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Artigos-->Karl Marx: Gênio e Profeta -- 23/08/2000 - 20:21 (Fabrício Sousa Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Karl Marx

Gênio e Profeta

por

Carlos Antonio Fragoso Guimarães







Karl Heinrich Marx

(1818-1883)

Música: Imagine, de John Lennon





"Uma das mais estranhas ironias da História é não haver limites para os erros de interpretação e as deturpações das teorias, mesmo numa época de acesso irrestrito às fontes; não há exemplo mais drástico desse fenômeno do que o acontecido com a teoria de Karl Marx nos últimos decênios. São constantes as referências a Marx e ao marxismo na imprensa, nos discursos de políticos, em livros e artigos escritos por respeitáveis cientistas sociais e filósofos; no entanto, com poucas excessões, parece que os jornalistas e políticos (especialmente no Brasil) sequer viram de relance uma única linha que seja escrita por Marx (...). Aparentemente sentem-se a salvo em seu papel de peritos no assunto, visto como ninguém com poder e satatus no campo da pesquisa social contesta suas afirmações ignaras."

Erich Fromm, Psicanalista.



"Marx não é (...) o filósofo da tecnologia. Também não é, como pensam muitos, o filósofo (do estudo) da alienação. Antes de mais nada, Marx é o sociólogo e o economista do regime capitalista. Marx tinha uma teoria sobre este regime, sobre a influência que este exerce sobre os homens e sobre o seu vir-a-ser. Sociólogo e economista do que chamava de capitalismo e das suas transformações, não tinha (e não podia realemente ter) uma idéia precisa do que seria o regime socialista, e (antecipando seu tempo de ciência mecanicista-determinsta) não se cansava de respetir que o homem não podia conhecer o futuro antecipadamente. Não tem fundamento, portanto, perguntar se Marx foi leninista, stalinista, trotzkista, partidário de Gorbatchev ou de Mao. Karl Marx teve a sorte, ou a infelicidade, de ter vivido a mais de um século. Não deu respostas às questões desse tipo, que formulamos hoje. Podemos até fazer estas questões e procurar respondê-las por ele, mas as respostas serão sempre nossas, não dele. (...). Perguntar o que teria pensado Marx significa querer saber, realmente, o que um outro Marx, um Marx do século XX, talvez, teria pensado no lugar do verdadeiro Karl Marx. A resposta contudo, apesar de ser possível, é aleatória e de pouco interesse."

Raymond Aron, Cientista Social.



"(...) Sem medo de erro, pode-se afirmar de imediato que, depois de Marx, é impossível o retorno à ciência social pré-marxista. Marx deu à humanidade olhos novos para que ela pudesse ver de modo diferente o mundo e a história dos homens. A influência do fator econômico sobre os fatos humanos não é invenção de sonhador."

Giovanne Reale e Dario Antiseri, Filósofos e Historiadores.



Como fica claro nos pensamentos, acima transcritos, de alguns dentre tantos famosos pensadores de nosso século que compreenderam o impacto da obra de Karl Marx, a filosofia e a ciência deste alemão universal, ao mesmo tempo que representa um dos mais agudos gritos contra o processo de coisificação, mecanização e alienação do homem pelo homem, contra sua perda de humanidade e sua transformação em objeto explorado, foi igualmente submetida a distorções, vilipêndios e manipulações - intencionais ou não - por parte dos pró-marxistas e dos não-marxistas, cada um tentando utilizar-se de Marx de acordo com sua própria e mesquinha visão de mundo. Talvez somente uns poucos, como o gênio Charlie Chaplin em seu filme Tempos Modernos, tenham tido um melhor insight sobre a mensagem de Marx do que muitos dos auto-intitulados marxistas militantes ou dos antimarxistas.

