Desfolhada aurora
Cristina Pires
01/04/03
As pedras da calçada já estão gastas,
Pelo olhar cansado...fixo no infinito.
Repousa agora nas videiras castas,
Ressequidas pelos raios do sol maldito.
E, por entre velhos vitrais agraciados,
Salienta-se um quadro renascentista.
Lágrimas de amores antepassados,
Entoam em pinceladas de um artista.
Gotas de orvalho gélidas e matinais,
Que alindam singelamente uma rosa.
Salpicada de poesia, bebo os madrigais,
Enquanto lavo no rio, a alma penosa.
A madrugada aconchega-se no meu peito,
Envolvida pela noite marinheira.
Reaparece dentro de mim o despeito...
E deita-se, devagar, à minha beira.
Por um ápice...momentos de candura,
Morreram nos meus olhos, quando não te vi.
Vagueei sem fado pelas ruas da amargura...
Sangrei prantos, nas pedras em que te perdi.
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