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Contos-->Therezinha -- 31/01/2003 - 15:54 (Vinícius José Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Condutor filho da puta! Só porque anda comendo minha irmã pensa que pode me tratar como um simples irmão de uma puta? Condutor filho da puta!

- Cala a boca cara, senão te jogo daqui mesmo, com o trem em movimento, não espero nem chegar até a próxima estação! Cala a boca! Pensa que, porque ando com sua irmã e porque ela é bonita, pode ficar aí me dizendo o que quer e o que bem entende?

- Condutor filho da puta! Logo que chegar em casa, vou contar tudo para a Therezinha! Você vai perder a boquinha!

- Vamos ver quem vai perder a boquinha, seu merda, metido a cafetão da própria irmã! Isso, vai e conta tudo pra ela! Depois vamos ver quem é que vai soltar a grana, para aquela putinha sustentar a casa, cheia de marmanjos vagabundos e cachaceiros como você! Vai lá seu bosta, conta tudo! Quero ver!

Era o Trem Expresso da tarde, saía de Três Corações, nas Geraes, ao meio dia e chegava em Cruzeiro, estado de São Paulo, pela tardinha, entre seis e oito horas, dependendo do atrazo de cada dia. Pelo caminho, passavam pela janela, todas banhadas pelo Rio Verde, Cota, Carmo da Cachoeira, Conceição do Rio Verde, Soledade, Carmo de Minas, São Lourenço, Pouso Alto, Itanhandú, Passa Quatro, Cruzeiro. Todos os dias aquêle condutor cumpria a rota, comandante supremo do trecho no trenzinho Maria Fumaça da RMV - Rede Mineira de Viação. Os mais inconsequentes, que na maioria das vezes dependiam do trenzinho para ir a qualquer lugar mais longe do que cinco quilometros, a chamavam de RMV - Ruim Mas Vai.
Toninho devia ter seus vinte e dois anos e era irmão de Therezinha, que tinha lá seu dezenove, vinte anos, bonita, morena, olhos verdes, gostosa. Pobre, morava na Grota, a uns três quilometros retirada da cidade. Sem opção, porque não gostava de trabalhar como doméstica, porque todo patrão queria comê-la de graça, percorria a linha quase todo dia e fazia a vida, ganhando o pão e a cachaça de cada dia para o pai e os irmãos. Êstes já haviam perdido a vergonha e chegado à conclusão que era melhor viver às custas da putaria da filha e irmã do que enfrentar o eito todos os dias na roça, um dia capinando milho pelos morros secos, outro dia capinando arroz pelas varzeas alagadas, mal dando para comer, muito menos para comprar uma garrafa de cachaça para enganar a fome. A mãe, coitada, no início chorara e defendera a filha das surras do pai e do irmão, mas depois se conformara. Com o tempo e com a chegada do parco dinheirinho trazido todos as semanas para casa os matutos, mas não burros, chegaram a conclusão que bater em Therezinha estragava a mercadoria, cansava a menina e a consequência imediata era a queda da féria. Aprenderam a aceitar Therezinha e até a agradá-la e mimá-la, pois com o tempo se tornara, com seu corpo moreno, seu sorriso esverdeado e sua voz de veludo azul de tão macia, garantia da sobrevivência de cada dia.
Therezinha começara a vida cedo, mal tinha quatorze anos. No iníco achara doído, mas lá pela terceira ou quarta vez já começara a gostar. Trabalhava como doméstica na casa do seu Manélzinho, velho safado, que logo no primeiro dia já começara a roçar-lhe por trás ao cruzarem pelo corredor estreito da casa. Mas suportara quieta, desde o começo, mesmo porque Zezinho, filho de seu Manél, com os seus vinte anos, era um doce para os seus olhos. Moreno, alto, cabelos escorridos, musculoso da lida na roça, ai que vontade meu Deus, de agarrá-lo e mordê-lo! Por isso, e pelo pobre dinheirinho do fim do mês, suportava seu Manélzinho.
