Após a formação da chapa, José Serra começou a sentir-se incomodado com algumas idéias que o atormentavam.
Sonhava, em silêncio, com demonstrações de afeto em público, com todo o respeito, entre ele e sua bela vice a deputada Rita Camata. Achava que renderiam pontos percentuais nas pesquisas, os tão sonhados carinhos entre ele e Rita.
Pegar na mão e levantar os braços num palanque era muito pouco. Insuficiente numa composição eleitoral daquela magnitude. Tinha que haver algo mais. Não podia ser agressivo e nem ingênuo. Deveria ser ao natural.
Há poucos dias, na solidão do quarto do hotel, tinha observado atentamente uma foto do comício de Lula na capa de um jornal gaúcho. Todos de mãos dadas e braços erguidos. Paim, Emília, Lula, Tarso, Olívio e Miguel.
- Que foto! Isso sim é unidade partidária no palanque. -comentou com sua assessoria no café da manhã.
O Lula estava de mãos dadas com a senadora. - com todo respeito, bela morena de Livramento. - comentou o candidato com seus acompanhantes no desjejum.
- Outro dia Lula estava de mãos dadas com a Rosinha no Rio de Janeiro, agora com a Emília aqui no sul. E eu meus senhores? - os parceiros de mesa entreolharam-se. - Quando não é a mão do Padilha é a mão do Pratini.
Serra sempre achou que deveria haver uma demonstração de unidade na chapa Serra/Rita. Um trabalho em conjunto. Um afeto respeitoso. Que não desse motivo para falatórios de alguns jornalistas ávidos por fofocas.
Nunca quis sugerir sua intenção aos marqueteiros. Guardava, tais sentimentos, para si sem divulgá-los a ninguém.
Talvez Rita não gostasse da idéia, pois poderia pegar mal. Uma campanha política é coisa séria e sempre haveria alguém para misturar as coisas. Além do mais, ele, Serra, era um gentleman.
Tudo estaria na mesma se não fosse o mini-comício em uma churrascaria em Porto Alegre.
Após ter degustado vários cálices de um cabernet sauvignon da Reserva Miolo, sempre salientado que apreciava a qualidade do vinho brasileiro e que nunca havia tomado Romanée-Conti, um vinho de burguês.
- Imagina, R$ 6.000,00 a garrafa. A pequena burguesia é que gosta de Romanée-Conti, principalmente, acompanhado com frutos do mar. - Serra sorria, com gosto, da própria piada.
O Miolo jorrava para os cálices naquela animada mesa.
- Excelente. Um primor de buquê, carvalho, leve, aveludado. Etc.etc.etc.
- Esse vinho é tão bom que só pode ser da serra... da serra gaúcha é claro. - complementava o espirituoso candidato social democrata.
Com a notória ajuda do vinho tinto, Serra estava inspirado naquela noite.
- Presidente! Hoje o senhor está impossível. - comentou um conviva.
Na mesa, toda a cúpula de PMDB/PSDB em solo gaúcho. Serra, Rita, Rigotto, Padilha, Hohlfeldt, Simon entre outros. A animação era intensa.
Como diz Umberto Eco em O Nome da Rosa. "O vinho impele à apostasia".
Foi aí que de repente Serra silenciou. Meditativo, sorveu mais um cálice do Miolo e pensou com seus botões. - é hoje que eu beijo a Rita.
Fechou os olhos virou para o lado.
- Ssssmmmaaaaacc! Oh! Beijo gostoso.
Quando sentiu a rugosidade da pele do gringo de Caxias era tarde demais. Havia beijado Germano Rigotto, candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Os flashes das máquinas fotográficas registraram a atitude do carinhoso presidenciável.
- Rigotto que tu fazes aí, à minha esquerda? Tu não estavas à minha direita? Rita deveria estar aí no seu lugar...
- Meu presidente, a Rita está do outro lado, para beija-la tens que virar à direita.
Rita estava à s gargalhadas, enquanto Serra, indisfarçável, sorvia mais um cálice do tinto da serra gaúcha.
- Eu ainda beijo essa loira. - comentou baixinho para Rigotto.
- Presidente...