espiritual prometido para todos.

Empaquei, deveras, durante muito tempo numa teimosia atroz, tanto que esbarrei nos conceitos mais elementares e não pude compreender os mecanismos naturais do vaivém reencarnacionista. Isto ainda encarnado, quando analisava o teor das palestras e o mérito dos palestrantes pela rama. Assustei-me ao comprovar que a morte me surpreendeu despreparado, muito embora houvesse reflexionado a meu modo nos últimos quinze anos da existência terrena.

Falto de princípios calcados na mente sob os argumentos sadios de Kardec, achei-me também vinculado a um mundo de fantasmas deprimidos. Transferia os sentimentos para os seres alados com que preenchia o vácuo e dava-lhes as tenebrosas cores das profundas cavernas por onde reverberavam as angústias dos sofredores.

O melhor de tudo para mim foi o despertar do desejo de amainar as dores expressadas pelos gritos e pelos impropérios. Sabia que sempre poderia contar com o auxílio dos poderosos guias e protetores, mas, da mesma forma que não entendia como é que o nitrato de prata poderia curar, ali também suspeitava de que existiam anjos para efetuar a salvação dos condenados.

E não era porque não orasse. Orava e muito, porém, não atinava com o significado mais profundo das expressões sagradas dos textos que conhecia de cor. Enquanto repetia os termos, como que a esfregar a casca do tronco, não deixava de pensar que tinha de retirar o saboroso palmito de dentro, examinando as minhas ànsias como únicos pontos importantes em toda a criação. Orava mas não pensava em tornar a prece a alavanca para arrancar-me do atoleiro, onde me sentia afundar-me cada vez mais.

Até perceber que precisava criar no fundo do coração as virtudes primordiais da fé e da esperança, não alcancei elucidar-me quanto ao fato de que a prática da caridade não traz a salvação, sem que haja a internalização na personalidade não só do conceito exato mas também do sentimento correspondente ao ato em prol dos que se debatiam na escuridão.

Pretendi exasperar o meu caro leitor com a nebulosa descrição do meu caráter, enquanto ser oculto nas trevas da ignorància. Tentei demonstrar-lhe que a clareza do entendimento dos textos evangélicos é mínima parte da compreensão que deve existir do àmago das lições ditadas por Jesus. Também me esforcei para condensar as lacunas de interpretação, como forma de envolvê-lo nos emaranhados das sutilezas doutrinárias, como a pobre mosca presa aos fios gosmentos tecidos pela aranha da dúvida e da malversação dos recursos intelectuais.

Aspiro a facilitar a utilização do nitrato de prata, mas quero enfatizar que todos devemos estudar a química, para saber como se dão as reações dos elementos em face uns dos outros. Além disso, é preciso conhecer em que sentido os resultados são bons e em que sentido são maus. Não basta dizer que Deus é pai de infinita misericórdia e que Jesus é o divino mestre. Necessitamos sempre respeitar-lhes a perfeição, porém, buscando entender como nos será possível melhorar-nos com a aplicação racional e emocional da misericórdia de que somos alvos e dos ensinamentos que herdamos.

Fique hermética esta dissertação o mais possível, porque não temos como abrir as portas da felicidade. Temos a chave, mas precisamos orientar-nos para entender como é que funciona a fechadura. Por enquanto, estabeleçamos que não iremos oferecer os comentários mais preciosos e elucidativos. Por enquanto, aceitemos que as imagens substituam os dizeres precisos e exatos.

Haverá um dia que conversaremos ao pé do fogo da compreensão, embalados pela nostalgia do amanhã, para onde destinamos todos os nossos sonhos de pureza e harmonia. Velemos, enquanto isso, para que o amor dos nossos maiores nos aplique aquele nitrato de prata da cura espiritual.

Graças a Deus!

Aristides.

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