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Contos-->A Satânica Úrsula -- 28/01/2003 - 16:30 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Satânica Úrsula


Úrsula nasceu no lugar mais quente que existe na Terra.
No primeiro dia ela decidiu ir à escola, pois tinha 100 anos e precisava ser uma moça inteligente. Lá conheceu, entre elas, a garota que a atraiu particularmente – Lívia. Ela fez amizade com Lívia e no mesmo dia se tornaram amigas.
Nesta noite, Úrsula se sentiu satisfeita e foi se encontrar com seu pai. Eles caminharam juntos e ele lhe disse uma porção de coisas que lhe interessavam.
No segundo dia Úrsula voltou à escola e reencontrou sua amiga. Elas ficaram juntas no intervalo e, em certo momento, Úrsula notou que Lívia estava distraída e observava um rapaz de sua idade, de outra sala.
Úrsula perguntou se Lívia tinha gostado dele. Lívia disse que sim. Úrsula perguntou se Lívia gostaria de ter o rapaz como namorado, e Lívia disse “sim”. Úrsula perguntou se Lívia queria que ela fosse falar com o rapaz naquele exato momento a fim de ajudar Lívia a conquistá-lo. Lívia pensou por longos cinco segundos e então disse que sim.
Úrsula andou até ele, se apresentou e perguntou seu nome. Era Vicente. Perguntou a ele o que ele achava de sua amiga. E disse que ela havia gostado dele. Vicente ponderou, e declarou, desinteressado, que já tinha namorada. Úrsula não demonstrou nenhum sinal de surpresa, e girou os pés no chão, divertida, enquanto brincava com os cabelos pretos e muito finos.
Úrsula olhou bem nos olhos de Vicente. Ele prestou atenção. Úrsula disse a ele tudo sobre Lívia e sobre como ela era uma ótima garota. Vicente pareceu somente agora perceber a presença de Úrsula e seus verdes olhos oblíquos. Os olhos cresceram e Vicente disse que queria conhecer Lívia.
No final das aulas Lívia tinha um namorado. Ela queria agradecer à amiga dando-lhe alguma coisa, mas Úrsula disse que sua amizade pagava qualquer favor. Lívia jurou fidelidade eterna à amiga.
Nesta noite Úrsula se encontrou com o pai e o pai alisou seus cabelos. Úrsula passou a mão na barba dele carinhosamente. Então eles decidiram fazer alguns exercícios, e foram até a piscina dele. Era grande e funda. A água era quente. Eles tiraram as roupas e nadaram juntos. Apostaram corridas a nado, e o pai ganhou todas.
No final eles se sentaram na beirada e ele disse à filha que a maior vitória para um professor era ser derrotado por seu aluno. Úrsula pensou no que o pai disse ate a hora de dormir.
No terceiro dia todos estavam felizes. Lívia e Vicente não se separavam por nada, eram almas gêmeas. Úrsula gostava muito dos dois, e permanecia por perto garantindo a paz do casal. À tarde Vicente foi à casa de Lívia e os três dançaram músicas românticas ao som da vitrola. Cansados, no fim do dia se despediram e Úrsula disse a eles que pareciam dois pombos quando juntos.
- Ou dois anjos – emendou Vicente, vaidoso.
- Exatamente – concordou Úrsula, sabida, e foram embora.
À noite o pai de Úrsula esperava por ela sentado em sua poltrona. Quando viu a filha, pegou sua mão e beijou-lhe a face quentemente.
Depois, Úrsula ganhou de seu pai um vestido maravilhoso, caro, e longo, para ser usado em ocasiões especiais.
Ela beijou o rosto do pai e este sorriu para ela.
Depois pai e filha foram tomar sol e experimentar um aperitivo que o pai trouxera – era uma espécie de tempero, ou farinha, muito branca, para ser acompanhada pelos chás que o pai dela preparava.
Úrsula se sentiu muito bem e alegre.
No quarto dia eles foram à escola. Lívia tinha alguns testes para fazer, e Úrsula encontrou Vicente no pátio, pensativo e com uma folha nas mãos.
Ela se aproximou do amigo, cumprimentou e perguntou o que ele estava lendo.
Vicente pareceu muito hesitante, e não se sentiu confiante para lhe dizer. Mas Úrsula olhou-o com um jeito especial, penetrante, que o deixou mais à vontade e relaxado. Resolveu falar.
Ele mostrou a folha à amiga, e era uma carta enviada por uma garota. E Úrsula logo se lembrou de que Vicente realmente tinha-lhe dito, no dia que se conheceram, que ele já tinha namorada. Úrsula se mostrou muito compreensiva. Notou que o amigo estava pensativo, distante e talvez indeciso. E lhe deu um valioso conselho.
- Esqueça esta menina, Vicente.
- Você está certa.
- É difícil, mas a Lívia merece sua fidelidade.
