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Contos-->O caso do "dia da fênix" -- 29/01/2003 - 04:39 (Osmar Malheiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Deixou o filete de água escorrendo na palma da mão e ouvia o silencio rompante. Fechou os olhos...


* * *

- Brincando com água de novo, rei Sócrates? - falou Xantipas com um ar que parecia impaciente.
Sócrates fechou a torneira com força e naquele momento teve vontade de dar uma má resposta, de xingar, mas conteve-se, era importante manter a paciência naquele instante. Ele saiu do banheiro e os dois quase batem de encontro um com o outro. Xantipas tinha trabalhado o dia todo arrumando a casa, não bastasse isso, à noite de sexta foi regada à inquietação de Sótipas que dormira mal, forçando Xantipas a ficar acordada boa parte da noite.Ela levantou-se e começou a arrumação pela cozinha para não atrapalhar o sono de Sócrates e Sótipas. Lavou, passou pano, esfregou, limpou, enfim, deixou a cozinha um brinco e foi avançando para os quartos à medida que as horas passavam e limpou com tal esmero que ao chegar em seu quarto, os dois já tinham levantado e um estava no banho enquanto o outro tomava café.
Sócrates, por sua vez, na sexta ficou no trabalho ate bem tarde, pois o trabalho mal feito de alguns, culminou para que resolvesse problemas que não eram de sua alçada para que pudesse resolver os seus. Ele trabalhava como coordenador de projetos ha dias vinha cobrando de seus subordinados por prestações de contas que deveriam ser postas no relatório geral mensal.Mas, por sexta feira, todos saíram mais cedo, deixando para Sócrates a difícil tarefa de ajustar lacunas de relatórios que não batiam em sua somatória de forma alguma.
Avançou noite a fora ligando para casa de fulano e beltrano a fim de tentar entender os pormenores dos relatórios.
Resumindo, chegou em casa travado de cansaço e nem se deu ao direito de jantar e banho.
Foi direto para cama, abrindo caminho entre Xantipas e Sótipas.
Acordou com o barulho que ela fazia lavando a cozinha. Ficou acordado pensando em sua vida e nos seus sonhos. Era um bom momento para pensar, pelo menos fingia que dormia e Xantipas não o incomodava na sua introspecção. Lembrou-se de um passado não muito distante, quando ela, ao vê-lo calado e olhando pela janela do prédio, perguntou o que estava acontecendo; em que ele
estava pensando. E por mais que ele dissesse que não pensava em nada, que estava apenas quieto, ela se irritava dizendo que não havia confiança entre os dois, que ele escondia coisas dela.
Mas na verdade Sócrates queria apenas ficar quieto. Era uma necessidade antiga. Porem, amava-a. Já havia decidido não ficar remoendo o passado. Sótipas logo acordou procurando pela mãe e pedindo o café. Sócrates também levantou-se e foi para o banho e nesse momento Xantipas chegava com a arrumação ao quarto. Suspirou fundo ao ver os sapatos jogados de qualquer jeito, calca e camisa embrulhadas no chão que ela recolheu com muita má vontade por acreditar que não era empregada de ninguém e que se ela arrumava a casa, era porque ele, Sócrates, não se dispunha a faze-lo. Já haviam falado sobre isso muitas vezes; ela sempre pedindo uma colaboração e ele sempre prometendo que ia melhorar, que ia ajuda-la. E depois das promessas, ele ate parecia realmente ter melhorado, mas passados alguns dias voltava a ser o mesmo Sócrates de antes.
Colocou as roupas num canto e foi arrumando. Trocou o lençol da cama, trocou os tapetes, varreu, tirou pó, deu lustre ao chão e aos moveis.
- Xan, pega uma toalha pra mim? - Gritou Sócrates do banheiro.
Xantipas suspirou fundo mais uma vez e pegou a toalha deixando-a pendurada na porta do banheiro. Era um código conhecido dos dois. Toda vez que Sócrates esquecia alguma coisa, Xantipas deixava a tal coisa na porta para que ele pegasse.
Banho tomado, dirigiu-se para o quarto enrolado na toalha para pegar uma roupa. Vestiu-se e tomou café. Ao terminar, Sótipas cobrou-lhe uma ida ao parque que há muito tempo Sócrates adiava. Já estava ficando sem graça enrolar Sótipas tanto tempo e antes que Sócrates pudesse prometer mais uma vez para o próximo sábado, Xantipas interveio informando ao filho que ele iria ao parque sim e que o pai o levaria.
Eis aí uma coisa que irritava Sócrates deveras. A celebre mania que Xantipas tinha de resolver a vida dele sem se quer saber se para ele estava bem. Dessa vez foi ele que suspirou fundo. Olho Sótipas e percebeu a vontade dele em brincar. Sobre Sótipas o que se pode dizer é que era uma criança tranqüila e sem grandes problemas, tinha ora o gênio da mãe, ora o do pai e desde que tinha nascido, suas visitas ao parque eram freqüentes, primeiro para tomar sol e depois para brincar.
Adorava os poucos brinquedos que lá existia e gostava muito de jogar pão aos peixes, uma diversão incomensurável ao ver os peixes dos mais variados tipos subirem ate a superfície para guerrearem pelo alimento ofertado. Em casa era falante, uma característica básica da mãe. Falava com os pais e com qualquer coisa que o apetecesse e às vezes em seu quarto, deitava-se no chão e ficava falando ao teto por horas a fio.
Foram para o parque de mãos dadas e Sótipas feliz da vida. O dia estava verdadeiramente bonito e reluzia ainda mais à medida que caminhavam. No caminho ainda passaram na padaria de Efesio, para comprarem suco e pão.
Efesio era apaixonado por Xantipas e num passado distante os dois tiveram um "afair", mas acabou-se rapidamente quando a família judia de Efesio bloqueou todas as expectativas desse namoro ir para frente. Xantipas era pratica e rapidamente tratou o assunto como um namorico bobo. Mas Efesio não. Guardou o que sentia durante anos, casou, teve filhos, mas não era feliz com casamento pois casara-se com a tradição e não com o seu amor. Quando soube do casamento de Xantipas, adoeceu; e não tinha medico capaz de resolver aquela dor de estomago temperada a febre de quarenta graus.
Ao ver Sócrates, empalideceu ainda mais e com ar de resignação atendeu prontamente sem sorriso ou cara feia. Fez aquela típica cara de "paisagem" e assim que os dois saíram, sentou-se prostrado em seu banco e começou a fazer caretas, o estomago dói-lhe em demasia e a febre começava a brotar-lhe na pele.
Xantipas já tinha a casa arrumada e agora tratava do almoço com a mesma maestria com que cuidava da casa.
Tirou o frango temperado da geladeira e ficou indecisa se o faria inteiro ou em pedaços. Resolveu cuidar do resto enquanto pensava no que fazer com o cadáver temperado. Apenas colocou-o numa travessa e retirou o pescoço que estava escondido dentro do corpo deixando-o entre as pernas do bicho.
Deu um sorriso. Aquilo lembrou-lhe um pênis gigante adaptado ao corpo do frango. Fez então questão de deixa-lo de um jeito que parecia realmente um pênis com a envergadura para cima e comentou:
- Fica na sua, senhor frango! Nada de descaramento comigo.
Colocou-o no canto da mesa e foi escolher o arroz, queria terminar antes que os dois chegassem e entre uma escolhida e outra dava uma olhada na "adaptação peniana" do frango. Levantou-se foi ate a geladeira e pegou uma latinha de cerveja. Distraia-se então em escolher o arroz, olhar o frango e bebericar sua cervejinha gelada. Lentamente foi sentindo-se mais leve; fazia tempo que não bebia e como ia deixar arroz feito para alguns dias ia escolhendo mais do que de costume. Pegou outra latinha de cerveja e mal abriu já tomo metade.
Um calor subiu-lhe pelo peito, talvez pelo efeito do álcool, talvez pela carência e se pôs a olhar o frango com um comentário:
- Que ferramenta, hein senhor frango!!