Esta página, é claro, não tem a prentensão de expor Marx tal qual ele é... Para isso seriam necessários muitos megabytes de informação e um conhecimento tão ou muito mais enciclopédico e imparcial do que teria tido o próprio Karl Marx. Nem pretende demonstrar nada. Visa apenas apresentar resumidamente o homem Marx, a originalidade e o humanismo de sua obra e o seu inconteste impacto em todo o século XX, em acordo com autores mundialmente reconhecidos como estudiosos íntegros do pensamento marxiano, como Erich Fromm, por exemplo. Porém, mais do que tudo, esta página representa a minha leitura de Karl Marx a partir do próprio Karl Marx, especialmente o jovem Marx dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos de 1844.

O Homem Marx

Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 15 de maio de 1818, na pequena cidade de Treves, filho de um advogado de origem judáica, Heinrich Marx, e de uma dona-de -casa, Henriette Pressburg.

O jovem Karl, sob o incentivo intelectual do pai, realizou os seus estudos básicos em Treves seguindo, posteriormente, para Bonn, cidade natal do grande compositor Ludwig van Beethoven, para estudar Direito. Karl, como a maioria dos jovens de todos os tempos, preferiu mergulhar no clima boêmio da cidade, imersa nos ideais do romantismo idealista de Schelling, Goethe e outros, que a se dedicar seriamente aos estudos das Leis. Por isso seu pai o transferiu para uma universidade mais disciplinada em Berlim, em 1836.

Ainda neste ano, o romântico Marx se apaixona e noiva secretamente com uma das mais belas mulheres de Treves, e tão jovem e idealista quanto ele: Jenny von Westphalen, cujo irmão, Ferdnand, seria ministro do Interior da Prússsia posteriormente. Marx casou-se com ela, finalmente, em 1843.

Em Berlim, Karl seguiu com destaque os cursos disciplinares e frequentou o "Doktor-Club", círculo de jovens e brilhantes intelectuais hegelianos. Lá eles discutiam a filosofia de Hegel e outros filósofos românticos. Em 1841, Karl laureou-se em filosofia.

Depois de formado, Karl tentou seguir a carreira acadêmica na universidade de Bonn com a ajuda de seu amigo, o teólogo Bruno Bauer. Mas este era considerado um teólogo progressista e ousado demais, e foi logo afastado da universidade, frustrando os anseios de Marx. Sem poder seguir seu sonho, Marx se dedica ao jornalismo, sendo o redator da "Gazeta Renana", órgão de concentração dos intelectuais da região. Logo Marx seria promovido a redator-chefe. Porém, como quase sempre ocorre, a força intelectual do jornal acabou por incomodar muitos poderosos (o jornal não era governista nem mercantilista como boa parte da mídia popularesca do Brasil) e, após inflamar os ânimos da burguesia latifundiária tradicionalista de parte da Prússia, foi oficialmente interditado em janeiro de 1843.

Nesse mesmo período, a imensa produção intelectual de Marx estava em pleno vapor, mesmo que, no global de sua obra, estivesse ainda em seu início. Estudioso de Feuerbach, Marx escreve em 1843 a Crítica do direito público de Hegel, da qual a introdução foi publicada em Paris no ano sguinte por Ruge, nos "Anais Franco-Alemães", do qual Marx seria, a convite de Ruge, co-diretor. Na cidade Luz, Marx entrou em contato e foi bem recebido por vários grandes intelectuais como Proudhon, Blanc, Heine, Denizard Rivail, George Sand, Bakunin e, sobretudo, o seu grande amigo e colaborador de toda a vida, Friedrich Engels. Porém, mais uma vez, a ousadia e o impacto dos "Anais" acabaram por decretar o seu próprio fim, tendo sido publicado apenas um volume.

Marx, porém, com a ajuda de amigos da cidade alemã de Colônia, prosseguiu sua incansável pesquisa em filosofia e economia política. Foi nesta época que ele escreveu talvez a sua obra mais importantes antes de O Capital e, em muitos pontos, mais transparente e acessível ao pensamento de Marx que sua obra irmã posterior: Os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Karl também contribuia com artigos políticos para o jornal dos artesães alemães, o Vorwärts. Como este jornal tinha uma linha crítica-socialista e os artigos de Marx eram muito brilhantes, e como o jornal era lido por várias outras pessoas além dos artesãos a quem se dirigia, especialmente estudantes, a colaboração de Marx acabou por inflamar mais uma vez os ânimos farisáicos do poderosos de todos os tempos, e Karl foi expulso da França em janeiro de 1845.

Passando a residir na Bélgica, Karl e Engels passam a aprofundar ainda mais seus estudos, com o apoio terno de Jenny. Em janeiro de 1848, Marx e Engels redigem o famoso e ainda altamente atual - em sua visão crítica do capitalismo - Manifesto Comunista, a pedido dos membros da "Liga Comunista" de Bruxelas. Com os movimentos sociais de 1848 na França, Marx volta a Colônia, na Alemanhã, onde tentar novamente o jornalismo. Posteriormente, depois de lhe ser negada permanência em Paris, Marx vai para Londres, em 1849, onde permancerá até sua morte.

Na capital do Reino Unido, Marx passa por toda sorte de dificuldades, mas com a ajuda de Engels e de seus artigos para vários jornais, Karl consegue se dedicar e aprofundar-se nos estudos de economia política, sociologia e história de tal modo que seu conhecimento e argumentação impressionam a todos os que o conhecem. Desta são as sementes que mais tarde iriam eclodir em O Capital, cujo primeiro volume, redigido por Marx, veio à luz em 1867, sendo os outros dois compilados por Engels a partir das notas originais e publicados após a morte de Karl, em 1883.

Dedicado quase que obsessivamente na atividade de organização política do movimento operário, Marx funda em Londres, em 1864, a "Associação Internacional dos Trabalhadores".

No período posterior, Marx se dedica febrilmente ao trabalho. Em 1881 morreu sua terna e doce companheira e grande incentivadora, Jenny. Semi-solitário, mas muito ativo, Marx finalmente expira em 14 de março de 1883.

Originalidade e Importância da Obra de Karl Marx

Marx foi um grande homem e um gênio quer da Filosofia, quer da Sociologia, quer da Economia Política, e disso poucos ousam questionar. O grande problema surge quando o seu legado passa a ser apropriado pelos seus seguidores e admiradores, ou mesmo - e principalmente - pelos seus inimigos (muitos e muito versados na obra do mestre), que é exatamente o mesmo problema no legado de outros grandes grandes homens, como Sócrates ou Cristo, em especial quando tentam institucionalizar sua herança. Ainda hoje, mais de um bilhão de seres humanos vivem e são educados naquilo que se chama erroneamente de marxisimo (China, Cuba). Porém, há décadas que se sabe que este marxismo não é o de Karl Marx, e tal qual ele se apresenta, há pouco de Marx e muito de outros, ou seja, está altamente contaminado. Este "marxismo" é uma vertente interpretativa do pensamento de Marx e dificilmente seria aceita por ele, mas, infelizmente, se tranformou numa ideologia rígida dos chamados países comunistas e foi, também, apropriada e altamente cristalizada tal como hoje se apresenta, calculadamente, pelos ditos capitalistas, sendo usada como arma para manter, por ambos os blocos, seu poder. De qualquer forma, não há que se negar que mesmo nestes países as conquistas sociais foram inúmeras. Dentre os bilhões de habitantes da China, ninguém passa fome, e em Cuba, apesar de um embargo econômico criminoso de mais de 40 anos contra a ilha indefesa, todos têm direito à educação, moradia e um dos melhores sistemas médicos do mundo.

