E no meio do
Aqui e Agora,
não acha que
podemos nos encontrar
de vez em quando?
Fernão Capelo Gaivota
Perdida fiquei em pensamentos depois de ler seu velho texto, que ratifica tudo o que já me foi dito e consolida o que sentimos um pelo outro. E o que sentimos é fruto dessa admiração mútua que o dia-a-dia foi delineando novos traços, esculpindo formas, modelando o Amor à nossa maneira. Você, o pintor; eu, a tela. E o quadro se revela a cada nova pincelada, a cada gesto de suas mãos em minha direção, uma obra-prima que vibra, pulsa, respira...Nos retratamos nesse quadro que é pura expressão de nosso amor.
Temos do Amor o principal: sua existência; dedicamos a esse Amor, o melhor de nós e zelamos por ele para que não pereça à falta da presença física. Nosso amor se manifesta em palavras, em sonhos revelados por escrito, mas nem por isso é menor, inconsistente ou ilusório. É, provavelmente, maior que muitos “amores” que vemos por aí pelas ruas. O nosso caminha junto, de mãos dadas, através dos tempos e do espaço.
Após ler sua carta, minha mente ficou um labirinto com mil passagens que me levavam à você e só você. Em cada porta uma pergunta ansiando uma resposta: seria justo amar assim instensamente e não viver o Amor na plenitude? Será que já não temos, do Amor, a sua totalidade, embora distantes? Será que estamos mesmo distantes? Por que não damos uma chance a esse Amor que nos roga por um beijo, um carinho, um simples toque de mãos? Tantos “serás”, inúmeros “porquês” e a dúvida permanecia. A única certeza era de que te encontraria, de uma forma ou de outra, na saída desse labirinto.
Comentei com você ao telefone (ah, sua voz...ouvir você foi como se estivesse envolvida no seu abraço) que estava relendo “Longe É Um Lugar Que Não Existe”, de Richard Bach, mas não disse o quanto a leitura me acalmou. Aprendi um pouco com os pássaros hoje e, assim, pude compreender que estamos juntos e que em um sentimento assim como o nosso não cabe falar em distância, nem tempo.
Disse o beija-flor: “Podem os quilômetros separar-nos realmente dos amigos? Se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá?”
E a gaivota me abrandou o coração que andava repleto de perguntas sem respostas: “Mas deve se lembrar sempre que não saber não impede a verdade de ser verdadeira”.
Assim, meu amor, já não preciso entender os “serás”. A vida nos deu de presente esse Amor e “como tudo que não pode ser tocado com a mão nem visto com o olho, seu presente se torna mais forte à medida que o usa”, vamos usufruir desses momentos felizes e alimentar nosso amor de carinho como temos feito desde que nos conhecemos.
Poderemos nos encontrar ou não fisicamente, mas uma coisa é certa: “Haveremos de nos encontrar outra vez, sempre que desejarmos, no meio da única comemoração que não pode jamais terminar”.
Só hoje, ao reler o livro, consegui entender a dimensão de seu conteúdo porque só agora, aos quarenta e meio, me veio esse amor de palavras absurdamente verdadeiro.
Agora feche os olhos e deixe os sentidos à flor da pele: todos os aromas, sons e sensações desse momento são meu perfume, minha voz e um suave beijo que pouso em seus lábios.
Amo você!
“As únicas coisas que importam são as feitas de verdade e alegria”
Valéria Tarelho
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