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Contos-->AIDS, intrigas e fumaça de cigarro -- 29/01/2003 - 00:32 (William Henrique Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FINO GOMEZ, O DETETIVE LITORÂNEO

AIDS, INTRIGAS E FUMAÇA DE CIGARRO



Pela madrugada, as sublimes luzes da decadente e agitada Praia Grande brilhavam sobre animados quiosques da orla e animados e desvairados turistas em busca de diversão, sol e bronzeado, eufóricos por aproveitarem seus poucos dias de férias. O mês é Dezembro, a estação, o verão. O litoral paulista já não é mais o mesmo que foi nos anos 80, a era de ouro das praias paulistas, hoje infestadas de lixo turista e fanáticos carnavalescos atirando bexigas cheias de água durante o Carnaval.
Na praia, casais se agarram na beira, surfistas organizam animados luais em volta da fogueira, e loucos bêbados vagam noite adentro. A polícia litorânea observa a tudo, metida em ridículas bermudas curtas por causa do calor.
Num dos mais agitados quiosques da avenida, o Bar Oni’s, encontra-se neste momento um sujeito curticeiro e cambaleante chega dançando mambo como um louco, falando com todos e cumprimentando todo mundo.
- E aí, Tony? Opa! Como vai, Gus? Oi, Kaká!
- Olha lá, o Fino chegou! – grita um dos boêmios da noite, animado.
O detetive Fino Gomez seria mais ou menos como uma mistura de Julio Iglesias com Clark Gable, mas com pinta de cafetão. Calças brancas, limpíssimas, sapatos italianos reluzentes, paletó igualmente branco e camisa florida aberta no peito. Seus poucos cabelos negros eram empapados para trás, seus olhos, negros e penetrantes, e, é claro, seu sex appeal: o fino bigodinho. Em seus trinta e sete anos, achava que ainda era um garanhão:
- E aí, broto? Que tal dar uma volta no meu Gordini? – perguntou ele a uma das garotas que se sentavam numa mesa do quiosque.
- Desinfeta, coroa.
Fino molhava a palma da mão com a língua e continuava sua caçada, na outra mesa:
- Ei, rapariga... vamos tomar uma água?
- Nossa, que bafo... o que você tomou, álcool zulu?
Tony Bancada, amigo de bar inseparável de Fino Gomez, chamou o amigo:
- Vem cá, Fino! Tá atrasado pro jogo de pôquer...
Tony Bancada era gordo, grande e forte. Peludo como Tony Ramos, suava muito nesta quente noite litorânea.
Nas mesas, as fumaças de cigarro se encontravam e as garrafas de bebida combinavam com as cartas de baralho e os cinzeiros espalhados. A música rolava solta, e Fino Gomez rebolava, entrando no jogo com toda a ginga.
- Ei, Gus – gritou Fino para o dono do quiosque, o alemão Gus Eattenpapper – Salta um martíni aí.
- Seu fígado vai pro saco qualquer dia – comentou Tony, se referindo ao vício incontrolável de Fino. O detetive era louco por bebida, e fumava o dia todo. Tinha hábitos boêmios e gostos sofisticados. Podia falar horas e horas sobre os grandes mestres do jazz. Dizem, pelas praias, que Fino tocava violoncelo numa banda de jazz, e que fez muito sucesso nos bares nos anos setenta. Mas é lenda.
- Fino, preciso falar com você – gemeu uma garota de seus dezoito anos, com olheiras, fungando. Seu nome era Samanta, e ela era amiga de Fino há anos. Era sua protegida. E estava grávida – Estou muito mal.
- Samanta, o que foi? – Fino se levantou, tragando o cigarro, e foi até a garota – Não chora, menina... vem cá, vamos conversar – disse ele, levando-a até o calçadão lotado.
- Eu não agüento mais. Todo mundo me olhando feio, me criticando... não quero ter este filho – disse Samanta.
- Não fale assim. Escute, Samanta, você pode contar comigo, e sabe disso. Lembra quando você veio me contar que estava grávida? E quando disse que não sabia quem era o pai?
- Lembro...
- Pois confie em mim então! Não fica pra baixo não! Levanta a cabeça e encara o mundo, garota. Você errou? Errou sim. Mas o ser humano erra, e pode reverter a situação. É só não perder o controle, e ter fé...
- Ai, Fino... – Samanta não agüentou, e começou a chorar no ombro de Fino Gomez. O detetive tinha tato, sabia tratar de assuntos atuais com adolescentes. A gravidez indesejada era algo muito freqüente nos dias de hoje. Fino levou Samanta ao quiosque, pagou-lhe um drinque, e o pessoal caiu na gandaia noite afora.
De manhã Fino Gomez não se agüentava em pé. Dores de cabeça, enjôo... ressaca violenta. Levantou-se, vestiu-se e foi até o posto policial, naquela ensolarada manhã.
Lá dentro, delinqüentes juvenis esperavam sua sentença, algemados, e surfistas traficantes de cannabis sativa encrencavam com os recrutas praieiros. Uma menina assustada se recuperava de um afogamento, salva por Gildo, o chefe dos salva-vidas.
- Ah, olha só quem está aqui! O detetive particular da Praia Grande, Fino Gomez! – gritou o tenente Wilson Heinz Potter, um dos policiais. Os outros eram seus puxa-sacos, e emendavam o que ele dizia:
- O que faz aqui, palhaço? Veio tomar aulas de investigação? – retrucou o recruta Fandango Praga Soares.
- O Gomez nunca vai aprender que aqui na praia, quem investiga e quem prende é a polícia, e não um bêbado que se diz detetive – disse o Tenente Manuel Pinto Zannete.
- Vai te catar, Manuel! Me chamaram aqui! – disse Fino Gomez, andando em meio aos tiras e os presos.
- O chefe quer falar com você, vai lá – disse-lhe Lourenço Félix Artur Samanta, o outro tira. Fino Gomez entrou no gabinete do Delegado Armando Arruda Antunes (mais conhecido como A.A.A.).
- Queria falar comigo?
- Quero sim! Senta aí, mano – Armando fumava um charuto – É o seguinte, Gomez. Tô ficando irado com tu, mermão. Tu tá tesourando os cara do distrito, tá sacando? Anda se intrometendo demais nos assuntos da polícia.
- Sou detetive particular. Tenho este direito – retrucou Fino, encarando o enfezado Delegado – E outra: esse seu pessoal é mais corrupto que os bandidos daqui! Recebem propina dos mané só pra não prender eles. E mais: confiscam a droga deles pra uso próprio! Pensa que nunca vi tira dando bola na areia?
- Bico calado, espertinho. E vê se te endireita. O recado tá dado.

