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Artigos-->Diálogo com Jose Inácio V. Melo (Entrevista de JGN) -- 12/07/2014 - 12:19 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O ABISMO DA CRIAÇÃO DE UM POEMÁRIO SOLAR - DIÁLOGO COM O POETA JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO.1 de outubro de 2012 às 23:59.Por José Geraldo Neres



JIVM: "Cada vez mais minha poesia caminha em direção às fontes primordiais, como quem busca encontrar o que não tem nome e ver o seu semblante e entrar na sua paisagem e comungar com o instante".



Há anos tenho acompanhado a trajetória do poeta, jornalista, produtor cultural e mítico centauro José Inácio Vieira de Melo. O gesto virtual facilita minha chegada a Jequié (uma de suas moradas). E logo em seguida estamos sentados na  fazenda Pedra Só, que fica entre as cidades de Maracás, no Vale do Jiquiriçá, e de Iramaia, na Chapada da DiamantinaNo notebook, folheamos o livro Pedra Só, que ainda não estava no formato papel. Os cavaleiros Moisés e Gabriel, seus filhos, riem do meu jeito de concreto. Não sei lidar mais com cavalos, na infância era outra história...



Mas o que interessa, agora, é dialogar com este singular poeta e saber um pouco mais sobre seu novo rebento poético, Pedra Só,  que chega junto à primavera e começa a galopar por esse Brasil sem fronteiras.



 



José Geraldo Neres – Na terra do sol a pino, a natureza tem nas mãos todas as cartas e regras. Vejo a aproximação de um centauro escarlate. Na sua sombra cabem os aboios de todos vaqueiros e as cantigas de todos cantadores: antepassados daquele chão. No matulão: os livros anteriores e toda mística do aprendizado. Carrega nos ossos e na pele:Pedra Só (Escrituras Editora, 2012)Seus cânticos, José Inácio, cavalgam a revelar “as águas antigas” e “o poeta, o fogo, o cavalo”. Onde é a nascente deste galope?



 



José Inácio Vieira de Melo – Na origem do sentimento. Como está dito no poema “Pedra Só – XXV”: “A legião de vaqueiros / que me acompanha e que entoa, / na origem do sentimento, / o que a palavra não diz / mas a voz aboia”. Cada vez mais minha poesia caminha em direção às fontes primordiais, como quem busca encontrar o que não tem nome e ver o seu semblante e entrar na sua paisagem e comungar com o instante. E nesta busca há o desejo de trazer esse algo primo e vero para dentro do meu verso. Cada vez mais tomo consciência de que minha vida está intrinsecamente ligada a esta brincadeira que é a poesia. Mas existe coisa mais séria do que o ato de fazer o poema? Com a alma inquieta e buscando alento na linguagem – mesmo quando esta vocifera contra o Cosmo – vou conferindo para a ilusão do ser os efeitos da Natureza, que me banham no fogo sagrado da poesia. Eis a gênese.



 



JGN – “E eu regresso e lembro que fui, que sou e serei / um cavaleiro cozido nas brasas do Sertão, / dentro dos couros, com o sol no espinhaço, / no meio do tempo, no meio dos tempos”. Entrar nesta paisagem, comungar o verso dentro do verso: seria a necessidade de mergulhar com cavalo e éguas e tudo mais no abismo da criação?  “Passar o laço de seda / no mourão do sentimento / e escutar só a queda”. A queda transforma o medo? Quais são os medos do velho menino centauro? 



 



JIVM – Penso que se não houver  um mergulho no abismo da criação não haverá arte, ou seja, o resultado do que foi feito não se afirmará como uma obra de arte, será algo superficial e, como tal, não trará vestígios das regiões abissais do ser. Mesmo aqueles que pretendem apenas quebrar o marasmo, têm que instaurar na sua criação um relampejo que suscite no receptor, na pessoa que aprecia, alguma lembrança de algo que não viveu, mas que está incrustado na sua essência. Essa sensação pode provocar um enorme incômodo. Por outro lado, pode, também, proporcionar um encantamento, uma epifania.



A queda, da qual falo no poema, é do boi-medo. É preciso se encourar de coragem para laçar o medo e sustentá-lo no mourão do sentimento, que aí ele não resiste e, mais cedo ou mais tarde, cai. Porém o medo é plural: não é uma rês, é rebanho. E o velho menino centauro, que adora voar aos galopes pelos sertões, ainda tem medo de se desnudar ao público. E, vez em quando, veste o gibão da coragem e entra na caatinga braba para pegar o desgarrado “boi encantado e aruá” do medo. Mas, paradoxalmente, se meu boi morrer, o que será de mim?



 



JGN – “Um adolescente de couro moreno / que entrava no desembesto de um alazão / sonhando em chegar à lua / e abraçar a sua face de pedra / e beber as suas águas fêmeas” – Desnudar a palavra, a palavra dentro da palavra, a palavra a comer a palavra. Como arriscar-se nesta encruzilhada da libido, do erotismo, da sensualidade sem cair na facilidade que possa levar o texto à banalidade e à vulgaridade? Como tratar deste eixo temático, que aparece mais explicitamente nas suas últimas obras? Existe uma preocupação sua ao tocar neste assunto?



 



 JIVM – Mas fazer poesia é correr riscos o tempo todo! Quem busca inaugurar sentidos não dá a mínima para o que quer que os outros pensem, digam ou deixem de dizer. E o meu caminho é este – o de desnudar a palavra e de exibi-la explicitamente para que se possa ver toda sua pureza e/ou toda sua luxúria, ou ainda, desnudá-la para lhe dar uma nova roupagem, uma indumentária que desperte em quem me reconhece um olhar estrangeiro e, em quem me é estranho, um relampejo de irmandade.



Trato de qualquer assunto da maneira que for preciso, do jeito que o assunto se impõe dentro das formas que vou criando. Mas percebo que há uma grande diferença do erotismo concupiscente do Roseiral para os gestos pastorais com que se apresenta, agora, noPedra Só. Não me pré-ocupo, mas no bojo do que estou fazendo, ou seja, da minha ocupação criativa, há sempre uma atenção que busca a tensão dentro do verso, que, na maioria das vezes, não se resolve imediatamente após o ato da criação. É necessário que haja um tempo para que a poeira assente e então eu comece a poder vislumbrar se os versos estão bem assentadas na fundação poética.



 



***



Para ver mais clique em: O ABISMO DA CRIAÇÃO DE UM POEMÁRIO SOLAR - DIÁLOGO COM O POETA JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO



 



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