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Contos-->O vagabundo da noite e as decepções dos mais vendidos -- 28/01/2003 - 16:32 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Vagabundo Da Noite E As Decepções Da Lista Dos Mais Vendidos

I

Eu me sento numa das mesas e Blake, o Maldito, está perscrutando em redor de si o movimento que lhe chega sempre lento ao SNC, porque agora, nesta hora, já não se faz vazio de absinto o roto corpo e a podre alma daqueles que, com certeza, não estavam lá para comer pizza.
Inequivocadamente, o maldito sorri quando nossos olhares se encontram, e ele está, sim, sentado na mesma mesa que a minha vomitada pessoa.
Qual não foi a minha inusitada e duradoura chacoalhaça ao ver que o mesmo dizia e dizia a mim, não lhe conto, pois, mas, sim, e aqui está, o que ele me disse.
- Olá, boa noite, mas não tão boa assim, se me permite, porque, embora saiba eu que lá fora farfalham suas negras asas os pombos noturnos ante a praça e a capela, quadro magnífico sob a lua que fulmina, dir-me-ão meus sentidos os quais sei que os possuo em demasia que, ao que tudo indica, és tu um dos tantos bardos, ou, poetas, que, na casaca escura e empoeirada, e sob a névoa cinza destas ruas se ampara em versos fracos e vazios sobre o nada e sobre o tudo, pois não tem o que deseja mais ter na vida, muitas vezes, por que não, a beleza da donzela...
Ao que eu, douradamente arrepiado, balbuciei:
- Mas como é que tu podes adivinhar assim, de suposição mera, o que se passa dentro de minha cabeça, a não ser que, por obséquio, não sei, talvez já nos hemos falado antes.
O puto riu-se até se engasgar, até começar por babar o vinho que já não conseguia mais ingerir.
- Bem, não é adivinhação coisa nenhuma, bardo, mas sim a pura lógica que se engendra nos caminhos mais longínquos e enredados de minha massa. A cinzenta, é claro.
- Pois que, por Zeus, eu, de cá, estou tomado de insegurança agora que vi diante de minha íris, ou penso que vi, o próprio Blake maldizer, ou, até, gozar e rir-se da própria essência do que sempre acreditei ser tu, com certeza, e é que é... a poesia. Herege!
- Herege! Procure manter-se bem informado antes de simplesmente supor, seu maltrapilho, pois o que sua tuberculosa cabeça não compreendeu ainda é que agora eu, o Blake, não mais sou das poesias e as considero além do mais nada mais do que suco de laranja... eh! Eh, mulher! Trá-me-nos-tu-já mais bebida, as jarras se encontram secas, diacho.
Deu neste momento um pulo até o telhado e voltei, com meia dúzia de ninhos de pardal no cabelo, ao que depois retruquei:
- Como! O Maldito jamais pensaria de tal forma, subestimando a arte dos poemas e tratando tudo assim, de forma tão crua e fria como fazes... prova-me-te-lo-ia-now que és o tal!...
Ele nada arrematou, no entanto retirou um documento do sobretudo e me entregou, enquanto virava o jarro de barro goela adentro. Era o RG do tal e, pelo Minotauro, sim, constatei... era ele! Porém o daguerreótipo que se achava colado ali na identidade trazia o amigo de cabelos raspados à moda de Dalai Lama, por isso perguntei.
- É que o daguerreótipo data de quando eu-menino me alistei.
- E pegou?
- Não.
- Por que?
- Tenho pé chato.



II

Pedimos bebidas e proseamos. Afinal ia eu me habituando com a idéia non-sense de que o ex-poeta-gênio que tanto me inspirara agora me dava náuseas, tendo há alguns anos se convertido ao vodu, quando esteve no Haiti em férias. Nestes dias ministra cursos de Corel Draw na S.O.S. Computadores e também pratica o Reiki, seja lá o que isso significa. Ele me falou sobre como a poesia era algo vago e sem utilidade, tendo sido para muitos, durante séculos, nada mais que uma ilusão ou uma mentira, uma fuga da infeliz realidade que, além do mais, usualmente era mal feita e “melosa” demais. Pisou em cima do Romantismo e cuspiu sobre o movimento gótico, posto que agora ele era “cool”.
Então notei, só neste momento, que na cadeira ao lado dele estava a cabeça decapitada de Cinderella, ainda escorrendo sangue, e estranhei. Ele disse:
- Ela veio aqui hoje, essa vaca, procurando uma porcaria dum sapato.
- Como assim?! O de cristal?!
- Sim. Aí enganei ela. Falei pra ela entrar naquela porta lá em cima, aquela fechada.
- E ela foi? O que tem lá dentro?
- É o quarto do Casanova! Hahahahaha! – ele ficou rindo durante 49 segundos – Depois ela saiu de lá só de combinação, descabelada, e eu a matei.
- Por que fez isso?!
- A idiota conseguiu perder os dois sapatos! Pode uma dessas? Deixou o outro com o Casanova!
- ...



III

Em seguida vi que estava bem “drunk”, e me levantei disposto a ir embora. Ele perguntou se eu também era fã do Yes, como ele, mas eu disse que não porque não estava mais a fim de conversa com ele, então pedi um autógrafo e me fui. Logo pensei com meus botões, olhando o autógrafo:
- Legal, posso trocar por dois do Rod Stewart!


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