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Contos-->Os animais, gatinho -- 02/08/2000 - 08:42 (gilberto luis lima barral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os animais – não que a experiência anestesie a dor


O gatinho do esgoto-

Chovia torrencialmente no dia em que eles nasceram. A progenitora, uma gata experiente em partos nos telhados, deixando-os à sorte e à chuva que não era pouca e aos trovões e raios, saiu para ir cuidar dos passeios que há muito eram a sua única diversão na vida. Foi embora, outro dia apareceu, mas não ficou.

Dos filhotes sobrou um que a água da chuva levou através da calha para a recolhedeira e daí para a rede de esgoto. A insistência de seu miado incessante e lúgubre e o transtorno que causou com seu pequeno corpo a bloquear uma parte da saída de água foram os motivos delatores de sua existência no tal lugar. Tão logo detectamos o local exato do entupimento nos pusemos à solução do problema. Aberta a tampa da rede de esgoto encontramos a pequena criatura. Seu corpo estava coberto de uma camada de gordura imunda, de fezes e um amontoado de baratas o rodeava. Nosso vizinho que nos ajudava no serviço retirou o gatinho dali, deu-lhe um bom banho, alimento e o pôs na rua. Ele estava salvo depois de passar por aquela legítima prova de claustrofobia.

Bem vivo e com a situação vivida talvez vívida ainda se tornara muito esperto porém medroso. Salvava-se dos perigos fugindo deles. Então com medo de viver nas ruas insubordinadamente atrevia-se a invadir a nossa privacidade. Voltou pela rede de esgoto de onde o tiramos e passou a morar nela. Toda manhã bem cedo, às vezes ele atrasava e eu o encontrava de frente no corredor, ele voltava ao esgoto. A noite saía para rodar.







O tempo passava e nada de conseguirmos colocá-lo para fora de nossa casa. Tentamos então alimentá-lo e educá-lo mas ele não quis. Corria léguas principalmente de mim. Era estranho pois também não crescia. Não era por falta de comida pois acabávamos sempre por alimentá-lo. E também suspeitávamos que ele comia as baratas do esgoto. Elas sumiram desde a sua chegada em nosso quintal.

Passados seis meses e ele lá do mesmo tamanho. Aquela coisa magricela, arrepiada como se torcido e secado por uma máquina de lavar roupas. O seu aspecto se tornava mais estranho ainda nas desconcertadas carreiras em que se atirava ao ver um de nós abrir o portão de entrada. Ele costumava também dormitar no andar de cima no jardim. Quando era pego nesse lugar em flagrante a situação era mais cômica ainda no impulso para fuga escada abaixo ele ia do último ao primeiro degrau em duas passadas e infinitos rolamentos. Caia de pé e levava mais uns três tropeções até atingir a boca de entrada para o esgoto. E tudo com a gente simplesmente parado a observá-lo. Eu não sei do que ele tanto tinha medo.

É verdade que eu morria em vontades de atormentá-lo. Mas não o fazia pois tinha muito medo dele confesso. O seu aspecto era muito sombrio e eu andava muito triste e atormentado. Quando o via tinha presságios. Às vezes ele ficava na escuridão me fitando. Me dava um medo danado e eu o fitava também. Ele fugia e demorava para aparecer.

Numa dessas vezes apareceu sobre o muro enquanto eu digitava um texto. Pelo jeito que o descobri naquela posição é certo que estava a tempos me observando. Deve ter me achado tranquilo pois eu estava mesmo. Mas quando o vi foi a mesma coisa de sempre, o presságio. Daí ele olhou bem no fundo dos meus olhos e miou. Foi o primeiro miado que ele deu em vida. Quase cai duro. Seu ronronar vindo de suas entranhas era parecidíssimo com ele. Um miado horrível, seco e oco.

Fechei a porta do escritório para continuar o texto que escrevia mas não tive mais sossego. A imagem do gatinho não era a mesma. Comecei a memorizar a cena e percebi que ele tinha crescido. Depois desacreditei, pensei não ser ele. Quis abrir a porta para certificar-me mas não tive coragem. Lembrei-me da folclórica (ou não) história do gato que degolou o padre na sacristia. O medo aumentou. Fiquei trancafiado dentro do quarto com um medo de abrir a porta e dar de frente com o gatinho do esgoto agora enorme e sinistro à minha espera para um embate. Daí pude na claustrofobia de meu instante perceber a dimensão do sofrimento do bichano nos seus primeiros dias de vida apertado, miando desesperadamente de dentro da rede de esgoto.

Naqueles dias de seu nascimento embora o tivesse salvado da morte não soube cativá-lo e nem queria. Já tinha feito o que podia. e ele nunca se aproximasse de mim também nunca se dispôs a ir embora.

































O louro que foi para a prisão- Ele nunca mais assobiou ou grunhiu aqueles seus monossílabos idiotas.

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