À tarde, a praia estava lotada. Muitos aproveitavam para pegar onda, e outros para se bronzearem. Esta paz aparente foi subitamente interrompida por gritos eufóricos dos cidadãos.
- Peguem eles!
- Segura! Chama a polícia!
- Socorro!
Quatro indivíduos, trajados como surfistas, corriam a toda velocidade pela avenida, dentro dum jipe sem capota. Arruaceiros. Acabavam de assaltar o maior banco da região, o Credi-mar. Durante a operação, cinco civis foram feridos, e dois mortos. A polícia encontrava-se totalmente desamparada, dizendo que o grupo era rápido demais e já escapara. A cidade parou naquela tarde, aterrorizada com os jovens criminosos.
À noite, Gomez se divertia em seu quarto de hotel, onde morava junto com suas “amigas”. As prostitutas da cidade eram suas companhias, e cuidavam de levantar a moral do detetive.
Fino Gomez assistiu à reportagem do assalto no jornal, e confirmou sua suspeita: a polícia praieira era ignorante demais para lidar com o crime. E talvez ele, Gomez, precisasse de um pouco de ação também.

Ana Doriana, uma mulher fisicamente perfeita e vestida com muita elegância, estava extremamente aflita. Era sua Quarta consulta ao psiquiatra, e ela não achava uma solução para seu problema. Ao ser atendida, desta vez, desabafou tudo com o psiquiatra:
- Eu não agüento mais!
- Já conversamos sobre isso, lembra-se? – dizia o doutor, calmo.
- Preciso fazer a operação de mudança de sexo... sabe... o senhor não entende... ninguém entende! Sou um homem preso no corpo de uma mulher! Na minha cabeça sou um homem! Mas preciso desta operação para me libertar, entende? Para parar a produção de hormônios femininos.
- Eu entendo, Ana. Já atendi muitos pacientes com problemas iguais ao seu, e em crises psicológicas. Procure ter calma! O termo transexual parece-lhe muito forte?
- Transexual? É isso o que eu sou, doutor? – assustou-se Ana, nervosa.
- Sim, este é o termo certo.
- Eu pensei que eu fosse uma hermafrodita!
- Não, não. Não vamos misturar as coisas, certo? Hermafrodita é aquele que apresenta dos dois órgãos sexuais, geralmente os externos, ao mesmo tempo. E quando a pessoa tem um órgão feminino e pensa como um homem, ou vice-versa, como é o seu caso, é chamada de transexual.
- Ah, entendi.
- E a senhorita pensa em fazer a operação? – perguntou o doutor, interessado em assuntos sexuais.
- Claro. Mas não tenho dinheiro. Talvez eu consiga um dinheiro em breve. Sabe onde posso fazer a tal da operação?
- Vou te passar um cartão.

Faro Rizzo, o parceiro detetive de Fino Gomez, visitou o amigo em seu hotel.
- Fala, Faro. Alguma novidade? – Fino assistia TV e tomava uma dose de uísque – Quer uísque?
- Não. Você sabe que não bebo. E nem fumo. A respeito do caso do assalto do Credi-mar, andei colhendo pistas no local...
Faro Rizzo era o detetive mais metódico e reservado do litoral. Emocionalmente fechado, Faro não tinha vícios, era ativo e prático, frio e não perdia tempo. Era muito diferente de Fino, mas trabalhavam juntos há anos. Ele vestia um sobretudo escuro que lhe cobria o corpo todo. Filho de italianos, vinha de uma família de mafioso, a grande Cosa Nostra, da qual tinha muita vergonha, pois achava que a família não tinha honra.
- Os policiais querem a gente fora do caso, estão achando que vamos tirar todo o crédito deles se continuarmos resolvendo casos grandes...
- Azar deles, Faro. Não se preocupe, confie em mim. Vamos investigar este caso por bem ou por mal – disse o detetive, guardando seu 38 na calça branca.

À tarde, Ana Doriana se encontrou com um velho amigo num restaurante de frutos do mar.
- E aí, como foi a consulta?
- O doutor disse que eu devo fazer a operação – disse Ana, olhando o cardápio – E eu já providenciei meios pra conseguir isso!
- Quer dizer que deu certo? Ótimo. Bem, nossos planos estão seguindo bem! Não vejo a hora de descontar toda a raiva que sinto... – disse o velho, rancoroso. Ele devia ter mais de setenta anos, era quase careca e andava numa cadeira rodas. Raquítico. Cheio de rugas, revoltado com o mundo, ele tinha o vírus HIV. A AIDS arruinara sua vida. Seu nome: Carl Wilson, o ex-líder e vocalista dos Beach Boys, a banda de surf music dos anos cinqüenta que andava sumida nos últimos tempos. Carl pegara AIDS ao usar uma agulha infectada para se drogar. Além de viciado em heroína, era aidético, e tinha raiva do mundo.
- Você pretende se vingar da sociedade? – perguntou Ana, compreensiva.
- Claro! Ainda me lembro bem de quando os Beatles chegaram, em 1962, e nos tiraram das paradas musicais nos EUA. Os Beach Boys nunca foram os mesmos. Hoje ninguém se lembra da gente, só lembram dos malditos Beatles!
- Nosso objetivos serão alcançados. Quando tudo acabar, ambos seremos felizes! Ah, amanhã vou dar uma grande festa na minha mansão – disse Ana Doriana, em voz baixa – Apareça lá. Darei continuidade ao nosso plano...
- Ótimo!

Em seu apartamento, Fino Gomez se sentia mais frustrado do que nunca. Durante uma relação sexual com Lia, sua “amiga” mais próxima, ele fracassara. Começava a ter problemas de ereção, e não sabia a quem recorrer. Estava desesperado. Na hora H tinha falhado. Talvez fosse o estresse do trabalho, quem sabe?
No noticiário, à noite, era anunciado um acontecimento chocante nas notícias internacionais. Fino, Faro, Tony Bancada e as meninas assistiam:
- As notícias chegaram agora mesmo. O cientista e biólogo norte-americano Leon Natchos, conhecido internacionalmente pela pesquisa que desenvolveu sobre o vírus da AIDS, foi seqüestrado hoje em seu laboratório em Seattle, Washington, a capital americana. Nenhuma pista foi encontrada no local, e o cientista encontra-se sumido. Seus colegas cientistas dizem que o doutor desenvolvia um novo coquetel de drogas para combater o vírus HIV, e que um seqüestro já era esperado. Mais informações no boletim informat...
Fino desligou a TV, e ficou pensativo. Lia comentou:
- Isso é assustador. Talvez queiram fazer chantagem com este doutor Natchos...
- ... pra forçar ele a achar a cura da AIDS! – completou Tony Bancada, deitado no sofá.
- É, mas quem poderia estar por trás disso? – disse Fino, consigo mesmo. Faro Rizzo nada dizia. Somente examinava, com uma lupa, um pedaço de pano encontrado no banco Credi-mar após o assalto. Era um tecido preto com um “A” estampado em vermelho. Era o “A” da anarquia, não restava dúvida alguma.

Mandrone estava vivo. Respirava pela primeira vez. Dentro do laboratório, observava seus criadores com curiosidade. Sua aparência era bizarra: no topo da cabeça um corte punk combinava com os tantos brincos e argolas presos pelo rosto, e as correntes penduradas pelo corpo. Os dentes, podres e poucos. Seu rosto era horrível, deformado e retorcido em algumas partes. Ele já tinha sido um homem. Após um acidente, fora acolhido por um senhor velhinho, muito bondoso, que dizia ser Carl Wilson, o líder dos Beach Boys. O velho prometera reconstruir seu corpo, em troca da ajuda de Madrone. Agora ele era enorme, cheio de fios e partes mecânicas pelo corpo, um cérebro falso e aquele jeito destrambelhado. No meio do estômago, possuía uma Winchester e um drive de disco de 3 e ½. Um “drive A” que controlava tudo que Madrone pensava, falava e fazia. A serviço de Carl Wilson.
- Minha criação está pronta! Está pronta! Pronta para acabar com qualquer um que me impeça de conseguir meus objetivos...

Na festa dada por Ana Doriana, a transexual, em sua mansão, estavam presentes todos os finos cidadãos da burguesia litorânea. Empresários, novos-ricos, playboys, madames... Era uma grande festa, em um salão enorme, um grande jantar e um baile dos mais elegantes. Doriana usava seu vestido mais caro, e refletia sobre o que tinha que fazer naquela noite especial.
Fino Gomez passava em frente à mansão em seu conversível vermelho, ao lado do parceiro, Faro Rizzo. Fino estava bêbado, e quis logo entrar na festa sem ser convidado. O parceiro não queria e insistia pra que não fossem. Mas Fino adorava uma festa, e puxou o amigo para lá. Utilizando sua perícia em entrar secretamente em locais fechados foi colocada em prática. Eles entraram pelos fundos, e acharam uma janela que dava para um banheiro.
- Vamos, me ajuda aqui!
- Fino, não acredito que estou fazendo isso, mamma mia! – sussurrava Faro, inconformado. Dentro do banheiro, os dois encontraram dois rapazes que conversavam. Tinham pinta de surfistas, e olhavam de modo suspeito para os detetives. Fino foi levado pelo seu instinto, e puxou Faro para dentro de um toalete:
- Escuta, você não vai acreditar! Sabe quem são aqueles dois? – sussurrou Gomez.
- Quem?
- São dois dos bandidos que assaltaram o Credi-mar! Eu recortei as fotos do jornal, tenho certeza!
- Não podem ser eles!
- Por que não?! – irritou-se Gomez.
- Esta festa foi dada pela socialite Ana Doriana, por que ela convidaria estes surfistas bandidos?!
- Não sei. Mas vou investigar! – disse Fino, saindo do esconderijo e se aproximando dos rapazes.
- Pega ele! – gritou um dos jovens, que era truculento, e agarrou Fino Gomez pelo paletó.
O outro esmurrou o rosto do detetive, e acertou seu estômago. Faro entrou na briga e imobilizou o mais forte com um golpe rápido de Aikidô. Ele era astuto.
Fino Gomez se livrou do bandido e pegou o outro pelos cabelos, levando o rosto dele de encontro à pia de pedra. Estavam inconscientes. Faro Rizzo analisou os surfistas e não se espantou ao encontrar, estampada com linha vermelha na roupa deles, a letra “A” da anarquia.
- Os outros do bando também devem estar na festa! Vamos lá! – disse Fino Gomez, tirando a camisa.
Os detetives logo trocaram de roupa com os rapazes, prenderam eles com cordas e foram para a festa metidos em smokings apertados e impecáveis.
Em meio à multidão, eles mal podiam andar. Alguns dançavam o Danúbio Azul de Strauss, a valsa mais batida para se tocar em bailes. Uma banda tocava num dos cantos do salão. Num pequeno grupinho reunido estava Ana Doriana, a anfitriã, badalada pelos convidados. Muitos artistas comentavam a elegância dela, e dois efeminados cochichavam:
- Mas ela tem celulite, querido. Pode acreditar...
- Mas o estilista dela é bárbaro... vai, admite, seu cachorro!
- Ah, isso lá é verdade!
Fino se serviu de champanhe, que era servida por discretos garçons. Faro provou um canapé com patê de fígado de ganso e quase vomitou.
- Escuta, cara... temos que fingir que somos convidados normais... aja com bastante normalidade... – aconselhou Faro no ouvido de Fino. Eles se separaram para investigar os convidados pelo salão.
Gomez foi até a banda que tocava e perguntou se eles poderiam mandar rolar um jazz legal. Disseram que sim. Fino não pôde evitar, e disse que morria de vontade de tocar com eles.
- O que você toca?
- Violoncelo!
Fino começou então seu criativo improviso musical ao lado dos animados músicos, que aprovaram seu talento. A festa continuava agora ao som de Fino Gomez e A Banda. Faro Rizzo, quando viu aquilo, quase teve um chilique. E pensou: “Isso porque eu falei pra ele ser discreto!”. Uma mulher se aproximou de Faro Rizzo e sorriu para ele.
- Como se chama?
- Faro Rizzo.
- Você está sozinho?
- Estou.
- Quer dançar?
- Não, eu...
- Sou Reginalda Lima, amiga de Ana Doriana... não me conhece?! Olha que sou muito popular! – e els puxou Faro para o meio do salão, onde os pares dançavam. Ele não pôde resistir à sedução da bela moça, e aceitou. Principalmente porque poderia conseguir descobrir alguma coisa sobre Doriana e os assaltantes, conversando com Reginalda.
Fino Gomez, durante um solo no violoncelo, avistou um estranho sujeito conversando com Ana Doriana numa rodinha de amigos. Um velho numa cadeira de rodas. Fino imaginou: “Que cara estranho... parece aidético! Isso me lembra o cientista seqüestrado, o tal do Natchos! Aquele cientista que parecia estar achando a cura da AIDS!”.
Dois garçons, entre todos os outros, se destacavam por sua musculatura desenvolvida e a pele mais bronzeada. Observavam há algum tempo o “novo violoncelista”, e o “italiano de araque” que dançava com Reginalda. Resolveram entrar em ação, e começaram a sorrateiramente se aproximar dos detetives. Fino conversava com o saxofonista, com quem fizera amizade:
- Mas o problema está me afligindo, o que eu faço?
- Ah, meu tio também está tendo problemas de ereção... mas não é impotência – dizia o saxofonista – Sabe o que é bom você tomar?
- O que? – perguntou Gomez, interessado e aflito.
- Maracujá. Muito maracujá! Isso mesmo. Sabe por quê? Bem, o maracujá acalma, certo? E esse papo de ficar caidão durante uma transa tem a ver com estresse e nervosismo. Então, se você relaxasse mais, tomasse um suco de maracujá todo dia, ia diminuir a tensão, entendeu?
- Puxa vida, nunca pensei nisso! Obrigado mesmo, cara... – dizia Fino – É que você sabe como é... eu tenho uma reputação de garanhão a zelar... as garotas gostam disso, e eu...
- Eu entendo. Toma, aqui está o telefone de um urologista dos bons! Se precisar...
Neste momento Fino Gomez foi agarrado pelo smoking por uma mão enorme. Seu agressor era um garçon, um dos surfistas assaltantes. Ele puxou o detetive para o meio da multidão e espancou-o.
- Estou cumprindo ordens, herói! O recado é: não se intrometa onde não é chamado! Entendeu? – dizia ele.
- Me larga, rapaz. Não quero precisar usar a violência. Quem te mandou? – gritou Fino, sufocado.
- Cale a boca! E lembre-se: os Anarcoboys são intocáveis! – o surfista deu um soco no queixo de Gomez, que foi parar no chão do salão. As pessoas gritavam, assustadas.
Faro Rizzo foi pego pelo outro garçon, o quarto anarcoboy, que lhe disse:
- Eu vi o que fizeram com nossos parceiros, Má e Lú, lá no banheiro! Vão pagar caro – e espancou Faro.
Faro e Fino se encontraram e correram freneticamente pelo salão, até a saída. Os Anarcoboys vinham atrás deles, e Ana Doriana observava tudo isso, sorrindo de satisfação:
- Eu, Ana Doriana, proponho um brinde! À satisfação, e ao poder!
Carl Wilson, o velho, se juntou a ela e finalizou, levantando o copo:
- E à doce vingança!

