Usina de Letras
Usina de Letras
15 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62287 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10389)

Erótico (13574)

Frases (50677)

Humor (20040)

Infantil (5459)

Infanto Juvenil (4781)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140819)

Redação (3310)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6211)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->RESPOSTA AO AMIGO POETA FERNANDO T. MENEZES -- 21/11/2002 - 15:05 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
RESPOSTA AO AMIGO POETA FERNANDO T. MENEZES

Querido Fernando.

Desculpe a demora em responder. Estava às voltas com minha inspiração que de repente perdeu o freio e me tomou de assalto...

Você fala de seu desejo: "sumir, ficar comigo mesmo", no Natal. Não consegue e acaba "envolvido com toda a parafernália de pacotes, vinhos, decorações, cinismos e diplomacias vis". Rio só de pensar em você, sério e respeitável escritor, envolvido com decoração, cinismo, diplomacia vil... O quê? Onde estamos? Dê o grito de independência! Eu dei. Comecei com a família, expliquei que queria estar com ela quando e porque gosto, não por obrigação. Dei a me conhecer aos amigos verdadeiros de tal forma que nenhum deles espera de mim um presente ou mesmo um simples cartão. E até, alguns, insistem em me trazer mimos de Natal, mas sabem que essa data nada significa para mim. Já o Ano Novo diz alguma coisa, ao menos reforça uma esperança teimosa... Não gosto de ficar sozinha, mas tenho que ficar. Todos os anos prometo a mim mesma que no próximo não estarei sozinha. Este ano, certamente vou prometer de novo... Há três anos eu passo num chat, na Net. Sempre há solitários por ali. Animo o pessoal, fantasio champanhe, nos cumprimentamos, até refletimos um pouco sobre nossa solidão comum e pensamos em pessoas tão solitárias como nós que nem um micro têm. Depois da meia-noite, a maior parte vai para os reservados. O que acontece nos reservados dos outros, não sei, mas sei que no meu, em geral é a continuação da reflexão. Sempre saio bem dali.

Há muitos anos, resolvi ir passar a meia-noite num bar da pesada, era a única mulher entre bêbados atrevidos e bichas deslumbradas. Quando os atrevidos começaram a ficar inconvenientes, acompanhei um bicha que distribuía margaridas a todos os presentes, gesto que achei encantador. Acabamos sentados num banco de praça, uma conversa animada que se estendeu até duas da madrugada. Essas experiências sempre me fizeram bem e me mostraram que fiz a opção certa, ao menos por coerência.

"Comecei a fazer um poema para você e deixei-o de lado por pura distração com outros assuntos e mensagens diversas." Então você fazia um poema para mim e deixou de lado por distração e interesses outros? Mas isto é imperdoável... Que interesses você pode ter que sejam mais importantes que um poema pra mim?... Se eu tivesse agora um palavrão novo que fosse digno de você, diria sem pestanejar... Ainda tenho que inventá-lo...

Você gostou de meus comentários sobre seu poema "Noites de cios" e confessa que mais uma vez fingiu com as palavras e me iludiu... É, e eu sempre caio. Meu consolo é saber que muita gente, tonta como eu, pensou em você triste, amargurado, abandonado, solitário e insone... pobrezinho!... às voltas com desejos nunca satisfeitos... Um dia, você acorda e tem uma fila de moçoilas casadoiras em sua porta, prontas a consolar o pobre escritor solitário... Elas são muito caridosas e estão sempre protegendo os maiores abandonados... Então me sentirei vingada!

O terceto "Vôos rasantes / de incontrolados cios / que ferem minh alma também" é maravilhoso: um cio que fere a alma! Você pode até não ter gostado, mas eu adorei. Ele me fez pensar no uno que somos, indivisíveis, inteiros. E na responsabilidade que isso implica em nossa busca incansável do amor e do prazer, ambos tão inseparáveis como nós. É profundo demais. Acho que nele você acabou por mostrar o princípio e o fim do cio dentro do próprio indivíduo e não um simples tesão.

O trecho final de sua carta me encanta, me atrai e me confunde. Tento esmiuçar, traduzir... Esse fazer poesia "utilizando a palavra para mostrar a complexidade da alma, assumindo papéis" (poeta, o fingidor!), dramatizando os momentos simples da vida é que me prende em seu trabalho.

E você tão bem entende, meu amigo, a lucidez da loucura que transmito e que, apesar da fonte riquíssima que você próprio é, busca alento em me lendo, esmiuçando minhas palavras simples, arrancando significados dos quais nem eu mesma chego a ter plena consciência. Não imagina o quanto isso me torna orgulhosa, pelo respeito que lhe tenho como escritor e como ser humano. Não, não falo de um orgulho que cheira a vaidade, que isso já não tem lugar em mim, não nesta altura da vida, depois de tanto caminhar, tropeçar, cair e levantar. Falo justamente da identificação que também sinto e da maravilha de sabermos aprender uns com os outros, não importam nossos tamanhos. Falo da nossa ânsia de crescimento e da coragem que temos de ser livres. Falo da nossa capacidade de partilhar de forma doce e gentil o amor que é mais amor em forma de poesia.

Entre as respostas que estou lhe devendo, deixo aqui a explicação sobre solidão. Eu sempre transei muito bem a solidão. Muitas vezes tinha e tenho necessidade dela. Aos poucos, foi ficando diferente. Fácil explicar: fui ficando cada vez mais só. Passo semanas sem ver ninguém. Chego a ficar com a voz rouca, por falta de falar. O telefone toca pouco. A única companhia mesmo é meu cachorro, que não fala, mas sabe ouvir. E o pobre ouve pra valer... Essa é minha realidade. É solidão pra ninguém botar defeito. E ela é tão sufocante que muitas vezes sufoca até a inspiração. Deu para entender? Não é a solidão em si, mas sua enormidade, para dizer melhor.

Obrigada pelas suas palavras sobre meu trabalho, por entender tão bem o que tento transmitir. Concentre-se no seu vinho tinto... descubra as palavras soltas para montar o quebra-cabeças para o Sal da Terra que nos promete. Estamos - eu e nossos leitores - ansiosos pelo resultado...

Meu beijo comovido.


Sal

13/12/2001

Fale com o Autor




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui