O QUE É A FILOSOFIA?

João Ferreira

Para os estudantes  e adeptos da pesquisa filosófica, torna-se imprescindível encontrar um ponto de partida para que o estudo ganhe interesse e determinação.

O ponto de partida que parece imprescindível é conhecer de antemão a natureza da filosofia e o caminho a ser percorrido pelos seus cultores para a ela se dedicarem com satisfação e proveito.

A porta de entrada da iniciação à filosofia costuma ser dada pelas Introduções e Iniciações à filosofia, podendo em casos mais raros, haver um caminho de iniciação em leituras por quem vem cultivando o gosto e a curiosidade nos arraiais da filosofia.

Entre os famosos textos de introdução que os profissionais aconselham a ler, para se ter uma noção da natureza e dos caminhos da filosofia, está o Was ist das - die Philosophie [ “O que é isto – a Filosofia¿”] do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976),discípulo da Edmundo Husserl, fundador da Fenomenologia, outrora professor da Universidade de Freiburg im Brisgau, na Alemanha e autor do conhecido livro Sein und Zeit (Ser e Tempo) e de outras obras importantes escritas sob a ótica da fenomenologia.

O texto Was ist das – die Philosphie- é um pequeno escrito de 19 páginas (na tradução em português) que resultou de uma conferência proferida pelo filósofo alemão  em Cerisy-la-Salle, na Normandia, em agosto de 1955 e que foi publicada pela primeira vez em 1956.

O texto foi traduzido para língua portuguesa e publicado em co-edição pela Livraria Duas Cidades | Editora Vozes de Petrópolis em 2006.

Concretamente Heidegger nesta exposição percorre um caminho experimental, fenomenológico, buscando através de perguntas a própria resposta.

O que é filosofia, qual o caminho da filosofia,  a característica grega, europeia e ocidental da filosofia e o caminho para o encontro com a essência da filosofia,a qual, segundo Aristóteles na Metafísica, “é a procura do que é o ente enquanto é”, são pontos importantes no questionamento de Heidegger. Mais detalhadamente, “o ser do ente que consiste na entidade ou em ser o que é". A entidade ou o ser do ente, porém, substancialmente,  é determinada por Platão como “idea” e como “enérgeia” por Aristóteles.

Filosofia é, ao mesmo tempo, uma epistéme. Não no sentido moderno de ciência, mas episteme no sentido original da palavra grega, que significa uma competência com “olhar capaz de theorein ou seja, de olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta, que são, mais concretamente, as primeiras razões e causas, que constituem o ser do ente”(Ib.24).

A proximidade com as coisas gera, segundo os filósofos,  um sentimento de inquietude, uma disposição para dialogar com as “razões primeiras  e causas”. 

No contato e no circuito experiencial por entre as coisas, o filósofo sente de perto a razão filosófica se acercar dele, quando é atingido pelo espanto, chamado de thaumázein pelos gregos (Platão no diálogo Teeteto e Aristóteles na Metafísica) e de Erstaunen pelos alemães. Tão importante é o espanto no despertar do questionamento filosófico que Heidegger diz que “o espanto é, enquanto páthos, a arché da filosofia”.

A filosofia terá de percorrer o caminho da observação e da detecção do “estar sendo” ou  “do sendo do ser”, competindo-lhe traduzir essa observação ou descoberta em linguagem que diga ao leitor o que o filósofo encontrou em sua experiência no caminho de pesquisa e de busca.

Já no final do texto, Heidegger diz que é na base da experiência que sabemos de que modo é a filosofia:

“Que é isto – a filosofia¿”

Somente aprendemos a conhecer e a saber quando experimentamos de que modo a filosofia é.

 Ela é ao modo da correspondência que se harmoniza e põe de acordo com a voz do ser do ente.” (Ib.32).

HEIDEGGER, Martin. Que é isto – a Filosofia. Trad. Em português. São Paulo|Petrópolis 2006, pp. 5-34.