De uma vez tomou o resto da cerveja e ao olhar para o frango novamente sentiu-se excitada, passou a imaginar uma fantasia louca onde estava sendo possuída por um ser semelhante ao frango, mas de proporções maiores. Compulsivamente começou a acariciar-se e foi imaginando o que podemos chamar de "o super-frango" possuindo-a freneticamente.
Gemia e contorcia-se em suas caricias, levantou a saia, com rapidez afastou a calcinha para o lado e enfiou dois dedos na vagina fazendo movimentos rítmicos enquanto sussurrava:
- Ai...senhor frango me come, me come gostoso. Mete tudo!
Os movimentos ávidos com os dedos encharcados dos líquidos seminais, já evidenciavam o que ela estava procurando; um extenuante orgasmo, fazendo suas pernas tremerem intensamente em contrações prazerosas que foram diminuindo ate que foram cortadas por um lapso de razão:
- Meu Deus!!!! O que estou fazendo?
Levantou-se da cadeira com as pernas ainda bambas, foi ate o armário da cozinha e pegou uma pequena machadinha. Pegou também o frango, colocou-o na pia e começou a desferir golpes sobre o suposto "amante galináceo".
Estava decidido, seria frango em pedaços.
No parque, Sótipas divertia-se no balanço que era empurrado pelo pai, imaginava que estava voando. Ele realmente adorava o parque com tudo o que ele poderia oferecer para suas aventuras imaginarias. Sócrates olhava o filho com carinho. A urgência de seus trabalhos aliada a um cansaço constante fazia-o esquecer como gostava de olhar o filho. Sentia um orgulho de pai todos os dias fora do comum e a relação entre os dois era ótima, eram cúmplices de aventura e segredos, eram cantores, astronautas, mergulhadores, o famoso dito popular: "unha e carne", mas isso quando o trabalho dele permitia.
Saíram do balanço e foram para a beira do lago dar pão aos peixes. Sentaram bem na margem e ali era raso, podiam ver o fundo e alguns pequenos peixes. Sótipas partiu um naco de pão e foi picando-o cada vez mais. Jogou tudo de uma vez na água e ficou esperando.
De repente, um cardume de peixes grandes apareceu na margem fazendo grande alvoroço e brigando uns com os outros pelos pedaços de pão. Isso era o Maximo para Sótipas que ficava vidrado ao ver aquela disputa que representava tão bem as Leis de Darwin.
Depois do terceiro arremesso, o pão acabara e ficaram contemplando o lago.
Na outra margem do lago, Sócrates percebeu uma moça que andava com leveza num vestido branco e que ia margeando o lago lentamente.
Sótipas rolava na grama e perguntou:
- Pai, posso beber essa água?
- Não filho, essa água é suja, não da para beber.
- Mas como ela é suja se tem peixe??
Sócrates procurou um argumento contundente e encontrou:
- Mas você sabia que o peixe faz coco na água?
- Eca!!! Que nojo! - Disse Sótipas fazendo uma careta.
- Você quer suco?
- Quero!
Sócrates abriu-o e Sótipas tomou com vontade demonstrando uma sede escondida bebendo rapidamente.
- Filho?!?
- Oi, pai.
- Ta com sede ainda?
- Não
- Então corre!!
- Por que???
- Por que o pai vai te pegar! Ahhhhh!!! - Fez as mãos em forma de garra e
Sótipas saiu correndo, gritando e sorrindo. Corria perto da margem gramada do lago ate que Sócrates o alcançou e os dois caíram gargalhando no chão; um rolando por cima do outro, fazendo uma grande algazarra.
Sótipas levantou-se e olhou por detrás do pai, o que também chamou sua atenção. Olhou para trás e viu a moça do vestido branco sentada ali a menos de dois metros dos dois, sorrindo e observando a brincadeira.
Sócrates também sorriu e disse:
- Olá!
- Oi. Estava passando por aqui quando vi vocês dois brincando, não resisti e resolvi dar uma paradinha para ver mais de perto. Atrapalho? - perguntou ela com um sorriso mais claro que o dia.
- Não, não.- respondeu Sócrates sem graça e pensou consigo: "Nossa, quem mulher linda!", ficou olhando fixamente para ela como se estivesse num sonho. Absorto de espaço em tempo até que seu devaneio foi quebrado por mais uma pergunta:
- O que foi? - perguntou ela.
- Como?
- Perguntei: O que foi?
- Como assim, o que foi?
- Xi, que papo de louco esse nosso! - disse ela sorrindo - Você ficou me
olhando sem falar nada, então perguntei o que foi.
- Eu? Te olhando sem falar nada?
- Olha, esquece! Você vem sempre ao parque?
- Já vim mais no passado, hoje estou pagando uma divida para meu filho.
- Pois é, dever para filhos é um pecado que se paga aqui mesmo, pois sempre que puderem vão te cobrar pela "promessa não cumprida" pelo resto da vida. Disse ela com olhos brilhantes e inquisidores. Sócrates quase mergulha em contemplação
novamente, mas dessa vez se tocou e perguntou:
- E você, vem sempre ao parque?
- Ah, sim. Quase todos os finais de semana estou aqui.
- Hummm, legal.
- A sua esposa não veio?
- Não, ela ficou em casa fazendo o que ela mais gosta de fazer: arrumar a casa.
- Nossa! Mas que diversão insólita essa...Eu limpo minha casa uma vez por semana e vou dando pequenas manutenções no decorrer da semana.
- Ah, quem dera Xantinas fosse assim.
- Xantipas é o nome da sua esposa?
- Sim, é! E por falar em nome, qual o seu?
- Cleópatra!Mas pode me chamar de Cléo.
- Muito prazer Cléo, meu nome é Sócrates...
E ficaram conversando prazerosamente durante um tempo, ora falando sobre amenidades, ora sobre assuntos de interesse comum. Cléo exercia sobre Sócrates um fascínio grande por sua beleza e leveza de gestos e de tempos em tempos caia em contemplação, deixando-a sem graça, mas já aceitando esse olhar perdido de Sócrates para cima dela.
Ela disse ter vindo de um casamento que no começo foi lindo, mas que depois tornou-se uma relação egoísta, não eram mais cúmplices em seus atos. O ex-marido havia escondido informações que para ela acreditava ser decisões que tomavam juntos e ela por vingança, calou-se. não dando mais nenhuma direção ao que ela chamava de "Nós dois", tratou de cuidar de sua vida mais intensamente fazendo apenas o essencial de casa. Sexo, faziam mais, beijos muito menos. Devagar, mas nem tanto, foram se distanciando ate que no momento em que mutuamente decidiram separar-se, ficaram felizes com a ultima decisão em conjunto que tomaram. Cada um foi para seu canto e desde então passou a cuidar mais de si mesma. Emagreceu, rejuvenesceu e sentia-se sinceramente mais feliz.
Sócrates por sua vez, contou a turbulência de seu casamento, contou também sobre o "Dia da Fênix" e tudo o mais que tornava seu casamento semelhante ao desfecho do casamento de Cleópatra, mas que era insistente, acreditava que isso
era uma fase ruim mas que com o tempo passaria.
Sótipas, com ar curioso, veio sentar-se ao colo do pai e foi inquirido por Cléo:
- Nossa! Que menino bonito! - Disse ela com olhar brilhante e encantador, parecia literalmente uma fada.
- Qual o seu nome mocinho?
- Sótipas Haurus Primus Harpia! - Respondeu Sótipas como se estivesse lembrando de um texto dificilmente decorado.
- Nossa! Que nome lindo o seu!
Aos olhos de Sótipas, Cléo também era bonita e suas madeixas negras, caídas ao longo do rosto davam a ela uma idade muito menor que realmente tinha. Sentado no colo do pai, bocejou evidenciando um certo cansaço.
- Quer descansar em meu colo? - Perguntou Cléo, com ar ainda mais mágico.
