Nós, os paulistas, gostamos de contar algumas estórias sobre os mineiros, até porque Minas Gerais nasceu no meu Vale do Paraíba, de onde partiram os tri-tataravós dos que hoje habitam as plagas das gerais.
Entonces, durante a Revolução de 32, tinha um mineirinho andando, pitando seu cigarrinho de páia, por um daqueles grotões perdidos, em meio à Serra da Mantiqueira, que separa Minas de São Paulo.
Deu de frente com uma tropa de soldados, baionetas caladas em riste!
Apertaram o mineirinho contra o tronco de uma árvore:
-- Mineiro ou Paulista?
O mineirinho não mentiu:
-- Mineiru´uái.
Eram soldados paulistas. Pegaram o mineiro, deram-lhe uma surra daquelas e, depois de tirarem-lhe a roupa, penduraram-no no alto de uma gameleira, amarrado de corda.
Lá ficou o mineirinho, nu, balançando, cigarro de páia pendurado no canto da boca, de ponta cabeça.
Passou outro bando de soldados.
Olharam prá cima, viram o mineirinho pendurado, e lascaram, de novo, a terrível questão:
-- Mineiro ou paulista???
O mineiro raciocinou: disse que era mineiro, falou a verdade, levou piaba!
Melhor contar uma mentirinha:
-- Sô paulista, genti! Mi tira daqui!
Pronto! Deu azar! Era uma tropa de soldados mineiros.
Desceram o mineirinho da gameleira, deram-lhe outra surra, passaram sal e limão nos vergões, e suspenderam o coitado de novo, corda deslizando sobre o galho curvado da árvore.
Não deu dez minutos, o mineirinho pendurado de cabeça para baixo, passou um terceiro batalhão:
Pararam. Olharam prá cima e, lá veio a fatídica pergunta outra vez:
-- Mineiro ou paulista?
O mineiro pensou um pouco mais, olhou bem a soldadesca e lascou uma resposta digna da melhor estirpe de mineiros que hoje habita os corredores do Congresso Nacional:
-- Num tá veno que eu sô só uma fruitinha madura, uái?
Mário Galvão é jornalista e profissional de RP.
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