Fino Gomez pulou dentro de seu conversível, jogou Faro Rizzo lá dentro, e eles saíram em disparada pela avenida da praia. Já era madrugada, e Fino se sentia duplamente tonto: de beber e de apanhar. Faro fazia um curativo na testa enquanto repetia: “Você e suas idéias, Fino... você e suas idéias...”.

Na manhã seguinte, o detetive acordou na areia da praia, sob o forte sol do meio-dia. Ao seu lado, uma garrafa de vinho. Ele se levantou e viu que a parceiro estava ao lado, fazendo cálculos e riscando a areia com um palito de sorvete. Ambos haviam dormido na praia, após a movimentada noite que tiveram.
- Tudo bem com você? – perguntou Faro.
- Acho que sim... e você, tá inteiro?
- Estou. Olha lá, é o Tenente Manuel Pinto vindo aí... ele parece irritado.
Um dos policiais, acompanhado de um recruta, chegou até a dupla de detetives, perto da beira da água.
- Você não aprende mesmo, Fino. Está ferrado agora – disse o tira, arrogante, estalando os dedos.
- Vocês não têm moral alguma pra falarem! Entrei no caso do banco porque quis! E aposto que sou mais eficiente que vocês todos juntos! – disse Gomez, cínico.
- Fique quieto. O Delegado Armando tá irado com você... soubemos que agora você anda na cola da socialite Ana Doriana, e está querendo resolver até caso internacional. Deixa o seqüestro do cientista americano pro FBI, eles sabem o que fazem lá...
- Por que vocês não vão fumar um baseado e deixam a gente trabalhar em paz? Vai pegar droga de moleque, vai... lá naquele posto policial não tem um tira que preste! – ousou Fino, sarcástico.
- É o seguinte, Gomez – disse o outro policial, olhando em volta – o Delegado tem uma proposta pra você: resolve essa encrenca toda do banco e dos tais surfistas, que aí a gente te deixa em paz! Mas se não resolver o caso... aí vai ter que se aposentar e deixar o crime da cidade com os papais aqui! Os créditos ficam pra você, se solucionar...
- Não vou obedecer nenhuma porcaria de chefe de polícia. Vou investigar porque quero, não porque vocês estão pedindo. Pode avisar o seu chefinho, viu? Agora dá licença que eu vou entrar no mar – Fino Gomez e Faro Rizzo foram andando em direção à água, sob o sol do meio-dia, entre os tantos banhistas que lá se divertiam, deixando os policiais para trás.

