Teus olhos vítreos
navalham o fio de luz
que te quer cego.
Traças teu rastro,
caminho de maresia,
peixe-morto que és,
espantando
ou, pelo menos, retardando,
os apelos de quem
te quer prisioneiro
com direito a suíte com ar-condicionado.
Te vestes de azul
para dançar com os beija-flores
e acabas tropeçando num passo novo
displicente
quase perigoso.
És um daqueles
que trazem nós nos cabelos
trançados com fiapos de esperanças
- ainda que remotas.
Pairas raso e rasteiro
por sobre porteiras
cercaduras
estradas de poeira
folhas decepadas dos talos.
Te impedes
te calas
na boca da catraca.
Te bloqueias,
esperneias,
e lá se vão os devaneios
absolutamente indispensáveis.
Rompes,
destrinchas
acasos milagres.
Não falas – és mudo?
Pretendes
e sonhas
ser retrato.
Solitária tentativa de preencher vazios. |