19 usuários online |
| |
|
Poesias-->Correndo ao longo do orvalho -- 09/04/2003 - 09:55 (joão manuel vilela rasteiro) |
|
|
| |
Continua a existir um homem que corre
e se interroga ao longo do orvalho.
Corre com os pés nas manhãs
como alguém de quem é corpo
de rosas e tamaras que se distendem
no brilho do orvalho, da terra, do corpo
da terra.
Não é a morte que a flecha procura.
É perfeito o movimento entre arco e flecha
invisível
à face da luz dos mortos ou da luz dos vivos.
E há menos tempo que lugar.
Sempre pelo orvalho correndo
o suor no corpo, sob o sol da manhã
rompendo o coração de muitas palavras inteiras.
*
São feitas de morte as palavras da vida
que os dedos em fogo ateiam
sobre o orvalho,
o saber da língua invadindo o corpo inteiro
pé ante pé, subindo escadas e batendo à porta
na Primavera e no Inverno.
Como o corpo da terra abandonando-se
sob o pôr-de-sol
aos infinitos da carne e dos seios da água
loucos desvaneios como girassóis.
A seguir à noite fechada
a manhã aberta no orvalho brilhante
que renasce
entre o nó da vida e o nó da morte.
*
E todos os corpos em suas diferentes naturezas
de movimento
onde distantes e doces paralelos se fundem
num mesmo ritmo geral e profundo.
Como as aves voltando a casa ao fim da tarde
no meio de tantas palavras
sob tantas palavras com uma flecha de fantasia
exprimindo só Amor.
O Amor da agonia da carne e das palavras.
Que todos os corpos bebem, pela manhã, pelo orvalho dentro.
Sorrindo.
in, inédito - 2003 |
|