Não podendo abarcar toda o alcance e extensão da obra de Marx, que é um dos pais da Sociologia e presença obrigatória nos cursos de História e Filosofia, podemos começar dizendo que o pensamento de Marx é, fudamentalmente, uma tentativa de compreensão da sociedade capitalista, onde uma minoria (os capitalistas) dita as regras para o viver e o pensar de uma maioria (os trabalhadores). Marx se dedica analisar as contradições entre estas duas classes. A distância imensa e o desequilíbrio entre os que detêm os instrumentos para a produção, como máquinas e equipamentos vários, e a terra (meios de produção) e os que nada têm a não ser sua força de trabalho (os assalariados, empregados e operários), constituindo duas classes básicas e cada vez mais polarizadas no sistema capitalista, é o que salta aos olhos nos primeiros estudos de Marx. A tensão entre estas duas classes, que a cada dia parece aumentar - mesmo que tacitamente - agora pode se mostrar em sua frieza já que não parece mais existir a ameaça socialista, desde o fim da União Soviética - e tal fim é amplamente propagado pelos meios de comunicação responsáveis pela divulgação da ideologia (visão de mundo) mais favorável ao capitalismo, e este pode agir como bem quiser, sem que haja o contrapeso marxista para equilibrar seus exageros.

O conflito humano resultante das desigualdades econômicas intrínsecas a estas duas classes são, para Marx, o ponto chave das sociedades industriais modernas, juntamente com o modo, a forma ideológica de manipular as idéias para que o grande povo não perceba o vínculo entre poder econômico e poder político e sua influência na qualidade de vida de todos (alienação política e cultural).

"A história de toda a sociedade humana, até nossos dias, é a história do conflito entre classes. Entre o homem livre e o escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de ofício e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos se encontram sempre em conflito, ora disfarçada, ora abertamente, e que termina sempre por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou então pela ruína das diversas classes em luta".

Karl Marx e Friedrich Engels, O Manifesto Comunista, 1848.

Portanto, para Marx, o que vemos constantemente na história humana é uma luta entre setores opostos, classes antagônicas, que, em seu processo de interação, buscam uma solução para as tensões econômicas resultantes de suas diferenças. E a sociedade atual capitalista, a sociedade da globalização econômica, não é diferente, ou é até ainda mais explicitamente antagônica do que a de outros tempos.

Senão vejamos: no Brasil existe ou subsiste ainda uma forma bastante primária de capitalismo no Nordeste, como, por exemplo, o corenelismo agrário, quase feudal. No Sul, existe uma forma mais sofisticada, onde uma burguesia insdustrial e agrária nacional convive com uma burguesia insdutrial internacional. Estes membros formam a força economicamente privilegiada da nação por deter em suas mãos os meios técnicos e físicos para a produção econômica. E para manter indefinidamente seu poder, é necessário resguardar sempre o domínio destes meios de produção o que é feito mediante o aperfeiçoamento técnico dos mesmos, daí a ênfase e o apóio nas chamadas ciências técnicas: engenharia mecânica e elétrica, computação, etc. Marx fala que "a burguesia não pode subsistir sem transformar os instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção (ou seja, a forma como se dá a relação entre as máquinas e as pessoas que trabalham com elas), o que implica na transformação do conjunto das condições sociais (...). A burguesia criou forças produtivas mais maciças (por exemplo, as grandes fábricas mecanizadas) e mais colossais do que as que haviam sido criadas por todas as gerações do passado, em conjunto (op.cit). Desse jeito, é incentivado um processo de mecanização e obsolescência, onde instrumentos que deveriam servir como auxiliares e meios (veja-se o caso dos computadores), por serem rapidamente descartáveis, se tornam fins em si, realimentando o processo, matando o emprego.

Surgem assim duas formas básicas de contradição na sociedade capitalista:

1º. Contradição entre os Meios Técnicos e as Relações de Produção. - Os capitalistas, ou seja, os donos das máquinas, da terra e das fábricas criam ou incentivam a criação incessante de meios de produção mais poderosos, por exemplo, novos computadores que controlam novos robôs, dispensando mão de obra humana e liberando o patrão de pagar os encargos sociais dos empregados. Os desempregados, que se aglomeram nas cidades, acabam formando um exércido de mão-de-obra de reserva que, igualmente, é usado para inibir os operários e empregados que ainda trabalham e que podem ser facilmente substituídos pelos que estão desempregados, caso tentem causar problemas aos patrões. Mas as relações de produção, ou seja, as relações entre propriedade, trabalho e a distribuição das rendas não se transformam no mesmo rítimo, ao contrário, tenta-se sempre deixar aos detentores dos meios de produação todo os direitos que deveriam ser compartilhado com todos, inclusive a renda. Por isso a grande Belíndia (mistura entre Bélgica e Índia) ou o Texas-África que é o Brasil: uma perversa distribuição de renda que se mantêm às custas da alienação política da nação, em grande parte mantida e incentivada pelos meios de comuncação de massa, como a mídia eletrônica que, em nosso país, é praticamente controlada pela Rede "Mundo" de Televisão, surgida na ditadura militar e sempre governista. Favelas ao lando de grandes prédios... Indústrias no Sul contra o sistema fundiário do Norte, etc.

2º. Contradição entre o Aumento das Riquezas e a Miséria Crescente da Maioria.- Os que não detêm os meios de produção, ou seja, a grandiosa maioria da população, ficam à mercê do que querem os detentores dos meios de produção. Ora, estes querem sempre obter mais lucros e garatir seu poder e padrão de vida, sendo assim, tentam minimizar as despesas com pessoal e manter o controle sobre o pensamento público. Isso aumenta o desemprego e afunila as maravilhas do mundo moderno, como educação e saúde, apenas para quem tem o poder de COMPRÁ-LOS. Empenhados em uma concorrência louca - que transborda as fábricas e recai sobre o modo de vida de todos e nas relações entre as pessoas -, os capitalistas não podem deixar de aumentar seus meios de produção e, com isso, ampliar o número de dependentes proletários e sua miséria.

Como nos fala Raymond Aron, "o caráter contraditório do capitalismo se manifesta no fato de que o crescimento dos meios de produção em vez de se traduzir pela elevação do nível de vida dos trabalhadores leva a um duplo processo de proletarização (os pequenos agricultores vedem suas terras para procurar empregos nas cidades) e pauperização (crescem os miseráveis nas favelas por falta de emprego)"(Aron, 1993, p. 137).

Sendo assim, o capitalismo alienou, isto é, separou, divorciou o trabalhador comum dos seus meios de produção, pois, por exemplo, um artesão não poderá competir com uma fábrica. Só lhe resta vender sua oficina e ir trabalhar nesta fábrica aceitando as ordens do patrão em troca de um salário pela venda de sua força de trabalho. A industrialização de lucro, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica, fortalecida pela alienação cultural (os programas de televisão aos domingos traduzem bem isto), que ajuda na alienação política.

A alienação política se dá assim: o Estado, que é administrado pelos políticos eleitos, é mantido pelos que são eleitos devido não ao debate de idéias ou presença de competência mas, na maioria das vezes, à manipulação da propaganda e dos meios de comunicação, às custas do abuso do poder econômico. Nisso, então, a Democracia passa a ser uma farsa, pois os direitos não são iguais entre os candidatos. O Aparentar, o Parecer suplanta o Ser. Basta ver o modo tendencioso da Rede "Mundo" de televisão nas últimas três eleições presidenciais no Brasil para se ter uma idéia disso (a mesma poderosa organização da mídia eletrônica ajudou a eleger Collor de Mello e o acompanhava todos os domingos na sua marotona calculada na Casa da Dinda para, para, posteriormente, descartá-lo do cenário político quando seus interesses começaram a ser ameaçados pela mediocridade deste primeiro Dom Fernando). Assim sendo, os que estão no poder não representam o povo em si, mas a CLASSE ECONÔMICA DOMINANTE, ou seja, a dos grandes empresários, banqueiros latifundiários e entidades internacionais. FHC e ACM são os dois ícones máximos dessa representatividade elitista.

