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Cronicas-->Amarguras do álcool -- 11/10/2002 - 01:28 (Henrique F. (rique)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era mais uma segunda-feira qualquer, assim como as outras. Levantei da cama com a boca ainda amarga pelo porre que tinha tomado na noite anterior, algumas doses de Rum e umas canecas de chopp era o que tinha bebido. Um pouco além da conta, é bem verdade, mas a traição de Sonia ainda não tinha sido digerida por mim. Fui até o banheiro, e tomei um banho quente. Enquanto a água caia nas minhas costas, olhava ao redor e via um vidro de óleo, desses que se passa no corpo. Era de Sonia. A água que caia sobre mim se misturou com a água que jorrou dos meus olhos.
Terminado o banho, olhei para a mesa da minha cozinha. Nada para comer, mas para beber, ah, para beber tínhamos muita coisa. Dei um bom gole numa garrafa de coca-cola, já quente e sem gás, que estava sob a mesa. As bebidas que tinha levado para casa ainda estavam lá. Umas intactas, outras já abertas. Parece que o álcool tinha se tornado um companheiro meu. Um desses companheiros que se podia contar para sempre. Ele estava lá, solitário, esperando um chamado amigo. Uma dose, um gole, uma conversa ao pé do ouvido com o copo. Estava mesmo se destruindo, mas nessa segunda-feira alguma coisa foi diferente. Só dei um gole na coca-cola e fui para o trabalho. Não precisei beber para conseguir trabalhar como nos dias anteriores. Nos cinco dias de solidão. Nos dias em que estava sem a presença de Sonia.
No trabalho transcorreu tudo naturalmente, a mesma rotina, as mesmas pessoas e o mesmo pessoal burocrata que sempre entrava no escritório. Senhor João não tinha ido ao escritório, então, era um a menos para ouvir. Ele sempre ficava me dando lições de moral e dizendo que sou isso e aquilo. Ele queria mesmo era que eu casasse com a filha dele, a Zelda, uma criatura tão feia e magricelinha que dava dó. Almocei pela cidade mesmo, nem me atrevi a ir para casa. `Talvez poderei encontrar Sonia lá´, pensei, ela ainda tem muita coisa no apartamento, então pode ir la pegar. Comi uma boa feijoada e nem toquei em bebida alguma. Estava com uma dor de cabeça imensa e uma angustia que era de matar. `Uma coca, por favor´, pedi ao garçom, que já estava até acostumado aos chopp´s e doses de wisk que tinha tomado na semana anterior. `Ta de ressaca, é, senhor?´. Os garçons são bons em época de tristeza. São bons para levar para mais baixo ainda. Esse me levou. Conversei um pouco com ele, dei uma volta pela cidade e acabei comprando um livro que tinha me interessado numa dessas bancas de sebo. Era um best seller, do Stephen King, nunca tinha lido nada dele, mas arrisquei, já que muitos dos seus livros tinham sido daptados para o cinema.
- `Demorou, heim!´, falou a supervisora da repartição, ao me ver chegar.
- `É, demorei sim´.
Sentei na minha cadeira, coloquei o livro dentro da mesa e nem dei bola para o que aquela senhora sexagenária ficou murmurando para uma estagiaria.
Em dado momento da tarde, quase para terminar o expediente, resolvi entrar na Internet para bater um papo. Queria bater um papo com alguém ou encontrar alguma pessoa que me fizesse esquecer minha ex-mulher. Num desses sites de encontros amorosos, para pessoas solitárias, fiz uma busca por pessoas da minha idade e aguardei o resultado. Muitas mulheres, mas não tive duvida quando me deparei com um titulo em uma das mulheres. `Quero ser sua Dona´. Aquilo me intrigou e resolvi lhe escrever um e-mail. Não deu nem tempo de acabar de escrever e Dona Lucia, estava me aborrecendo de novo.
`Vai, vai. Estamos fechando mocinho. Para de ficar namorando na Internet e arruma suas coisas´.
`Já vou´.
Terminei de escrever o e-mail para Dona e fui para casa. No e-mail disse que queria conhecê-la e queria ver se ela seria mesmo a minha dona. Na sua descrição se dizia uma pessoa bonita e de bem com a vida. Era separada, mas tinha filhos. Isso não era problema para mim, pois já tinha um filho que Sonia tinha levado com ela nos braços. Queria mesmo era alguém que me respeitasse.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi jogar todas as garrafas de bebida fora. Despejei tudo na pia da cozinha. O cheiro do álcool estava me dando nojo. Tomei um banho e pedi uma pizza. Comi só um pedaço. Era de calabresa, mas não estava muito boa, ou eu não estava com tanta fome como parecia. Pode ter sido o almoço, a feijoada.
Não sabia o que fazer em casa. Segunda-feira e tinha ficado a semana anterior inteira bebendo. Acho que tinha perdido a noção das coisas. Peguei o livro do Stephen King, dei uma olhada e acabei jogando ele junto aos outros livros que comprei e nem li as duas paginas iniciais. Liguei o laptop e fui ver se Dona tinha respondido o e-mail. Quando meu computador foi conectado a Internet, veio o aviso. `Você tem mensagens novas´. Abri minha caixa de correio e la estava ela.
`Oi, quero ser sua dona sim e você, esta disposto a me domar?´ Respondi o seu e-mail, mas vi que ela estava conectada também e poderíamos conversar on-line. `Vamos nos falar por fone?´. Disse no outro e-mail que lhe enviei. O seu telefone veio instantaneamente. Liguei e uma voz de menina atendeu.
- `Alo´.
- `É você?´, perguntei, assustado, pensando não ser da casa da minha Dona.
- `Oi, sou eu sim´.
Foi assim que conheci a mulher com quem moro atualmente e vivo feliz. Nos casamos e agora vivemos eu, ela, nosso filho e os dois filhos dela.
O primeiro contato pela Internet, uma coisa fria, mas que se tornou algo tão quente que me fez esquecer tantas coisas. Entre elas, minha amiga bebida, que, desde o dia em que conheci Dona, não coloquei uma gota de álcool na boca. Segunda-feira foi um dia especial para mim, um dia em que deixei de acordar com a boca amarga pelo álcool para acordar com muitos beijos dados por quem eu amo.
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