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cronicas-->Rio & Boêmia -- 02/07/2000 - 12:47 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um boêmio santa-ritense no Rio, em pleno Estado Novo

Origens
O persona desta semana traz para o leitor algumas histórias e um traço da vida do senhor João Pinto Vilela Júnior de 86 anos de idade. Natural de Santa Rita do Sapucaí, vindo de uma família de agricultores que tinha uma pequena fazenda, Pinto Júnior nasceu no dia 20 de agosto de 1914. Os pais dele são: João Pinto Vilela e Elisa Benedita Vilela. Filho de uma família de classe média nos idos da década de 20, ele concluiu o curso ginasial no ano de 1930, quando, a partir deste ano começa a lecionar a disciplina de Educação Física aqui na cidade. Com a cabeça voltada para a realização de um curso superior, com vistas a medicina, ele recebe do pai todo o apoio necessário para se mudar para a cidade maravilhosa, São Sebastião do Rio de Janeiro. A ida ocorre no ano de 1934, ano em que Getúlio Vargas se prolonga mais três anos no poder fechando o Congresso Nacional.
A viagem para o Rio de Janeiro ocorre num mês de verão. De Santa Rita do Sapucaí ele segue até Cruzeiro. Daí pega a locomotiva que atravessa toda a Serra da Mantiqueira e a Serra da Itatiaia até chegar na estação ferroviária do município do então Distrito Federal. Chegando lá a preocupação número um do jovem João Pinto Júnior é em se matricular no curso de medicina da Praia Vermelha, inicia os estudos complementares para adquirir uma vaga na faculdade. Realiza várias provas de seleção, mas como ele mesmo diz não consegue acompanhar o curso por falta de uma base ginasial, fazendo assim ele desistir do sonho de se tornar médico, mas não o de abandonar a capital do Brasil.

Boêmia
Com o abandono do curso complementar, ele passa a se dedicar exclusivamente aos prazeres da cidade mais encantadora do mundo. Cassino da Urca, Copacabana Palace, Hotel Atlàntico, Cassino de Caraí, a praça Mauá, a praia do Flamengo, do Botafogo, de Copacabana, de Ipanema, da Gávea, do Leblon e de São Conrado. Realizando alguns bicos para ajudar a se manter e trabalhando como vendedor de um laboratório, ele e mais alguns amigos da turma de Santa Rita aproveitam o que há de bom na noite carioca.
Cercado pela família Luna: Cyro, Rubens, Hélio e Mário e mais as presenças de amigos como Aristeu Caputo e do xará João Pinto de Almeida, eles realizam as mais divertidas andanças pelos redutos da boêmia carioca na década de 30. Com o xará João Pinto de Almeida, eles saiam acompanhados com o filho mais velho do ditador Getúlio, Luthero Vargas e seus capangas, Muza e Orlando, em direção às boates. Nessa vida de intensa atividade pelos bares, ele chegou por várias vezes estar frente a frente de Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Orlando Silva, as irmãs Aurora e Carmem Miranda, o folclórico cantor norte-americano Nat King Cole entre outros.
"Seu Pinto", como é mais conhecido, costuma dizer que antigamente o acesso as personalidades do meio artístico era bem mais fácil do que hoje, pois os atuais cantores precisam se isolar em cordões de segurança que só afastam o público, mas não os chatos. Para ele o ponto alto da boêmia carioca se localizava na avenida Barão do Rio Branco ou na avenida Mem de Sá, onde cada cabaré tinha sempre uns dez músicos bons. Com a turma de Santa Rita, ele zarpava todos os sábados para Niterói, onde ia através da Barca da Cantarerinha para a ilha de Paquetá.
De acordo com "seu" João Pinto que morou sempre no Flamengo quando residia no Rio, os finais de semana eram agitados seja na primeira pensão onde morou, a pensão do conterràneo Zico do Dudu ou em outras por qual ele passou. Mas as festas boas que ele frequentava eram realizadas no apartamento do senhor Batista Júnior, o pai das irmãs Batistas (Linda e Dircinha). "A vida no Rio era calma, bem diferente de hoje, a ditadura getulista só era dura mesmo com os bandidos, para nós que gostávamos de curtir a vida existia liberdade, os bandidos não piavam", diz. Porém com a morte do pai em 19 de dezembro de 1937 ele precisa voltar para Santa Rita para ajudar a tocar a fazenda e os negócios que o pai deixara. Aqui termina a vida boêmia de João Pinto Júnior.

Fama de dançarino
A fama de dançar bem não se espalhou somente no Rio de Janeiro e também não foi lá que ele aprendeu a dançar. Ele conta que o aprendizado da dança se deu nos pagodes da roça que ele frequentava quando moleque morava na fazenda do pai. De tango, samba, marcha, bolero ele entedia quase tudo, tirava de letra os passes mais difíceis, as mulheres se gabavam para dançar com ele. Segundo ele o aperfeiçoamento das danças aconteceu no Centro Operário e nas Escravinas, "ali era bom demais", recorda com saudade. Uma frase que "seu" Pinto não para de comentar é: "a vida é um sofrimento, temos é que nos divertir".
Já sem a boêmia e prestes a se casar, ele vende as terras e vem para a cidade onde trabalha durante 35 anos na Secretária Estadual de Agricultura até se aposentar por tempo de serviço. O casamento de João Pinto Vilela Júnior se dá com a senhora Nazaret Ribeiro Pinto, filha de Inácia Ribeiro da Luz (Dona Zica) e António Arlindo Ribeiro, em 30 de setembro de 1947, com quem teve e criou os filhos José, Danilo, Álvaro, Elizabeth e Adriana.

Texto publicado no jornal Minas do Sul em primeiro de julho de 2000
Escrito em 30 de junho de 2000
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