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Contos-->Entre confetes e serpentinas -- 26/01/2003 - 01:55 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como dançarino sou um exímio lateral esquerdo. Não sei, não gosto e tenho
vergonha de dançar. Desde adolescente sou freqüentador de bailes por imposição
de alguém. Ora dos amigos, ora da mãe (que me fez comparecer aos bailes
de formatura das minhas primas ricas), de quem quer que seja. Só no carnaval
consigo me sentir um pouco mais à vontade. Deve ser por causa das máscaras
e fantasias e porque o passo é simples, desde que não se queira requebrar
em algum desses sambódromos espalhados pelas cidades do Gigante Adormecido.
Sinto-me bem naqueles bailes de carnaval mais tradicionais, onde a nudez
pode ser eventualmente castigada. Minha barriga e meu requebrado seriam
motivo de piada caso eu me atrevesse a dar uns passos pela Sapucaí, com
o abdome à mostra, tentando imitar a Globeleza. Dizem que todo mundo tem
uma história de carnaval para contar. Eu não tinha uma até o último ano,
mas na vida sempre acontecem coisas imprevisíveis, sabe como é...

- Aposto que você é o Ricardinho Pintado, né não?

Fosse há algum tempo eu mandaria a cidadã que me fez a pergunta para qualquer
lugar desprezível, desde o inferno até a mansão da Casa dos Artistas. Mas
já não sou mais de me importar com os apelidos que deram ao longo desses
insossos quarenta anos. Chamavam-me de Pintado porque ? eureka! ? sou sardento
dos pés à cabeça. E o pior: imagino que para isso não haja cura, ao contrário
de tantos outros recursos plásticos que fazem aumentar ou diminuir ou embelezar
certas partes do corpo. Mesmo que haja solução, não tenho grana para melhorar
sequer a estética da unha do pé.

- Não tá lembrada de mim, Pintado? Vanessa, do São Judas. Como você está
lindo!...

Vanessa era daquelas jovens que metade dos garotos era apaixonado; a outra
grande parte se fingia de desinteressada porque sabia que não tinha chance;
os rapazes que restavam ? pelo menos fiquei sabendo com o tempo ? tiveram
outra opção sexual (mesmo assim admiravam suas unhas sempre bem-feitas e
o andar onipotente da garota mais cobiçada do São Judas). E de repente ela
ali, entre confetes e serpentinas, lembrando do meu nome e abrindo aquele
sorriso absolutamente perfeito, para inveja geral da minha turma de escola
presente. Não é preciso ser muito esperto para adivinhar que Vanessa foi
a minha grande paixão da adolescência. Preservava quase tudo perfeito. Digo
quase tudo pelo fato de Vanessa estar devidamente vestida, sem deixar que
alguém mais afoito se interessasse pelas partes mais íntimas. No colégio
ela tinha falado comigo uma só vez. Não tinha feito o trabalho de História
e sabia que eu era o queridinho da professora Marlene. Pediu-me para colocá-la
em seu grupo. Em troca, deu-me um minguado beijo na testa. Fazer o quê?


Batemos um longo papo durante o baile de carnaval. Vanessa até me convenceu
a fazer algo além de movimentar o dedo indicador de ambas as mãos para cima
e para baixo. Arrisquei uns passos, depois de algumas biritas na cabeça
e de uma convulsão incontrolável de beijar a deusa do colegial. Sugeri levá-la
para casa.

- Se não se importar, Pintado...

Até aquele momento quase tudo era perfeito. A não ser a insistência de Vanessa
me chamar de Pintado, mas concluí que, depois de tantos anos, aquilo era
o de menos. Paguei a conta, pedi licença para ir ao toalete (homens quando
querem galantear vão ao toalete e não ao banheiro ou dar uma mijada, porque
pega muito mal), penteei os cabelos tentando esconder alguns fios brancos
insistentes e me dirigi à saída, onde tinha combinado de me reencontrar
com Vanessa. A noite prometia. Eu resgataria décadas de frustração por não
ter namorado Vanessinha.

- Surpresa!!!!....

Irineu, Caolho, Jeremias, Fedão, Biriba, Beto Bala, Salgadinho, Irene...
Todos eles me esperando na saída do salão. Contrataram Vanessa ? que se
tornara animadora de festa por falta de outra ocupação ? para me aplicar
o golpe. Nunca meu aniversário tinha coincidido com o sábado de carnaval.
Maldita festa pagã!
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