Découpage
Uma tênue essência tua
sobrepõe-se à minha pele
envolvendo-me as partes nuas.
Camada a camada,
a matéria acomodada, estende-se
por minhas estalagens,
adulterando a paisagem.
Culmina, besuntando-se da resina
que de minha boca escoa.
Esta escama que aplicaste
- sobrepele que de mim destoa -
é a roupagem que ora me veste.
Esta colagem que me forra
- e que a mim se adere -
é minha segunda pele:
tua imagem decomposta.
Sob a casca esconde-se
o que nos funde,
o que nos alastra,
o que nos une,
o que nos afasta.
Sobre a derme processada,
o passado dormente:
estampado,
estagnado,
embalado no presente.
Valéria Tarelho
08/04/2003
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