Na água, já de bermudas, a dupla conversava sobre o caso:
- Você falou com a tal da Reginalda, ontem? – perguntou Gomez, pondo os óculos escuros.
- Conversei. Mas não descobri muita coisa. Ela só me disse que a Ana Doriana tá tendo problemas sexuais.
- Sério?! Que tipo de problemas sexuais?
- Ela... bem, ela é... uma transexual – Faro Rizzo pareceu sem jeito – Ela é um homem, Fino! E quer fazer uma operação, sabe...
- Castração?! – Fino sentiu um arrepio.
- Mais menos isso... mas parece que ela conseguiu o dinheiro de uma hora para a outra.
- Eu sabia! – Fino bateu na palma da mão – Eu sabia que essa louca tinha alguma coisa a ver com o assalto do banco!
- Tá, mas o problema é provar que ela mandou os Anarcoboys fazerem o serviço, e também conseguir pegar os tais assaltantes anarquistas!
- Fique de olho nos surfistas daqui! Hoje a maré está excelente pro surf, pode ser que topemos com eles! – disse Fino Gomez, acendendo um cigarro e olhando em volta no meio dos guarda-sóis coloridos na areia.
De repente, a praia inteira foi invadida por um som fortíssimo, vindo do horizonte. Parecia o som de um avião, mas era dez vezes mais alto.
Começou o rebuliço no meio da população:
- O que é isso?!
- Meu Deus! Olhem!
- Olha lá, mãe! O que é aquilo?!
Fino mergulhou na água e puxou Faro Rizzo:
- Se prepara, cara! Uma invasão! – e tirou o 38 de dentro da bermuda florida.
Uma leva de redondas e reluzentes naves encheu o céu em segundos, vindas do oceano. Era uma tropa de OVNI’s. O espanto das pessoas causou um caos total na praia e nas ruas.
Fino Gomez atirou três vezes sobre uma das naves, mas as balas não causavam danos.
Uma das naves, a maior, aterrissou na beira da água, e, segundos depois, dela desceram três seres estranhos. Eram índios. Sim, pareciam índios brasileiros, pintados de verde e amarelo, quase nus, cheios de penas e lanças de madeira. Um deles se pôs à frente e procurou alguém para se comunicar. Gomez tomou a dianteira do povo, guardou a arma e se aproximou do ET devagar.
- Quem são vocês?
- Nós índios tupi.
- Tupi? – Fino não podia acreditar – Vocês não são ET’s?
- Nós índios tupi. Mestre ser ET.
- Mestre? Quem seria o seu mestre?
- Mestre ET estar lá – e o índio apontou para uma nave que se abria a da qual saía um ser realmente grotesco. Era como os aliens dos filmes, só que com formato humano. Ele vestia uma camiseta preta de rock, uma bermuda velha e havaianas. No pescoço, um colar de flores. Seu rosto era assustador. Aproximou-se, sério, calado, e parou diante de Fino.
- Viemos colonizar seu país, cidadão. Com quem falamos por aqui? Quem manda nesta terra?
Fino mal podia falar:
- Peraí... quem é você? O líder?
- Isso mesmo. Sou o Etezinho do Agreste, e sou do sertão, do Nordeste... reuni este povo indígena que veio me procurar pois estava perdendo cada vez mais o espaço deles e de sua cultura neste país. Saí do sertão, deixei minha família na seca e montei minha frota. Sou o líder. O Rei. O Deus. O Criador. Sua terra agora, chamada Brasil, será minha.
- Isso tudo é sério? – perguntou Faro Rizzo, acuado, totalmente perplexo.
- Seríssimo – disse o Etezinho do Agreste. Os índios permaneciam a postos, esperando a ordem de invasão do líder.
A praia inteira estava paralizada, e fazia silêncio. Era um dia como nenhum outro. Era tudo verdade. O homem seria dominado por seres vindos de longe. Só que não avisaram que seriam nordestinos. A população sempre esperou marcianos.
O grande líder levantou o braço magro. O olhar fixo. Todos esperavam a ordem de ataque. De repente, sua cabeça começou a tremer violentamente. Os olhos viraram, o corpo ficou branco, foi apodrecendo e o ET caiu no chão, imobilizado, todo rachado. Morreu. Tinha ficado tempo demais longe do tanque de água que tinha na espaçonave. Morreu de sede.
Depois de um longo momento em que todos ficaram paralisados, Fino Gomez gritou:
- Vamos, pessoal, não há mais nada pra se ver por aqui! Vão pra casa!
Os indígenas começaram a entrar novamente em suas naves, e estas logo voltaram ao céu, sumindo no infinito. Os índios agora não tinham mais líder, pois o corpo do Etezinho voava ao vento, em pedaços de cinzas. A seca matara a maior das causas humanas já defendidas: a invasão alienígena.