Um dia, ao abaixar-se para soprar o fogo de lenha que teimava em não acender, fumaça por toda a casa, os olhos vermelhos ardendo, não percebeu que o pobre vestido subira acima das nádegas, aquela bela bunda à mostra. Seu Manélzinho, passando pela porta da cozinha em busca do primeiro café antes de tomar o caminho do eito para fiscalizar os empregados, viu aquela cena divina e não resistiu. Ali mesmo atracou-se à Therezinha por trás e, tapando-lhe a boca com uma das mãos, sujeitando-a com a outra, comeu-lhe os três. A dor invandiu-lhe o baixo ventre e sentiu que as lágrimas provocadas pela fumaça de repente ficaram salgadas, ai meu Deus, que dor, assim nunca senti. Mas como não tinha mesmo jeito, a coisa já lhe entrara barriga adentro por baixo, relaxou, percebendo que assim doeria menos. O porco do seu Manélzinho, se mexeu pra frente e pra trás, de repente estremeceu, saiu-lhe de dentro e pela porta afora sem nem mesmo tomar o café que viera procurar.
Aos poucos a dor passou, embora ficasse o resto do dia toda dolorida. Ainda bem que Dona Mariinha ainda não se levantara, nem seu Zezinho. Seu Manélzinho levantava cedinho, era sempre o primeiro a sair. Só bem mais tarde aparecia o filho e, muito mais tarde ainda a mulher, já meio velhota e bem estragadinha. Therezinha chorou quieta o dia inteiro, aproveitando a desculpa da fumaça provocada pela lenha verde para deixar as lágrimas escorrerem dos olhos vermelhos pelo rosto. Assim, passando pela cozinha um depois do outro, nem Zezinho nem Dona Mariinha desconfiaram de nada, era a garantia da manutenção do emprego e do dinheirinho no final do mês.
No segundo e no terceiro dias que se seguiram ao estupro, Therezinha curtiu a dor sossegada, agora mais dor moral do que dor física, afinal já era mulher, completara há pouco seus quatorze anos, mas já sangrara pela primeira vez há mais de dois anos. Só no terceiro dia seu Manél deu de novo as caras, com um sorriso matreiro na boca desdentada, decorada com uma dentadura postiça com os dentes já bem pretejados pelo sarro do cigarro de palha com fumo de rolo, permanentemente dependurado pelos cantos da boca. Dessa vez foi mais cuidadoso, quase carinhoso, já não doeu tanto como da primeira vez, em cima do fogão de lenha, perto da trempe de ferro quente, de frente. Therezinha abriu as pernas para facilitar e não doer, que adiantaria resistir? Depois do vai e vem e do estremecimento final, seu Manélzinho enfiou a mão no bolso e deixou-lhe nas mãos uma velha nota de dois merréis, azul de um lado, amarela do outro. Pelo menos desta vez o velho bode filho da puta lhe pagava.
Por algum tempo aquilo se tornou rotina, duas vezes por semana, um dinheirinho a mais, agora Therezinha, bonita e vaidosa, arranjara meio para se vestir melhor, tornar-se mais bem arrumada, mais bonita, mais apetitosa. Não demorou para que Zezinho descobrisse o petisco que tinha debaixo dos olhos. Não demorou também para que descobrisse que o velho estava já saboreando o petisco pela manhã pois, ao levantar-se um dia depois de uma noite de insônia, mais cedo que o de costume, ouviu a bulha na cozinha e, chegando vagarosamente à porta, flagrou o velho nos estertores do gozo. O velho estava de costas, dentro da menina sentada no fogão perto da trempe, no meio da fumaça gerada pela lenha verde. Quando ela o viu na porta, olhando sobre os ombros do bode velho, estremeceu, suplicou com os olhos para que Zezinho não se revelasse. Êste, também um grande filho da puta como o pai, ou maior, entendeu a súplica como uma promessa e retirou-se rápidamente para o seu quarto, deitou-se de novo e esperou o velho sair.
Bem mais tarde, tendo afinal caído no sono depois da longa noite de insônia, Zezinho levantou-se, logo lembrando do flagra em cima do velho logo de manhãzinha. Foi direto para a cozinha, mas lá estava Dona Mariinha, instruindo a menina sôbre o que fazer para o almoço, já passava das dez.

- Oi, Zezinho meu filho, que houve com você? Levantando a essas horas, seu pai já dever estar despachando o leite da fazenda para o laticínio. Que houve, está doente?

Virando-se para o lado para disfarçar dos olhos da mãe o volume que lhe crescera sob as calças, Zezinho, o grande filho da puta, respondeu à mãe:

- Não é nada, mãe, apenas perdi a hora, fiquei a noite inteira sem dormir, só consegui pegar no sono bem de manhãzinha, acabei por perder a hora. Também, a manhã já se foi, não adianta mais ir pra roça, o grosso do serviço já deve ter sido feito pelo pai. Ainda mais que hoje é sexta feira, vou alongar o fim de semana.

- Tá bem, meu filho. Mas espera aí um pouco, vou ali na padaria comprar um pão quente para o seu café. Volto já!

- Não carece, mãe, estou sem fome, deixa pra outra hora, argumentou o filho, filho da puta, evidentemente, lá por dentro torcendo para que a mãe realmente fosse para a padaria e o deixasse só com Therezinha.

- Volto logo, meu filho, é um instantinho só. Enquanto isso a Therezinha passa um café novo, viu menina? E juntanto o ato às palavras, Dona Mariinha saiu pela porta afora em busca do pão quentinho, da padaria do Seu Joaquim.

Tão logo a mãe saiu, Zezinho avançou sôbre Therezinha, enfiando a mão pela calçola da menina, agarrando aquela bunda quente, carnuda, gostosa, tantas vezes cobiçada nos ultimos dias, desde que Therezinha começara a se arrumar com o dinheiro do bode velho, agora já usava até calçolas coloridas, Zezinho tinha visto várias vezes quando a menina se abaixava para avivar o fogo sob a trempe do fogão. Therezinha não resistiu ao assalto, pelo contrario, derreteu-se no meio do abraço apertado de Zezinho, ah, meu Deus, não acredito, tenho agora nos braços o filho do velho bode, que tanto tenho cobiçado. Ai, meu Deus, não vou me aguentar!
Desta vez a coisa entrou-lhe pelo meio das pernas causando-lhe um inesperado prazer, aquele negócio grande e quente, não imaginara que podia ser assim tão bom. Sôbre a beira do fogão, ao lado da trempe de ferro, quente, abraçada ao Seu Zezinho, sem dor, Therezinha pela primeira vez gozou um prazer na vida, sentindo-se logo relaxada e satisfeita depois do vai e vem frenético e da explosão no estremecimento final do Seu Zezinho, tão diferente daquillo que acontecia com o bode velho, quando a êsse rotineiramente se sujeitava, sem resistir nem aproveitar. Não imaginara que aquele negócio, que tanto doera da primeira vez, pudesse ser assim tão gostoso. Ai, meu Deus, vai de novo Zezinho, tava tão gostoso.
Mas então o barulho no portão de repente veio interromper o sonho da menina, o moço rapidamente guardou dentro das calças seus documentos, ela viu-se levantando as calçolas vermelhas, se recompondo e, então, lembrou-se de colocar a água na chaleira para fazer o café.

- Então, menina, êste café sai ou não sai? Já era tempo de estar pronto, tive que esperar sair o pão quentinho!

- Já vai, Dona Mariinha, a louça do jantar de ontem ainda estava na pia, acabei começando por lavá-la primeiro. O café já vai sair. Seu Zezinho acaba de chegar aqui na cozinha para me lembrar que a senhora a qualquer hora chegava com o pão quentinho. É pra já!

Tão inocente e já aprendera rapidamente a disfarçar, a filha da putinha, aliás a nova putinha. Zezinho riu consigo mesmo e saiu para a sala ainda ajeitando a coisa meio dura dentro das calças, para esperar o café novo e o pão quentinho. Filha da puta de menina, é muito mais gostosa do que eu podia imaginar! O velho aí se esbaldando com o petisco pela manhã, eu sempre na mão, só hoje fui pegar a minha sopinha. Não vai ficar assim, neste fim de semana mesmo pego a menina para uma farrinha mais longa e sossegada!
Fora assim que Therezinha se iniciara na vida, logo cedo, com um pouco mais de sorte do que muitas, já ganhando o seu dinheirinho desde a segunda vez. Depois do velho bode veio o filho, que não pagava, mas com êsse era tão bom, não carecia. Logo, logo, porém, Therezinha descobriu que só os dois merréis de seu Manélzinho, apenas duas vezes por semana, já não dava para satisfazer suas necessidades. Começou a sair de noite e a chegar tarde em casa, logo seu irmão Toninho descobriu, bêbado filho da puta, também queria comer a própria irmã. Therezinha era puta mas tinha moral, resistiu aos assedios de Toninho até que um dia, êste vendo que não ia mesmo conseguir nada, contou tudo para o pai. O velho, outro bêbado filho da puta, também pensou em aproveitar-se da filha, mas sua formação de matuto e crente falou mais alto. Naquele dia, quando Therezinha chegou tarde da noite, estava esperando a filha, com a garrafa de cachaça já vazia, pescando de um lado e de outro com a cabeça, de sono e de fogo. Logo que Therezinha entrou em casa despertou e, à luz da lamparina, esmaecida e fazendo grandes sombras nas paredes, pegou no pedaço de vara de marmelo que trouxera da roça e deu-lhe a primeira surra. Sorte de Thereza, o velho estava tonto e com sono, não acertou muito, só umas e outras varadas de raspão, na última cambaleou, tropeçou nos próprios pés, estatelou-se no chão, ali mesmo dormiu.
- Toninho filho da puta, foi você que contou para o pai, não foi? Não contou pra êle que você também queria me comer? Filho da puta, um dia você me paga.
No outro dia, ainda com as costas meio ardendo das poucas varadas que o pai acertara, esperta a Thereza, oferecera as costas para não machucar a cara tão bonita e atraente, nem machucar a bunda, tão gostosa e cobiçada, saiu para a rua antes que o pai acordasse e, para curtir a ressaca, resolvesse lhe dar mais umas porradas.
Perambulou pela rua o dia inteiro, verificou pela primeira vez que de dia era bem mais difícil de arranjar programa, o pessoal só olhava e cobiçava, mas logo seguia o caminho, trabalhavam. Tinha dinheiro, não passou fome. Circulando, passou em frente da casa de seu Manelzinho, espiou pelo vão da janela aberta, rente à rua, percebeu que ali não tinha homem, só a velhota, foi-se embora.
Pela tardinha aproximou-se de casa, ficou descansando um pouco sob o Ipê amarelo agora todo florido, criou coragem, entrou. Pai e filho já estavam de novo tontos e, quando a viram, lançaram-se sôbre ela. Submeteu-se ao pai, dando-lhe as costas para a vara de marmelo, mas de frente para Toninho não conseguiu evitar a porrada bem no meio da cara. Therezinha não titubeou. Na segunda tentativa do irmão, conseguiu desviar-se e, de passagem, enfiou-lhe um chute bem no saco. Toninho caiu sentado pelo chão, encostou-se na parede gemendo e gritando.

- Filha da puta! Ainda por cima reage, pai! Além de andar com qualquer um aí pela rua ainda quer reagir! Dá nela, pai!

- Filho da puta é você! Já disse pro pai que você também queria me comer? Vai, conta, quantas vezes antes de lhe contar sôbre mim você também não tentou tirar a sua casquinha? Conta filho da puta!

Mesmo tonto, o velho se embasbacou ao ouvir aquilo. O filho, querendo comer a própria irmã, sua filha? Assim não dá!

Foi cambaleando em direção ao filho, deu-lhe duas ou três varadas na cara enquanto o filho da puta ainda massageava o saco dolorido, virou-se, apanhou a garrafa de cachaça ainda pelo meio, saiu pela porta, foi se afogar pelo resto da noite, sentado debaixo daquela mesma árvore onde a filha descansara antes de entrar em casa.
Entrando no pobre quarto, Therezinha olhou-se no espelho à luz bruxuleante da lamparina, viu que a porrada, embora lhe pegasse bem no meio da cara, não causara maiores estragos. O velho bêbado já não tinha forças nem mira para machucar ninguém. O filho da puta do irmão, depois daquele chute no saco, certamente pensaria mais de uma vez antes de tentar lhe bater novamente. Então, deixando aflorar de dentro de si o resto de ternura que ainda lhe sobrava, Therezinha lembrou-se da mãe que, logo ao saber de como agora ganhava a vida, entrara chorando pelo quarto e, também, relaxou e chorou. Agora, com quase dezoito anos, Therezinha já pensava como uma ulher calejada pela vida. Concluiu que, já que entrara naquela vida, ia tirar o máximo proveito dela. Naquela noite não saiu de casa, dormiu profundamente.
Logo de manhãzinha, levantou-se, arrumou-se com cuidado, nem procurou fazer um café pois pensou que certamente não haveria pó em casa e saiu rapidamente, dirigindo-se para a casa onde há quase três anos fôra estuprada pelo bode velho. Escutou a bulha na cozinha, não teve dúvidas de que era seu Manélzinho, a mulher e o filho sempre levantavam mais tarde. Bateu de leve na janela, o velho logo abriu e se espantou ao ver a antiga empregada, agora bem arrumada, toda pintadinha, um doce.

- Você por aqui, Therezinha? Há quanto tempo, hein?

- Pois é, seu Manél, resolvi trabalhar de novo como doméstica, o senhor não me quer de volta?

- Por mim tudo bem, respondeu o bode velho, já pensando nos velhos tempos, carne fresca de novo, quase de graça! Mas a Maria é quem resolve essas coisas!

- Está bem, seu Manél, deixa eu entrar, enquanto eu espero Dona Mariinha levantar, posso ir lhe fazendo o café.

- Entra menina, disse o velho dirigindo-se para a porta.

- Com licença seu Manél.

Passando pela porta, Thereza foi indo logo em direção à cozinha, ouviu seu Manél passando a tranca na porta da sala e logo em seguida correndo atrás dela, já lhe alcançando a bunda com as mãos. Thereza desviou-se, voltou-se sorrindo para o bode velho.

- Calma seu Manél, aqui não! É muito corrido, Dona Mariinha pode levantar a qualquer momento, deixa prá depois, mais tarde, no hotelzinho lá em frente à estação.

- Tem que ser agora menina, hoje não dá, tenho que voltar de tarde para a roça, hoje é dia de pagar os empregados.

- Então deixa pra amanhã, seu Manél, aqui realemte não dá!

- Vamos, menina, deixa aqui mesmo, vai ser rápido, estou que não me aguento mais!

- Aqui não dá, olha o barulho, deve ser a Dona Mariinha que acordou.

- Raios! Está bem. Hoje à tarde, no hotel. Por volta das três horas, vai ter que ser depressa, tenho que estar na roça às cinco.

- Tá combinado, seu Manél, o senhor não vai se arrepender.

O barulho era realmente da velhota no quarto, levantando, talvez estranhando a bulha na cozinha, desde que Therezina fora embora há mais de um ano, não arranjara outra empregada, o velho mesmo tinha que fazer o próprio café. Levantou-se, vestiu o velho robe sôbre a camisola e foi direto para a cozinha.

- Você por aqui, menina, o que foi que aconteceu? Alguém morreu? A velhota não tinha percebido a menina toda arrumadinha, gostosa, um petisco.

- Não houve nada, Dona Mariinha, apenasresolvi trabalhar de novo, a vida está dura, vim logo cedo. Seu Manél já disse que por êle está tudo bem, mas a senhora é quem resolve.

- Pois é, Maria, a menina tem feito falta por aqui. Talvez seja melhor mesmo que ela volte.

- Por mim tudo bem, Manél. Também, para que discutir, ela até já começou. Pode ficar.

Therezinha ficou por ali toda a manhã, fez o café, lavou a cozinha, arrumou a louça da véspera, deixou tudo um brinco. Depois do almoço, disse à velhota que precisava ir em casa arrumar suas coisas, trazer sua trouxa, enfim, voltaria no dia seguinte logo de manhãzinha.
Chegou em casa por volta de uma hora, o pai ainda de ressaca, dormindo, Toninho sumira, a mãe encostada no fogão de lenha, avivando o fogo, fazendo um pobre angú de fubá, para comer com o feijão aguado que sobrara do dia anterior. A vida estava dura, o velho não trazia nada para casa, o pouco dinheiro que ainda ganhava no eito gastava tudo na pinga. Toninho, um malandro, só aparecia pra comer, quando não tinha nada achava ruim, ameaçava a própria mãe.

- E você, filha, nessa vida, é a única que ainda traz alguma coisa para casa. Me dá uma pena, filha! Ver você assim, tão novinha e bonita, já se entregando a qualquer um por dinheiro!

- Deixa estar, mãe. Ontem, quando o pai me bateu e o Toninho ainda quiz ajudar, eu resolvi. Vou mudar minha vida, já estive hoje na casa de Dona Mariinha, vou voltar a trabalhar lá.

- Ah, minha filha, você não sabe que alegria me dá, vai voltar a ser minha filhinha.

- Tá bem, mãe, não vai ser bem assim, mas a nossa vida vai melhorar, isso eu garanto.

- Não quer comer um pouco, filha? É só feijão com angú, mas dá pra ir enganando o estomago até que as coisas melhorem.

- Não, mãe, já almocei na Dona Mariinha. Mas as coisas vão melhorar, isso eu garanto.

Logo em seguida, Therezinha pôs-se a arrumar-se, a melhor roupa, o melhor sapato, sombras arroxeadas sôbre as pálpebras, batom vermelho, cabelo solto, bem penteado. A mãe de Thereza nunca a vira assim, tão bonita, tão bem arrumada, ainda mais durante o dia, que surpresa.

- Onde você vai assim tão chique, minha filha? Está tão bonita!

- Vou numa festa com uns amigos, mãe, começa mais cedo. Tenho que ir de charrete até a cidade, senão vou me sujar toda, andando na estrada de terra, com essa poeira toda. A senhora não pode chamar o filho de seu João, lá no fundo da Grota pra me levar?

- Já vou, filha. É um instante só.

Por volta das duas horas, lá se ia Therezinha, de charrete, um luxo, em direção à cidade. Tonho, filho do seu João, embasbacado com aquela belezura, não conseguiu falar uma palavra durante o trajeto todo, que durou cerca de meia hora.
À porta do hotel, o porteiro magriço se espantou com a beleza de Therezinha, nem titubeou quando ela lhe pediu um quarto. Àquela hora? Nunca tinha visto nada igual. Nem pensou em negar as chaves do melhor quarto quando a moça lhe pediu.

- Quando seu Manél chegar, diz pra êle que estou no 27. Acorda, cara, ficou bôbo? Seu Manél, sim, no 27, viu? Não vá se esquecer!

Therezinha entrou no quarto 27, o melhor do hotel, com banheiro privativo, seu Manél, o bode velho pão duro ia chiar. Abriu a maleta, tirou o robe branco novo, despiu-se, foi para o banheiro, ia tormar um banho quente, relaxar. Depois do banho, verificou que tinha uns pelos crescidos em volta do monte de vênus, saindo pelas beiras da calcinha de seda vermelha. Não gostava da combinação vermelho e preto, flamengo, que merda. Procurou na bolsa, achou uma “gillette blue blade”, esquecera o aparelho de barbear. Que merda. Achou um lápis de sobrancelha, enroscou nêle a gilete, raspou os pelos, ia guardar tudo na bolsa, quando seu Manél bateu à porta, só podia ser êle, quem mais poderia ser? Deixou a gilete engastada no lápis sôbre o criado mudo, pulou da cama, abriu a porta.

- Oi, seu Manél, bem na hora, hein? Não atrasou nem um minuto, isto que é fome, hein? Sua menininha vai te tratar muito bem, vêm!

- Tem que ser rápido menina, tenho que ir daqui direto para a fazenda. O pessoal já vai estar esperando ansioso para o pagamento, se não corro vou chegar atrasado.

- Calma seu Manél, calma. Vem cá. Senta aqui na cama, vem, tira a roupa.

Seu Manél sentou-se na cama, tirando o paletó branco. Ao colocá-lo na cama, caiu no chão um maço de notas de cem merréis. Seu Manél nem ligou.

- É para pagar os empregados logo mais. Deixa aí mesmo, depois eu pego.

Thereza ficou meio séria. Deitou o homem na cama, foi lhe tirando as calças e a cueca suja, deixou o bode velho todo nú, a coisa meio mole, meio dura, pendendo de lado, um puta mau cheiro. Velho filho da puta, nem tomou banho para dar uma trepada. O que se tem que aguerntar nessa vida!

- Aí, menina, faz uma chupetinha, senão o bicho não sobe! Já estou velho e cansado!

Thereza, séria, não se deu por achado. Chupar aquilo, meio mole, todo sujo? Nunca! Com as mãos começou a acariaiciar a coisa, mas a coisa não subia.

- Uma chupetinha, filha, senão não sobe!

- Então vai ali no banheiro, toma um banho, lava êsse pau, seu Manél!

- Sua putinha sem vergonha, ainda mais enjoada! Que banho que nada, vai enfiando logo isto na boca, estou com pressa!

- Não custa, seu Manél, vai lá e lava. Não custa, vai?

-. Sua puta filha da puta, mete isso na boca! Anda logo!, gritou o bode velho. Anda logo, sem vergonha, mete isso na boca!

- Não faço isso, seu porco! Agora nem que lave, que tome banho! Bode velho sujo!