Sótipas sentiu-se à vontade e Cléo juntou o vestido no meio de suas pernas para fazer uma almofada improvisada, deixando joelhos e parte de suas coxas alvas a mostra. O instinto predatório de Sócrates se inflamou naquele momento, mas foi rapidamente substituído por uma grande ternura ao ver o filho aninhando-se por entre as pernas dela e perguntou:
- Tem filhos?
- Infelizmente não. não deu tempo. O casamento acabou antes de uma seria tentativa a esse respeito.
- Entendo...Mas ainda tem esse sentimento? Essa vontade?
- Tenho muito, mas infelizmente isso não será mais possível..... - Cléo disse isso olhando de forma materna para Sótipas e Sócrates sentiu-se como num sonho onde aquela poderia ser sua esposa, uma moça bonita, mas mais que bonita era incentivadora de atitudes que ele gostava; a introspecção, a persistência e a capacidade de transcender pensamentos complexos, tornado-os simples, concisos.
- Veio-lhe a imagem de Xantipas que tinha aquele ar de mulher que não pensava, fazia!
E numa rápida comparação entre as duas chegou a um desejo inusitado: seria tão bom ter as duas fundidas numa só. Mas era impossível e tratou de acordar rápido de seu sonho.
Cléo agora passava a mão no rosto de Sótipas que curiosamente tinha adormecido e observava o lago. Ela pensava no passado, onde, num dia qualquer, ela e seu antigo amor também estavam sentados ali fazendo juras de amor e que uma parte
de seus sonhos também morrera. Queria sugerir a Sócrates uma nova família, ou simplesmente pedir um abraço, mas isso não cabia para pessoas que tinha acabado de se conhecer.
Olharam-se os dois, longamente e em silencio, tateando no olhar, alguma pista do que cada um estava pensando ou sentindo. Olharam mutuamente para suas bocas e sentiram uma correspondência estranha abalada pelo despertar de Sótipas.
- Bem, agora que esse menino lindo acordou, creio que esta na hora de ir embora. - disse Cléo enquanto Sótipas levantava-se confuso sem saber o que tinha acontecido. Levantaram-se todos enfim, e ela despediu-se de Sótipas com um beijo, quanto a Sócrates, mais um olhar e uma palavra:
- Adeus...
- Adeus, Cléo...
Ela saiu a caminhar com a mesma leveza no qual chegara, mas Socrates já era outro homem, não por estar apaixonado, mas por ter reencontrado sentimentos a muito esquecidos dentro dele. Estava simultaneamente leve e denso.Leve por ter
entrega a Cléo um pouco de suas frustrações e denso por ter recebido tanta emoção em tão pouco tempo. Estava feliz. Sótipas sentado a beira do lago, recebe uma ordem do pai:
- Filho, corre!!!
- Por que, pai??
- Por que o pai vai te pegar!!!! - E saiu correndo atrás de Sótipas mais uma vez que lembrara-se da brincadeira e gritava sorrindo com a perseguição, mas logo a frente havia uma poça de lama de cor preta e fétida no qual Sótipas, por
acidente, fez questão de mergulhar. Sujou-se inteiro e foi socorrido pelo pai. Num primeiro momento Sócrates o confortou do susto e do choro tratando de limpar rapidamente com água do lago o que podia em Sótipas. Dirigiram-se para a saída do parque e encontraram um telefone publico. Sócrates ligou a cobrar para casa e esperou atender e assim que o sinal de chamada a cobrar começou a anunciar-se, desligou. Era mais um código conhecido dos dois que significava: "Estou indo para casa."
E para casa foram.
Xantipas desligou o telefone e correu para a cozinha a fim de pegar a nova toalha de mesa e arruma-la para o almoço que seria depois das 15:00hs, o que era comum aos finais de semana. Lembrou-se que a toalha nova estava passada no
guarda-roupa, dirigiu-se ao mesmo, abriu a porta e procurou a toalha. Estranhamente notou que as roupas estavam foram da ordem que havia colocado. Encontrou a toalha lá embaixo e ao puxa-la, vieram juntos dois envelopes. Eram contas vencidas.