Eles concordaram. Úrsula pegou a carta, dobrou e pôs no bolso, e Vicente prometeu que esqueceria a garota.
Mais tarde, Vicente e Lívia ficaram juntos, mais felizes do que nunca.
Úrsula leu a carta por curiosidade e em seguida amassou e queimou-a ao chegar em casa.
Nesta noite o pai de Úrsula beijou sua face e leu algumas histórias para ela, antes de dormirem. Uma delas era de um livro muito antigo da biblioteca de seu pai, e era sobre um sujeito chamado Ekalb Llib, um árabe. A historia falava de bondade e amizade. Depois Úrsula lembrou-se de algo, foi até a cômoda e pegou um lápis. Seu pai perguntou o que ela ia fazer. Ela disse que precisava anotar um telefone de um colega da escola, antes que esquecesse. Anotou e dormiu tranqüila.
No quinto dia haveria uma festa na casa de Lívia. Uma grande festa. Todos os amigos estariam lá, no salão alugado especialmente para a festa.
À tarde Úrsula deu presentes aos amigos. Deu um magnífico colar de pérolas para Lívia e um lindo relógio para Vicente. Os amigos agradeceram muito, e elogiaram a generosidade de Úrsula. Esta apenas sorriu, contente.
À noite era hora da festa. Todos compareceram, em seus belos vestidos e fraques. Haveria um grande jantar, as valsas e uma ode à anfitriã, Lívia.
Durante o jantar, numa das mesas, Vicente e Lívia tinham uma ótima notícia para dar a Úrsula. Contaram que se casariam em duas semanas. Estava na hora, afinal Vicente já completara 700 anos. Úrsula os parabenizou muito.
Todos dançaram valsa. Durante a dança, havia uma garota na festa que não dançava, e estava sozinha. Parecia irritada com algo. Ela esteve olhando Vicente e Lívia a noite toda. Uma hora aproximou-se do casal, quando estes dançavam.
- Eu não acredito, Vicente. Eu não acredito.
Todos pararam. A garota gritava, brigava, dizia uma porção de ofensas a Vicente e a Lívia. Todos na festa pararam, assustados. A garota ia causar algum estrago no casal, mas foi contida a tempo por um grupo de rapazes, amigos de Vicente. Este, não dizia nada. Seu rosto estava branco, pasmo, assustado. Lívia não entendeu nada.
Úrsula foi falar com a garota em um canto, mais tarde. Ninguém sabe ao certo o que conversaram, mas depois disso as duas foram para uma sala ao lado do salão de festas. Demoraram ali muitas horas. No final da noite, Úrsula se juntou novamente ao casal de amigos, que agora estava separado, em diferentes partes do salão. Tristes. Ela foi falar com Vicente. Ele chorava.
- Era minha antiga namorada. Como é que ela entrou na festa? Não a convidamos!
Úrsula passou a mão nos cabelos loiros de Vicente, consolando-o.
Os dois passaram as horas seguintes juntos, na festa. Souberam, no final, que Lívia morreu de desgosto.
No sexto dia Úrsula pegou o papel onde tinha anotado aquele número, no outro dia, e o queimou também. Queimou o telefone de Sabrina, a antiga namorada de Vicente.
Sabrina visitou Úrsula para agradecer o apoio que ela tinha-lhe dado. Estava triste. Vicente mais tarde apareceu também, e os três foram muito carinhosos uns com os outros, durante o dia todo.
À noite o pai de Úrsula ouviu tudo o que a filha tinha feito em sua primeira semana de vida, com muito orgulho. E chorou de emoção.
Úrsula mergulhou num recanto de orquídeas negras e esfregou seu corpo quente rosado pelos perfumes belos e quentes das flores, para seu relaxamento. Nua, ela tomava seu banho e lavava os negros cabelos, e seu pai, deitado no canapé ao lado, disse-lhe as últimas palavras.
- Minha filha. Desfaleço satisfeito de te ver. Tenho a certeza de ter cumprido a minha tarefa para com minha criação. Desejo prosperidade a ti, que agora recebe a herança e o lugar que este seu pai ocupava aqui. Morro agora.
Minutos depois, um chamuscado preto com cheiro de enxofre ainda jazia sobre o canapé.
Aquele era o melhor dia da vida de Úrsula. Ocuparia o lugar de seu pai, após ter feito sexo com ele e o matado, como era costume.
E no sétimo dia, Úrsula descansou.





“Olha este terrível tormento tu, que, embora vivo, estás contemplando os mortos (...) Eu, à semelhança de Aquitodel, com as suas perversas instigações a Absalão contra Davi, instiguei a inimizade entre pai e filho. Porque separei pessoas tão unidas, triste de mim, também separado o meu cérebro do seu princípio, que existe neste corpo mutilado (...).”

Dante Alighieri, A Divina Comédia




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