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Contos-->Ciúmes de Beatriz -- 23/01/2003 - 18:55 (Francisco José de Lacerda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ciúmes de Beatriz


Virou-se de um lado para o outro, sem conseguir pegar no sono. Ao seu lado, Beatriz dormia fazia horas, roncando de leve. Vadia, sem consciência, dormindo assim depois do que tinha feito! Traidora. Traidora, sim! Vontade que dava era pôr um monte de micróbios num copo, dar a ela de beber. Depois ver a barriga inchando e sugerir: -Lava com creolina! Há!

Aqueles telefonemas escondidos, aquelas idas fora de hora ao mercado, à farmácia, sei lá mais onde. No emprego não atendia mais o telefone. Era isso, contratar um detetive era o que se tinha que fazer. Problema resolvido, conciliou o sono, finalmente. Dia seguinte acordou depois das onze horas da manhã e foi direto aos classificados. Dois, três anúncios de detetive. Visitou os três e ficou chocado com o preço e com o jeitão dos secretas: ensebados, cheirando mal, pobres coitados que não entrariam em segredo num lugar melhorzinho. Os três tinham escritórios no mesmo prédio velho no Centro. Aborrecido, desceu as escadas e foi tomar um cafezinho no botequim do saguão. Um rapaz magro, bem vestido, se encostou nele e falou, baixo, “que se era detetive o que procurava, tinha encontrado”. Parecia competente. O engraçado é que não falaram em preço, nenhum endereço foi dado. Vagamente falou do problema que tinha com Beatriz. Depois conversaram sobre outras coisas, pagou o café e saiu, sem saber se tinha contratado o camarada ou não.

Naquela noite pegou no sono surpreendentemente cedo, e sonhou: a janela do quarto entreaberta e o detetive espiando os dois na cama. Mal sinal. Acordou todo amarfanhado, muito tarde, sentindo-se terrivelmente sozinho na casa. Teve saudades de Beatriz, e passou a tarde toda sem fazer nada, nada mesmo, só pensando. Foi quando ela chegou, quase noitinha, estava bonita e ele sentiu que gostava dela, mas era muito. Gozado como, às vezes, a felicidade volta tão rápido pra gente...

Estavam ali, namorando, só de camiseta, quando alguém bateu à porta. Pelo olho mágico pôde ver que era o detetive, disfarçado, com uns envelopes que tinha apanhado na caixa de correio dos dois ainda agorinha, truque mais barato! Não querendo ser visto, pediu a Beatriz que falasse com o carteiro, (carteiro, pois sim!), e ficou meio escondido atrás das cortinas. A porta de entrada, já cá dentro, além do jardim, era de vidro e grade. Estando o vidro aberto, ainda tinha a proteção da grade. Foi por onde ela atendeu o homem. Pôde perceber quando o carteiro/detetive a viu pela primeira vez, os olhos dele brilhando de... de que mesmo? De luxúria. Brilhando de luxúria. O canalha ria e entregava as cartas, e desejava Beatriz, e olhava de lado, para ele, atrás da cortina, e por um momento ele soube que Beatriz esticaria os braços por entre as grades, e amaria o canalha daquele jeito esquisito.

Mas esse momento não houve. Foi-se embora o detetive, e ele gostou dela mais do que nunca, tão feliz por ela ser agora como era, a fidelíssima. Porque o homem quer ser traído a todo instante, atormenta-se e faz a dor ficar insuportável, até poder descobrir que aquilo não passou de um sonho, e que a realidade é tão boa. Pobres seres masoquistas é o que somos nós.

Tem pesadelo que passa quando a gente acorda, outros não. Resolvido a trabalhar, depois de dias sem disposição para nada, viu que o detetive o seguia. Contratado para ir atrás de Beatriz, agora era a ele que o estúpido seguia. Mas como era possível, se estava de carro e o detetive a pé? Teve certeza de vê-lo cruzando a rua, e parado esperando o farol abrir, mais adiante. Depois disfarçado de empregado de farmácia.

Batata! Naquela noite dormiu mal de novo. Tinha visto muito isso no cinema: esses tipos obsessivos perseguem a gente querendo matar, e só param quando nós os matamos. E quando pensamos que eles já se foram desse mundo, pulam em nosso pescoço dando um susto, só pra morrer mais uma vez, de modo espetacular. Mundo injusto esse em que vivemos. Era feliz de novo com Beatriz, que agora era fidelíssima, mas tinha nas mãos esse problemão pra resolver.

E resolveu: No outro dia foi trabalhar, só que armado.





Francisco José de Lacerda

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