À tarde, Rizzo andou investigando as vizinhanças do local da festa do dia anterior. Falou com as pessoas, colheu depoimentos e depois se encontrou com Fino, e deu a notícia:
- Um desastre. Quase todas as pessoas que estavam ontem na festa são agora portadoras do vírus HIV!
- Como pode? – espantou-se Gomez – Elas pegaram AIDS na festa?!
- Isso! Eu falei com elas! Somente eu, você e mais cinco pessoas não fomos contaminados! Dizem que alguns tiveram relações sexuais durante a festa, nos quartos da mansão! Outros usaram drogas injetáveis com seringas contaminadas!
- Mas isso significa que alguém, alguma pessoa da festa, providenciou as contaminações! – deduziu Fino, pensativo – Alguém contaminou as seringas e as forneceu, e alguém contaminou os parceiros que fizeram sexo ontem! Você sabe, Faro... o efeito escadinha do vírus...
- Sei. Um transmite, aí outro pega, espalha pra mais dois, estes dois, por sua vez, espalham para mais quatro, e assim por diante...
- Isso mesmo! Mas quem poderia ter iniciado a... – Fino parou de falar – Já sei. Já sei! Tenho uma suspeita, Rizzo... lembra-se do senhor que conversava com Ana Doriana na festa?
- O da cadeira de rodas? Claro! Ele é rico, fundou a surf music nos anos cinqüenta! Parece que tem AIDS... opa!
Os dois se entreolharam neste momento. A corrente estava fechada. A dedução se encaixava.
- Ana Doriana, os Anarcoboys, Carl Wilson! Acho que estou começando a entender tudo! – disse Gomez.

Naquele dia a população foi pega de surpresa novamente. Um grupo de surfistas, que parecia ser o mesmo do assalto ao banco, saiu pela cidade aterrorizando os cidadãos portando seringas contaminadas com vírus causadores de doenças venéreas, DST’s. O pânico foi espalhado pela Praia Grande. A polícia foi atrás dos criminosos, mas estes possuíam armas potentes para se defender, e os policiais acabaram tendo baixas. Ninguém queria interferir muito, com medo de ser contaminado. Existe sempre um medo de se envolver nas situações quando a contaminação está em jogo. Ninguém quer pegar um vírus. Muitas vezes ninguém quer ajudar. Os Anarcoboys usavam bermudas com um “A” estampado, simbolizando seu grupo. E usavam uma arma especial, a Leir Bag, que atirava setas contaminadas em cima dos cidadãos. Esta tecnologia só poderia Ter sido desenvolvida por especialistas... como o doutor Natchos, seqüestrado, ou os cientistas contratados pelo maquiavélico Carl Wilson, dos Beach Boys.

À noite, Fino e seu parceiro invadiram a mansão de Ana Doriana, escalando o muro nos fundos. Ao penetrarem no terreno, no escuro, não notaram um vulto no meio das árvores. Quando iam avançar, o vulto apareceu à luz da varanda e gemeu:
- Fica... bzz... longe... bã... senão... bzz... esmago... bzz... vocês! – dizia a criatura enorme, forte e horrorosa. Trata-se de Mandrone, o ciberpunk criado para proteger a mansão de detetives como Gomez e Rizzo, que poderiam pôr tudo a perder para os bandidos Ana e Carl Wilson...
- Ajuda aqui... Fino... – Faro Rizzo fora pego pelo pescoço, e Fino engatilhou a arma e apontou.
Mandrone era forte, resistente e trouxa. Pensava como uma criança de quatro anos. Por isso, era lento. Não teve tempo de desviar do tiro de Gomez. A bala entrou em sua barriga, e ele entrou em curto. A barriga faiscava.
Mandrone se irritou, e mordeu o braço de Faro com os dentes enormes. Depois jogou longe a arma de Gomez, que ficou indefeso. O robozão pegou um pau cheio de pregos na ponta e avançou sobre o detetive. Este reparou que havia um disquete enfiado no estômago dele. Faro pulou nos ombros do gigante e puxou seus cabelos. Rizzo sempre levava uns objetos no sobretudo. Enfiou a mão no bolso e achou um pequeno alicate. Então usou-o para machucar Mandrone: perfurou a pálpebra do olho dele, e isso deixou Mandrone cheio de dor, gemendo e gritando. Fino Gomez aproveitou a deixa, correu até ele e apertou o botão que cuspia o disquete pra fora. Aos poucos, Mandrone foi parando, parando, até que parou de funcionar.
Eles avançaram.
Dentro da casa, após terem arrombado a porta, encontraram os fortes Anarcoboys. Um deles foi nocauteado pelos golpes de Tae-Kwon-Do de Faro Rizzo. O segundo levou um tiro no joelho de Fino, e os outros dois eram mais fortes. Fino Gomez agarrou um Anarcoboy e pegou sua mão. Ele ficou confuso. Fino quebrou o dedo mindinho do Anarcoboy, e deixou-o no chão. Em seguida saiu correndo e foi procurar um telefone. Faro lutava com o último Anarcoboy, que acabou ficando com medo, pois estava sozinho na briga. Este Anarcoboy acabou fugindo pelos fundos. Seria para sempre “O Último Anarcoboy”.
Fino ligou para os policiais e deu a dica. Eles estavam a caminho. Em seguida, toparam com os grandes patifes: Carl Wilson, em sua cadeira de rodas, segurava uma espingarda. Ana Doriana ameaçava matar o cientista, Natchos, feito de refém:
- Não se aproxime, Fino Gomez! – gritou ela, com uma arma na mão – Ou mato ele! Eu mato! Não tenho nada a perder!
- Como não? – irritou-se Carl Wilson – Se você matar ele, nunca serei curado deste maldito vírus! Não se atreva, sua metida!
- Sua o que?!
O clima de tensão aumentava entre os bandidos. Gomez e Rizzo se preparavam para agir a qualquer momento. Tudo aconteceu muito rapidamente. Gomez sentiu que havia alguém atrás dele. Escutou um barulho e, instintivamente, se abaixou. Era um Anarcoboy, o último, que tinha voltado. Atirou em direção a Gomez, mas este se abaixou. O tiro foi em frente e quase acertou Carl Wilson. Acertou a parede. Na verdade, acertou uma cabeça de alce empalhado que estava na parede. A cabeça de alce despencou do alto.
- Cuidado! Não!
- Aaaaaaah! – gritou o velho aidético. O alce foi cair bem em cima dele. Carl Wilson caiu ao chão, morto, com uma cabeça de alce enfiada no crânio.
Fino Gomez se virou numa fração de segundo, se jogou ao chão, rolou e deu um tiro no Anarcoboy. Este caiu.
Faro Rizzo aproveitou que Ana Doriana tinha se distraído e se jogou em cima dela. Caíram ao chão, e o cientista Natchos se livrou dos braços dela. Faro Rizzo virou a arma de Ana para o alto e ela disparou no teto três vezes. Gomez chegou para ajudar, e tirou a arma da mão dela. A fera estava domada.
As sirenes da polícia já chegavam na rua, estridentes.
- Valeu, Faro! Bom trabalho – disse Gomez, suando. O parceiro apertou sua mão:
- Eu é que agradeço, Fino! Obrigado!
Os dois aguardaram os tiras, que, ao chegarem, nem sequer agradeceram os detetives pela ajuda. Os criminosos foram levados, os Anarcoboys contidos com as algemas, e o local começou a ser isolado para investigação. O doutor Natchos agradeceu a dupla:
- Thank you, thank you very much! You saved my life! I’d like to thank you two...
- Não precisa agradecer, doutor... deixa disso... – dizia Rizzo, satisfeito.
- Listen, when you feel hungry, come to my home, in the States, and we can eat a lot of natchos together! What do you think?
Rizzo e Fino Gomez se olharam ao mesmo tempo e disseram, em uma só voz:
- Adoro natchos!