Os programas de comunicação de massa refletem bem essa ideologia do poder de um determinado grupo. A revista "Observe", por exemplo, juntamente com a Rede "Mundo" de Televisão fizeram e desfizeram tudo o que quiseram para enegrecer Lula e engradecer FHC. Esquecendo facilmente que o maior Presidente Norte-Americano, Abrahan Lincoln, era um lenhador sem estudos, o pobre ex-operário Lula foi avacalhado diante do nobre Doutor Sociólogo... Hipocrisias que trazem os frutos para que delas usam... Hoje os estudantes universitários são tachados de mal-educados por estes dois veículos de comunicação ao protestarem contra o sucatemento com vistas a privatização das universidades públicas, enquanto FHC é chamado de gentleman mesmo quando chama o povo brasileiro de capira, os aposentados de vagabundos (hoje ele não os chama mais assim, é verdade. Ele apenas age com eles como se realmente o fossem), os sem-terra de maconheiros, etc... Muito imparcial esses instrumentos de comunicação.

Assim, mutilado e alienado, o homem só pode se recuperar sua condição humana se despertar e se educar. Educação? No Brasil isso não pode se dar, pois assim muitos iriam despertar para a sujeira política de nosso sistema, iriam ter uma visão crítica de mundo, como sonhava Paulo Freire. Assim, é melhor sucatear a educação pública e as universidades. Só os que têm dinheiro, e são do lado da burguesia dominate, ao menos concordantes com sua idelogia, é que podem e devem ser educados para, assim mesmo, ajudar a manter o sistema. Não é sem luta que os trabalhadores comuns podem burilar a si mesmos.

E, depois de conscientizado e esclarecido, o homem tem de agir politcamente para mudar o quadro de desigualdades. Quando isso ocorre, a tão propalada democracia, especialmente na América Latina, dá lugar ao apóio da burguesia e dos latifundiários ao Golpe Militar ou ao Golpe de Estado, para se proteger da ameaça marxista. Foi assim no Brasil com o infame Golpe de 64, foi assim no Chile, na Argentina.... Fala-se muito das atrocidades dos "comunistas" mas se calam quanto aos porões das várias ditaduras das repúblicas de bananas da América Latina.

É essa a mensagem básica de Karl Marx, e a sua grandeza. O conceito de alienação é, para mim, o mais básico e brilhante da teoria marxiana do capitalismo. Em muitos pontos, foi sua bagem humanista e filosófica que levou Marx ao estudo aprofundado da Economia e da História. Marx tinha o que hoje chamamos de consciência sistêmica ou ecológica das coisas, mas não desenvolveu muito - nem poderia com os recursos de seu tempo - um trabalho nesse sentido. Mas ele viu muito à frente do seu tempo. Ele fez muito para uma só existencia e isso já basta. Seu trabalho foi levado adiante em nosso século por nomes como Rosa Luxembrugo, Antonio Gramsci, Edgar Morin, Jean Paul Sartre, Che Guevara, Mário de Andrade, Antonio Houaiss, Paulo Freire, Florestan Fernandes... E podemos ver que o pensamento marxiano, no que tem de profundamenteo humanista, está concordo com os trabalhos progressistas e profundamente e cristão de Leonardo Boff, Dom José Maria Pires, Dom Hélder Câmara, ou de organizações como Greenpeace, ONGs várias, entre inúmeros outros nomes e associações.

"A alienação imputável à propriedade privada dos meios de produção se manifesta no fato de que o trabalho, atividade essencialmente humana, que define a humanidade (e criatividade) do homem, perde suas características humanas, já que passa a ser, para os assalariados, nada mais que um meio de sobrevivência. Em vez do trabalho ser a expressão do próprio homem, o trabalho se vê degradado em instrumento, em meio de viver.

"Os empresários também são alienados, pois a finalidade das mercadorias de que dispõem não é atender a necessidades realmente sentidas pelos outros, mas são levados ao mercado para obter lucro. O empresário se torna escrevo de um mercado imprevisível, sujeito aos azares da concorrência. Explora os assalariados mas nem por isso ele é humanizado no seu trabalho, pelo contrário, aliena-se em benefício de um mecanismo anônimo."



Raymond Aron



"Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único"

John Lennon



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