Impressões
Chego a rua António Telles, a famosa rua da Pedra, no número 291, Ã s 9 horas e 33 minutos para a realização da entrevista com o senhor José Geraldo Ribeiro. Uma casa simples, porém, muito acolhedora. A família de "seu" José Geraldo é de uma receptividade maravilhosa. Logo convidam-me a sentar em uma das poltronas da sala de visita. Na sala, no momento em que chego, estão presentes o filho Ivan, a esposa Maria Aparecida Gonçalves Ribeiro e mais um amigo da família que vinha saber notícias da recuperação da cirurgia ocular que seu José Geraldo se submeteu no último dia 15 na cidade de Itajubá.
Às 9 horas e 45 minutos o senhor José Geraldo, 75 anos, conhecido pelos seus muitos amigos como Josa, entra na sala e irradia uma intensa luz de fé e de positivismo sobre as pessoas ali presentes. Cumprimentando todos os presente com um sorriso mágico ele se senta a minha direita na poltrona onde estou. Cumprimenta-me novamente e eu o agradeço. Em papéis invertidos por algum instante é ele que me faz perguntas. Questiona-me se eu sou daqui da cidade mesma e eu respondo que sim. Pergunta-me sobre a minha família e eu digo que sou neto do "seu" Leonel Marques de Azevedo, que infelizmente não cheguei a conhecer, que morava na praça Francisco Falcão. E ele me responde rindo parecendo que o nome do meu avó lhe remetera a algumas lembranças: "Ah! Então você é de casa!", afirma. A partir daí a entrevista, que parecia dar o tom da minha vista, se transforma num grande bate papo entre eu e o "seu" Josa.
Caminhada
José Geraldo Ribeiro nasceu no dia 13 de setembro de 1914. Filho dos agricultores Arlindo Ribeiro de Magalhães e Emerenciana Càndido dos Reis. Com os pais e os irmãos, entre eles o contabilista falecido recentemente Waldomiro, eles caminharam pelos bairros rurais dos Fagundes e do Balaio. Com os filhos em idade escolar, "seu" Arlindo Ribeiro resolve vir morar na cidade, onde trabalhou com carro de praça e na Ceràmica Regina.
O menino José Geraldo estuda até completar o primário. Após formado na Escola Estadual Delfim Moreira (Grupão) ele não prossegue nos estudos. Passa a fazer qualquer tipo de serviço que a roça exige. Puxa carro de boi, vende leite, é retireiro, trabalha na enxada e muito mais até os 20 anos de idade.
Barbearia
O ofício de barbeiro "seu" Josa aprende com João (Ziquinho) Vilela quando este era um dos poucos barbeiros que tinha cidade. O aprendizado do menino Josa se dá durante os anos de 1935 a 1938.
Instalado na rua da Pedra, ele se casa pela primeira vez com a senhora Eva do Carmo Cintra no dia 28 de dezembro de 1939, com a qual teve quatro filhos: Clóvis, João Bosco, Vera Lúcia e José Arlindo. É neste mesmo ano que ele abre a sua barbearia que fica conhecida como a "Barbearia do Josa".
Cortando o cabelo dos homens da Rua da Pedra e dos moradores do Bom Retiro e do Vintém, ele afirma que a grande maioria da sua freguesia pertencia à classe operária.
Josa permanece com a sua barbearia até 1948 quando resolve ser administrador da fazenda da Dona Maricotinha, mãe do ex-prefeito Pedro Rennó Moreira, até 1960. Neste intervalo, Josa fica viúvo ao perder a mulher Eva em 1953.
José Geraldo não fica solteiro por muito tempo. Já em 1955, no dia 25 de maio, ele casa-se com a senhora Maria Aparecia Gonçalves Ribeiro, a quem conhece dos cultos espíritas que ele passou a frequentar desde 1942 a convite do amigo Zito Telles.
Com a segunda mulher ele tem mais três filhos: Ivan, Uribatan e Gleidson. Josa ganha também dois enteados ao se casar com a Dona Maria, que são: Maria José e Reinaldo.
A partir de 1960, a "Barbearia do Josa" é reaberta com a volta da família Josa Ribeiro para a cidade. A barbearia é tocada até 1980 quando ele se aposenta. Com todos os filhos criados, "seu" José Geraldo Ribeiro se dedica mais ao Espiritísmo pregando as quatro lições máximas para ele: evangelização, compreensão, caridade e amor ao próximo.
Nos tempos de folga na época em que era administrador de fazenda, "seu" Josa ainda foi o presidente do Vasco da Gama, tendo como vice o José Mesquita. E por mais de 40 anos ele foi um dos doutrinadores do Centro Espírita Padre Vítor e Mãe Maria. Em suas recordações estão presentes as figuras de Nelson Marques de Azevedo, Horácio Capistrano, o ex-prefeito Pedro Rennó Moreira e o Cel. Joaquim Inácio.
Texto publicado no jornal Minas do Sul em 24 de junho de 2000
Escrito em 21 de junho