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cronicas-->CHATICE -- 01/07/2000 - 20:12 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nós, os seres humanos, durante os últimos dez mil anos, fomos forçados a conviver em sociedade com outros seres humanos. E desde o dia em que aquele macaco do 2001, o filme do Kubrick, arremessou o osso em direção ao céu, celebrando o fato de ter sido inteligente o suficiente para esmagar o crànio do seu vizinho, até hoje, o homem não evoluiu muita coisa. Claro que não me refiro aos inquestionáveis avanços da tecnologia, como o avião, o computador, o telefone, o pirulito-chiclete e o desodorante roll-on, pois estes surgem das infinitas e inesgotáveis necessidades que inventamos para nos manter ocupados enquanto esperamos a janta. Eu me refiro à evolução espiritual, profunda, capaz de modificar as atitudes e ànsias de cada um. Talvez dez mil anos não sejam suficientes para que todo mundo tenha tudo o que deseja sem precisar furar o estómago do outro com um estilete. Talvez precisemos de mais uns cem mil anos até chegar lá. Na verdade eu acredito que nunca chegaremos a conviver em perfeita harmonia, e digo já qual é a razão: nosso planeta está infestado de chatos.
Muitas confusões e querelas iniciaram-se pelas chatices do ser humano. A Segunda Guerra Mundial, por exemplo: quer cara mais pentelho que o Hitler? Além de ter sido um monstro genocida, ele era também um baita de um chato muito metido. Brigas entre torcidas são outro exemplo. Os palmeirenses e os sãopaulinos acham os corinthianos todos uns chatos, só porque eles não conseguem gostar tanto do time deles quanto os alvinegros gostam do Grande Corínthians. Professores em geral, são os que mais sofrem sendo tachados de chatos. Afinal, têm como trabalho ensinar algo que 95% das pessoas, sentadas no último lugar que gostariam de estar naquele momento, não está com a mínima vontade de saber.
A chatice torna-se perigosa quando provoca a ira descontrolada no cidadão comum. Devemos sempre tentar distinguir os diferentes tipos de chatos, para que possamos saber lidar com a situação de encontrar uma espécime na rua e chegarmos em casa sem dor de cabeça ou sangue nas mãos.
O sociólogo holandês Van Derr Lay, em seu "The Boring People: A Social Problem Or That Was Just A Bad Joke?" , editora Kluivert, 889 páginas, faz uma análise profunda da chatice na Europa e no Mundo, e no capítulo 3 classifica os chatos em seis tipos básicos, que mostro resumidamente aqui. O livro pode ser comprado pela internet pelo site www.unrealbooks.com por US$87,00.
O chato clássico - O chato clássico é o indivíduo que apresenta os sintomas mais conhecidos da chatice. Suas piadas são horríveis, quando não são muito velhas (geralmente, os chatos desta categoria são capazes de repetir a mesma piada até cinco vezes numa só noite). Falam alto no cinema, ligam em horários desumanos, como 6:40 da manhã, dão tapas fortes e ardidos nas costas quando cumprimentam alguém. Sempre xingam a pessoa errada nos jogos de futebol. Além disso, são pés frios. Podem ser subdivididos em dois tipos: o consciente (que é chato por esporte e adora irritar os outros) e o inconsciente (que simplesmente se acha "um cara jóia, bicho").
O chato fanfarrão - É o indivíduo que vive a vangloriar-se de tudo o que tem ou faz. Não é um grande contador de piadas, mas quando o faz ri como se fosse a mais engraçada do planeta. Gosta de pensar que todos estão sob seu domínio, orbitando ao seu redor. Alguns dão valor exagerado ao dinheiro e "status" social, mas em geral não são inteligentes o suficiente para perceberem que estão sendo, na verdade, muito chatos.
O chato maçante - A característica básica do chato maçante é a alta frequência de bocejos nas rodas de conversa onde ele está presente. Repetitivo e monótono, dificilmente consegue animar uma conversa. Conta piadas de maneira confusa, geralmente estragando o final ou esquecendo seu detalhe mais importante e ilustrativo. Geralmente não gosta de festas, não vai a bailes e não dança. Quando vai, fica metendo o pau na banda ou na comida. Alguns são extremamente mau humorados. Cuidado com estes últimos, que podem se tornar violentos.
O chato locutor esportivo/comentarista de árbitros - Estas duas classes profissionais atingiram graus tão insuportáveis de chatice que mereceram, de acordo com Van Derr Lay, uma notação própria. O locutor esportivo torna-se ainda mais inconveniente quando narra as sensações subjetivas dos atletas, dizendo coisas que seriam impossíveis para ele saber. Tanto um como o outro são inevitavelmente chatos porque devem falar sem parar daquilo que todo mundo já está vendo. Num lance polêmico, temos replay em vários àngulos, então para quê se pagar uma pessoa para falar "Foi pênalti, errou o juiz. Ele é muito gordo e não consegue acompanhar o lance" ou "a regra é clara, no momento do lançamento o atacante estava na frente do zagueiro, portanto impedido, e esse bandeirinha é um míope"?
O chato funcionário público - Possui várias características do chato maçante, acrescidas de desànimo total e comportamento burocrático. No serviço, só se levanta para ir pra casa e, quando chega, senta-se imediatamente em frente à TV para assistir à novela.
O chato pernóstico - É aquele indivíduo que pensa saber tudo mais que os outros. Gosta de empregar termos difíceis, que frequentemente desconhece. A única coisa que ele não sabe é que é um chato.
O chato cronista - Acha que pode falar o que quiser sem se envolver diretamente. Geralmente se sente acima das mazelas humanas, e quando é exposto a situações reais de stress, finge que não é com ele.
O livro penetra profundamente no assunto, mas de acordo com o autor, podemos encaixar qualquer chato em uma dessas características, ou ainda fazer combinações, utilizando porcentagens para chatos mais complexos (podemos dizer que fulano é 30% chato pernóstico e 70% maçante, por exemplo).
Ao terminar de ler a grande obra do Professor Van Derr Lay, eu concluí que na verdade, todo nós, os 6 bilhões de moradores da Terra, sem uma única exceção, não passamos de chatos, pois cada pequeno interesse particular nosso é conflitante com o do nosso vizinho, mesmo que ele seja um chato de galochas (aliás, expressão desconhecida na Holanda). Tenha certeza de que alguém acha você um chato, pois como dizia aquele xarope do Einstein, tudo depende do observador.

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