Nem bem acabou de falar, vermelha de raiva, Therezinha escutou o tapa zunir-lhe bem no pé do ouvido esquerdo, em seguida outro com as costas da mão bem na face direita. O velho deitou-se de novo de costas na cama, olhou para Thereza no chão, sangue ecorrendo-lhe pelo canto da boca!

- Anda, menina, vem! Uma chupetinha aqui no velho! Depois lhe dou um belo presente! Vem?

Therezinha se levantou humilhada, olhou de uma maneira diferente o velho, seria ódio ou desprezo? Sentou-se sôbre as canelas do bode, pegou-lhe o pau, fez-lhe uma carícia com as mãos, o bicho começou a subir, o velho foi fechando os olhos, todo excitado.

- Isso menininha, seja boazinha, uma chupetinha!

Therezinha foi abaixando a cabeça, conformada em botar aquele negócio meio duro na boca, olhando de esguelha para o velho que continuava de olhos fechados. Abriu a boca, que nojo, o que se tem que fazer nesta vida, pensou. Olhou mais uma vez para o bode velho, desviou o olhar para a direita, lá estava a gilete, enroscada no lápis de sobrancelhas, em cima do criado mudo.

- Ergueu-se rápidamente, pegou a gilete, desenroscou o lapis, com a mão esquerda agarrou com força aquêle negócio meio mole, meio duro, na mão direita a gilete, o bode velho com o movimento do levanta e senta da menina abriu os olhos assustado.

- Não chupo pôrra nenhuma, seu bode velho filho da puta! Chupetinha o caralho! E fica quieto, senão lhe corto essa coisa e lhe enfio no cú! Bode velho, sujo, asqueroso, mal cheiroso, não se lava nem para se divertir não é? Pensa que sou apenas mais uma de suas vacas, né? Ou uma de suas porcas? Filho da puta, pense em reagir e lhe corto esta merda que nem sobe, só serve pra mijar. E agora, o que é que você me diz? Onde está a valentia, onde estão as porradas?

- Pelo amor de Deus, menina, não faça isso, dou-lhe tudo que você quizer, mas não faça isso, o que a cidade vai falar, vai ser um escandalo!

O velho tremia e suava. Therezinha nunca vira tanta covardia assim na vida. De raiva, aproximou a gilete da borda da peça murcha e deu um pequeno talho, o sangue saiu e escorreu lento.

- Não faça isso, menina! Pelo amor de Deus não faça isso, pela alma de sua mãe! Não faça isso!

- Não ponha a minha mãe no meio dessa sujeira, filho da puta. Seu covarde, pra onde foi sua valentia? Enfiou no cú? Vamos, vire de bruços! Anda bode velho, anda, de bruços!

- O que você vai fazer? Tem dó de mim!

- Cala a boca, de bruços, vamos, agora!

O velho se virou, tremendo e suando, a bunda toda cagada pra cima. Therezinha quase vomitou de nojo, quase desistiu, mas resistiu. Arrancou o lençol da cama, rasgou fora a parte suja de merda, fez com a gilete quatro tiras, amarrou as mãos e os pés do bode velho na cama, enquanto êle gemia e suava. Depois, foi ao banheiro, pegou uma toalha molhada e lavou o homem da cabeça aos pés, por baixo e por cima, pegou uma colônia na bolsa, passou-lhe pelo corpo. Pegou a roupa de cama suja, levou para o banheiro, trancou a porta, voltou ao quarto, agora tudo limpo e cheiroso, o velho já mais calmo, com a cabeça voltada de lado, observando desconfiado os movimentos da moça.

Thereza remexeu a bolsa de novo, encontrou outro lápis de sobrancelha. Merda, muito fino. Procurou pelo chão, achou o outro lápis, pegou-o. Ainda nua, dirigiu-se para a cama, virou o mais que pode a cara do filho da puta para cima, sentou-lhe em cima, com a xoxota bem em cima da sua boca.

- Lambe, bode velho, veja o gosto bom de uma coisa limpa e cheirosa! Aprenda a se lavar, filho da puta! Agora enfia a lingua, vai! Tá gostando, né? Agora vamos ver!

Abaixando-se sôbre a bunda do velho, a menininha abriu-lhe o rêgo e enfiou-lhe no rabo o primeiro lápis, até o cabo.

O velho gritou, mas o som foi abafado pela bunda da moça, que ainda permanecia sentada sôbre a sua cara.