Uma cena que infelizmente para ela tornara-se rotina. Sócrates poderia ser bom pai, bom amigo e amante, mas para concepção de bom marido na visão dela,faltava-lhe muito. Era totalmente displicente com dinheiro, comprava o que tinha vontade, fazia doações a torto e a direita, não pensando no fim do mês. Mas o fim do mês sempre vinha e com ele, uma infinidade de contas que ele prometia pagar, sabe-se lá como e de quando em quando apareciam algumas contas escondidas aqui e ali. Um constrangimento geral. Xantipas estava infeliz e arrependida, acreditou que ficar em casa em prol do casamento garantiria-lhes mais paz na vida a dois. Uma vida mais familiar e próxima, diferente da que ela tinha de seus pais que eram separados desde muito nova. Igualmente aos pais de Sócrates que também era separados, ela queria que sua historia fosse diferente. Depois do "Dia da Fênix", resolveu por conta própria, parar de trabalhar e dedicar-se somente ao lar e a família.
Forrou a mesa. Amargurada, mas firme. Restava ainda uma gota de discernimento e esperança e lentamente foi se acalmando ou se contendo. Foi para a cozinha pegar os pratos e talheres e ouviu a porta se abrindo. Foi a ate lá para informar sobre o almoço e deu de cara com aquela visão do inferno. Sócrates suado e queimado do sol, trazendo pela mão uma criança que parecia ser seu filho, mas não quis acreditar que o era frente a imundice e mal cheiro de Sótipas.
- O que aconteceu? - Perguntou Xantipas com um ar de indignação.
- Ele caiu numa poça. - Respondeu Sócrates como se aquilo fosse o óbvio.
- E você não poderia ter impedido ele de cair?
- Como?? Estávamos brincando. Ele estava correndo e caiu. Pelo menos não se machucou!
Outra coisa que tirava Xantipas do serio, era a trágica mania que Sócrates tinha de ver sempre o lado bom.Fazendo com que coisas ruins fossem vistas de forma mais brandas do que realmente eram. Sempre que podia, racionalizava os fatos como corriqueiros e comuns,nisso, ela se consumia de raiva.
- Sótipas, vai já para o banho! - Disse ela num berro, enquanto Sótipas foi encaminhando-se para o banheiro com cara de choro.
Sócrates o acompanhou, achou aquele berro de Xantipas totalmente incoerente e também ficou irritado. Ajudou o filho no banho, tratando de lavá-lo bem para tirar toda aquela sujeira e minutos depois estavam os dois, pai e filho, sorrindo e brincando de novo.
Xantipas apareceu na porta do banheiro e anunciou:
- Sócrates, para de brincar com água, o almoço já esta na mesa!
- Ta bom, ele já acabou. você pode colocar uma roupa nele enquanto eu arrumo o banheiro?
- Vem Sótipas, vamos por uma roupa. - disse Xantipas pegando Sótipas enrolado na toalha na porta do banheiro. Foram os dois para o quarto e Sócrates recolhia a roupa suja de Sótipas que ficara ali espalhada pelo chão. Foi ate área de serviço e depositou as roupas num balde. Voltou para o banheiro a fim de lavar as mãos sujas daquela lama preta que ficara em suas mãos apos recolher a roupa.
Apoiou-se na pia, abriu a torneira só um pouco, deixando um filete de água escorrer pelas costas da mão e nesse instante caiu em introspecção. não esfregava as mãos, deixava apenas o filete cair nas costas da mão e seu pensamento foi buscar o sorriso de Cléo.
Nesse instante Xantipas passa na frente do banheiro e vê aquela cena vegetativa de um homem que parecia feito de pedra, de tão imóvel que estava, pensando sabe-se lá o que com a torneira a desperdiçar água.
- Brincando com água de novo, rei Sócrates - falou Xantipas com um ar que parecia impaciente.