As coisas foram esclarecidas mais tarde, no inquérito e no julgamento dos criminosos. O plano de Ana Doriana e Carl Wilson um satisfazer os objetivos do outro. Uma troca de favores: Wilson pagaria uma grande quantia para Ana, que não tinha dinheiro para fazer a operação de mudança de sexo. O dinheiro foi conseguido com o assalto ao banco. Em troca, Ana Doriana ajudaria Wilson a espalhar a AIDS pela cidade, pois o velho era revoltado com a doença e queria se vingar da sociedade. Além disso, Ana ajudou-o a seqüestrar o único cientista que podia ter descoberto a cura da doença. Esta cura era um segredo, e Wilson queria forçar o doutor a revelar o segredo. O trabalho sujo, como o assalto, ou a contaminação da população, fora feito pelo grupo de bandidos Anarcoboys, contratados pela dupla criminosa. Dizia-se que Ana já tinha até tentado a umbanda para melhorar sua situação sexual.
Durante o julgamento, Ana começou a ter um chilique. Um espírito da umbanda tinha baixado nela, e ela se sacudia como uma desvairado, fumando charuto e pedindo pinga. O hospício foi convocado e ela foi internada como louca.
Carl Wilson morreu e foi para o além. Lá, ainda frustrado com a carreira musical dos Beach Boys, encontrou um gordo e acabado Elvis Presley, que cantou para ele e lhe deu palavras de consolo. Era seu espírito de luz.
Os Anarcoboys foram para o Greenpeace e começaram a catar lixo na praia, todos os dias.
Mandrone foi estudado pelo governo e acabaram inserindo em seu estômago um novo disquete. Controlando sua mente, transformaram ele num homem bonzinho. Virou salva-vidas na Praia Grande, ao lado de Gildo.
Lia e as “amigas” de Gomez formaram um grupo de heavy metal chamado “Anarcogirls”.
Faro Rizzo se tornou o herdeiro em sua família, com a morte de seu pai, e recebeu o título de “Dom Rizzo”, um dos chefões das famílias italianas do crime paulista.
Tony Bancada e o pessoal do quiosque continuaram caindo na farra todas as noites, no mesmo local.
Fino Gomez certo dia tomou um novo drinque no quiosque Bar Oni’s. Quando a bebida fez efeito, Gomez sentiu um estranho movimento dentro de sua calça. Adeus, problemas de ereção! Olhou para Gus, que tinha preparado a bebida especial, e este piscou-lhe um olho.
Samanta, a protegida de Gomez, acabou tendo o filho de sua gravidez indesejada. No dia do parto, todos estavam no hospital. A criança nasceu. Felicidades.
Foi então que Faro Rizzo fez um infeliz comentário:
- Pessoal... ou estou ficando louco, ou esta criança é extremamente parecida com o Fino Gomez...
E Fino arregalou os olhos.



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