- Dói, né, seu filho da puta? Então toma o outro. Não grita, hein? Senão o pessoal do hotel vem ver o que está acontecento e é você quem vai passar o vexame. Isso, gemer pode.

Tendo lhe enfiado os dois lápis de sobrancelhas no cú, Thereza começou a mexê-los pra dentro e pra fora, de um lado para outro.

- Você não veio aqui para gozar? Então goza, filho da puta! Isto é pelo estupro de três anos atrás. E também pelas porradas que você me deu ainda há pouco!
Satisfeita, Therezinha voltou ao banheiro, se arrumou, arrumou a sua maleta, aproximou-se da cama, onde o bode velho ainda suava e gemia. Abaixou-se ao lado da cama, apanhou o maço de notas de cem, mexeu nos bolsos do paletó branco, achou outro maço de notas menores, contou algumas, avaliou. Aqui deve ter mais de um milhão de cruzeiros, pensou. Pagar os empregados na roça porra nenhuma. Isto é meu. Voltou-se para o velho e disse:

- Vou levar êste dinheiro pra mim, seu viado. Você me deve mais que isso. E tem mais, se você tentar alguma vingança, se procurar reaver o dinheiro, se for à polícia, conto tudo que aconteceu aqui. Vou dizer pra todo mundo que você gosta é de lápis de sobrancelha, ficou até de pau duro. Vou-me embora, daqui a pouco você pode voltar pra sua casa.

Com a gilete, Thereza cortou uma das tiras de lençol que amarrava o velho à cama. Juntou suas coisas, dirigiu-se para a porta, ia saindo, quando ouviu o velho relcamar:

- Pelo menos deixe um pouco de dinheiro para que eu possa pagar o hotel?

O velho então agora lhe suplicava, o covarde. Não queria dar nem o vexame de ficar devendo a conta do hotel. Therezinha, ali, ficou sabendo que o velho não teria qualquer reação sôbre o acontecido naquêle quarto de hotel. Filho da puta, covarde. Voltou-se para junto da cama, retirou novamente a gilete da bolsa e aproximou-a de sua face. O velho estremeceu, novamente suou.

- Por favor, não me mate! Só queria lembrar que não tenho dinheiro para pagar o hotel!

- Pendura, velho filho da puta! Viado! Ainda está com medo de morrer, né? Não se assuste, não vai doer!

Manejando habilmente a gilete, Therezinha fez no velho um longo e fino corte na face, o sangue jorrou, o velho gritou.

- Isto é para você se lembrar de sua canalhice, todos os dias quando, de manhã, se olhar ao espelho. Tchau, bode velho. Aliás, viado velho.

Therezinha se foi pelo caminho de terra, a pé, até chegar em casa, o salto alto entrando pela terra, a poeira lhe sujando a roupa, as pernas cansadas de tanto andar. Pelo caminho, pensava, o que faria da vida, como seria o seu futuro. Balançou a cabeça, espantou os pensamentos, estava chegando, sua mãe à porta da mansarda, triste.

- Mãe, sou puta, mas agora sou uma puta honrada. Vou fazer a vida, mas não vou mais sofrer. E a senhora não vai mais passar fome. Hoje, além de puta, virei também mulher macho. Uma puta macho, mãe. Não chore, a partir de hoje nem eu nem a senhora vai mais sofrer. Toma aqui êste dinheiro, vai comprar alguma coisa pra gente comer. Nunca mais vai faltar o que comer nesta casa. Por Deus, eu juro!

Uma semana depois, descansada, a vida da mãe arrumada com o dinheiro do bode velho, Therezinha foi a cidade, desfilou pela praça, passou em frente da casa de Dona Mariinha, ninguém lhe amolou, ninguém disse nada. Seu Manél não falou, preferiu ficar quieto. Therezinha voltou satisfeira para casa, beijou a mãe, foi dormir.
- No dia seguinte, Therezinha começou a fazer a linha, Três Corações / Cruzeiro, Cruzeiro / Três Corações. Uma vez por semana passava em casa, deixava dinheiro com a mãe, colhia os mimos do irmão e do pai. Dormia, no outro dia voltava à linha.

- Condutor filho da puta, me respeite, seu merda. Minha irmã é puta, mas é uma puta macho. Puta Macho, cara, ouviu? Therezinha da Grota é uma Puta Macho, tem responsabilidades, sustenta a família. Condutor filho da puta!


GUIMA, ITAJUBÁ 01/01/96

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