O Castelo Humano
Uma apologia à amizade.
Escrevi inspirado na importància
de exaltar a sensibilidade humana!
O castelo, cuja arquitetura milenar imitava a anatomia do homem, lotou para a festa em louvor à Amizade. Vestida de azul celeste, a anfitriã trabalhou, durante semanas, para tornar os diversos compartimentos aconchegantes.
O Coração recebeu grandes tapetes vermelhos, para recepcionar, com desvelo e carinho, o Amor. O Cérebro, sala principal, foi decorado com motivos sóbrios e flores brancas, com o elevado objetivo de acolher a Sabedoria. De encomenda, chegaram cortinas brancas, alvas e translúcidas, para embelezar o arejado compartimento duplo dos Pulmões, reservado à Saúde. A Amizade, com sentida amargura, só conseguiu articular as acres dependências do Fígado, reservatório do corrosivo líquido bilioso da digestão, para acomodar a Falsidade e a Mentira, que chegaram sem convites.
A festa ocorreu nos salões de paredes quase transparentes dos olhos. Suavemente interpretadas pela garganta e seu aparato sonoro, belas canções a todos encantaram, extasiaram e enlevaram, inclusive a Falsidade e a Mentira, sempre lado a lado. Digno da mais sublime candura da Amizade, o congraçamento irradiou luz farta pelo espírito de união dos convivas.
O ponto culminante foi o balé das Meninas dos Olhos, irmãs gêmeas, vestidas ecologicamente de verde. Depois da apresentação, choraram por dupla razão. De alegria, devido ao imenso valor da Amizade; e, de tristeza, devido à ignóbil pequenez da Falsidade e Mentira. Mas foram consoladas sob o argumento de que os castelos não estão livres desses nefastos ataques sobre a face da Terra. Infelizmente.
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