Ribeiro das Flores
No fundo do meu quintal,
À sombra de um bambual
De tão saudosa lembrança,
Corria em leito de areias
O córrego das sereias
Do meu tempo de criança.
Das Flores era seu nome.
Flores que o tempo consome
Mas não a minha saudade!
Flores grandes e pequenas,
Balançantes quais falenas,
Bêbadas de claridade!
Ai! Quantas vezes, faceira,
Em singela brincadeira,
Via-me noiva e de véu,
A colhe-las com desvelos
Para enfeitar meus cabelos,
Passando horas ao léu!
E o ribeiro corria
Cheio de luz e alegria
Em sua várzea florida,
Sem saber que em seu afã
Tanto enfeitava a manhã,
A manhã da minha vida!
Ribeiro do meu pomar
Ouço agora teu chorar
Prisioneiro das manilhas!
Onde estão as tuas flores?
Ribeiro dos meus amores,
Meu país das maravilhas?
Sepultaram-te em concreto
E corres sem luz e afeto,
Sem sereias, sem luar!
Da companheira criança
Ficou apenas a lembrança
Esfumando-se no ar...
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