Sócrates fechou a torneira com força e naquele momento teve vontade de dar uma má resposta, de xingar ,mas conteve-se, era importante manter a paciência naquele instante. Ele saiu do banheiro e os dois quase batem de encontro um com o outro.
Ele vai para o quarto pisando duro e ela foi levando Sótipas para a mesa, a fim de almoçarem todos juntos. Ela colocou a comida do filho e voltou para o quarto para pegar o prendedor de cabelos que havia esquecido ao vestir o Sótipas. No caminho ao chegar perto da porta do banheiro, viu uma gota preta no chão, mais outra logo à frente, e outra e mais outra fazendo como se fosse um caminho revelando por onde Sócrates tinha passara com as mãos sujas ao sair do banheiro sem te-las lavado.
Explodiu num grito! Aquilo já era demais para ela. Aos berros de ódio e choro foi correndo ao encontro de Sócrates e encontrou-o no quarto, sentado na cama com aquele olhar de peixe morto, com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos juntas fazendo uma pequena poça de sujeira no chão. Ao vê-la vindo ferozmente para o lado dele, levantou-se sem entender e ela, com as mãos em forma de garra começou a arranha-lo e gritava:
- Sócrates, desgraçado! Eu não agüento mais, eu não agüento mais!! Eu não sou sua escrava nem sua empregada!
Xantipas estava ensandecida e arranhava-o, batia, chutava-o. No começo ele se defendia mas agora revidava com empurrões e dizia, visivelmente alterado:
- Ta louca Xantipas!?!
- Louca o cacete, Sócrates!! Vai a merda! - Dizia aos berros e soluços - Só porque eu cuido da casa você acha que tem uma empregada para limpar sua sujeira a hora que você bem entender. Eu não vou limpar mais porra nenhuma! Eu trabalhei como louca hoje e olha como essa casa esta? Olha, inútil!!
E batia, chutava-o mais e unhava-o com toda a força que tinha. Tanto que quando algumas de suas unhas encontravam a pele de dele, arrancavam pedaços. Sócrates segurou-a forte pelos braços e jogou-a na cama violentamente. Ela bate com o rosto na cabeceira da cama e fica lá deitada, chorando e dizendo:
- Eu não agüento mais,eu não agüento mais...
Sócrates sai do quarto com voz irritada e brada:
- Vou comprar cigarro!! - Sai batendo a porta desce pelas escadas do prédio ate a rua.
Xantipas fica deitada chorando e sente uma mão leve em seus cabelos, era Sótipas que chorava baixinho, perdido no meio da gritaria recente. Ela levanta-se a abraça-o dizendo:
- Desculpa filho! Não foi nada,vai passar, vai passar!!
E ficou abraçada com ele ate que ele se acalmasse e adormecesse e já tarde da noite levanta-se da cama com uma dor de cabeça horrível. No relógio marcavam 23:00hs e Sócrates ainda não tinha voltado. De repente, ela tem um estalo, Sócrates não fumava!! Ela percebeu o fim, mas não chorou, havia um misto de tristeza e leveza em seu ser. Ela sabia que a Fênix não ressuscitaria das cinzas nunca mais.

* * *

...e depois de relembrar tudo isso, abriu-os novamente. Estava a quilômetros de casa, apenas com a carteira e a roupa do corpo, percebera que tudo havia acabado. Viu que desde o dia em que tentaram voltar e reatar o relacionamento, ao qual chamaram esse dia de: O dia da Fênix, seus corações já estavam acumulados um do outro. não souberam e não quiseram mais zerar os pontos de cada um. Trabalharam juntos por idéias diferentes e cometeram os mesmos erros de forma diferente. Tornaram-se independentes um do outro sem se importarem com o que tinha-os unido no começo e no recomeço. Ele ficou esperando mudanças dela que nunca vieram e talvez por retaliação ou falta de vontade, também não quis mudar e nem mesmo dialogar sobre o assunto percebendo que ela é quem esperava que ele mudasse primeiro e nessa queda de braço, perderam a chance de reaver o que tinham de mais precioso, que não era o casamento e sim o Amor.



FIM
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