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Artigos-->CRACK O CAMINHO SEM VOLTA - UMA GERAÇÃO PERDIDA. -- 12/09/2014 - 08:44 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


CRACK – O CAMINHO SEM VOLTA. UMA GERAÇÃO PERDIDA.



 



 



 



Edson Pereira Bueno Leal, junho de 2013, atualizado em fevereiro de 2015.



 



 



 



 



O crack é fumado, normalmente os viciados usam uma espécie de cachimbo feito com embalagem de Iogurte e corpo de caneta esferográfica, ou em latas. A pedra é aquecida e a droga tem esse nome porque faz estalos quando é esquentada.



Os vapores inalados se espalham pelas esponjas pulmonares, o maior e melhor absorvente do organismo, com área 200 vezes maior do que a mucosa nasal e depois caem na corrente sanguínea, passam pelo coração e chegam ao cérebro em 15 segundos, produzindo efeitos alucinógenos imediatos. Ao chegar ao cérebro a droga, dispara a liberação da dopamina em 900%%, neurotransmissor que dá a sensação de prazer, de euforia, vitalidade e poder, além da impressão de que o pensamento e o raciocínio estão mais rápidos.



A cocaína demora dez minutos para fazer o mesmo trajeto. Por isso a probabilidade de um iniciante se viciar em crack é o dobro da se viciar em cocaína. (Veja, 22.06.2011, p. 99).



Em seguida vem uma depressão profunda, o que leva o usuário a buscar nova dose. O problema é que com o tempo, a droga deixa de ter o mesmo efeito e o viciado precisa de doses mais altas para se satisfazer.



Bastam seis vezes consecutivas de uso para que 70% dos consumidores se tornem dependentes.



As quantidades crescentes de crack têm efeitos devastadores sobre o organismo. A literatura médica aponta, como decorrência, mais de 50 problemas de saúde, principalmente nos sistemas nervoso e circulatório, nos rins e nos pulmões.



O crack inibe o apetite, o que faz com que o viciado sofra de desnutrição, fraqueza e cansaço físico. (F S P, 27.07.2008, p. C-6).



O jovem que se aventura a usar crack tem que estar consciente de que, a ilusão imediata obtida com o prazer, a fissura e as alucinações proporcionadas pelo consumo, representará o mergulho em uma vida futura de sofrimentos da qual não há retorno. Se o vício se tornar excessivo demais ele pode encontrar mais rapidamente a morte. Se conseguir se controlar e escapar do vício com um tratamento, a demência o espera na velhice. Na Europa afirma-se que já há uma geração perdida pelo desemprego. No Brasil, pode haver uma geração perdida devido à droga.



Um estudo publicado pela revista inglesa The Lancet, estabeleceu um ranking das drogas mais nocivas à saúde física e mental. Os critérios utilizados foram três: o grau de danos ao organismo, à capacidade de produzir dependência e o impacto do vício na vida social do indivíduo. A cocaína ficou em segundo lugar e em uma escala de 1 a 3 entre nenhum prejuízo e máximo prejuízo ficou em torno de 2,3 em todos os quesitos.  (Veja, 23.05.2007, p. 79)



A cocaína é tão nociva por que bastam alguns meses ou mesmo semanas para que ela cause um emagrecimento profundo, insônia, lesão da mucosa nasal e maior suscetibilidade a convulsões. O risco de morte por overdose também é alta apenas menor do que o da heroína.



Pesquisa realizada em 2000 pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em AIDS da Faculdade de Medicina da USP estudou 270 craqueiros e descobriu que quase 90% dos usuários têm um parente ou amigo dependente de droga que morreu assassinado. Entre os 270, 87% já haviam se envolvido em atos violentos e 62% tinham participado de roubo ou furto e 48% esteve preso.



Todos relataram algum problema de saúde. Cerca de 92% descreveram sintomas de doenças respiratórias e 84% de doenças cardiovasculares, 75% descreveram experiências paranoides e depressão, 65% descreveram sintomas de déficit de memória e atenção. Mais de 20% disse já ter feito alguma tentativa de suicídio.  O índice de afetados pelo HIV foi de 6,6%%, quando na população em geral não chega a 1%%. Também para as hepatites B e C, a prevalência nesse grupo foi cinco vezes maior que na população.



Segundo o psiquiatra Sérgio Seibel, um dos coordenadores do estudo, “um dos dados reveladores da pesquisa é a rapidez com que o crack provoca danos graves nos usuários”. Depois de uma semana de uso, 28%%, disseram que já se sentiam dependentes. Outros 55% afirmaram que não conseguiam ficar mais de um mês sem a droga (F S P, 30.05.2000, p. C-5).



A droga compromete irreversivelmente o funcionamento dos neurônios, o que atrapalha a cognição e a capacidade de concentração. Acelera o coração, causa arritmias e aumenta a pressão arterial. Com o tempo, o viciado pode ter um infarto do miocárdio e, em casos mais graves, uma parada cardíaca.



Um traficante da Zona Sul do Rio de Janeiro explica por que não existia crack na cidade: “Aqui não entra crack por que a malandragem não deixa. Primeiro porque, se você comercia um produto, não vai botar outro, menos lucrativo, no mercado. Depois, por que aquilo é uma coisa alucinada. Não sei como deixam. O craqueiro é um irresponsável. È uma pessoa que você não pode mandar fazer uma entrega, receber um dinheiro. Ele não responde por seus atos. A pedra é como a heroína, deixa o sujeito pancada. Por que o sujeito vai trazer para dentro da boca uma coisa que desarticula os soldados? No morro do Rio, cachimbo é para fumar maconha e seringa é para tomar injeção. Fora disso, é coisa de otário” (veja 4.4.1994, p.54-63). 



O crack acabou se alastrando também pelo Rio de Janeiro, mas em algumas favelas ele está sendo proibido. O crack prejudica o tráfico. Os nóias não saem dos pontos de venda de droga. Tem pouco dinheiro, atrapalham os moradores e trazem o perigo de ocupação permanente da polícia.



 



CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV



 



Levantamento feito pela Unicamp em 2007 mostrou que 7% dos usuários de crack tem o vírus HIV, índice dez vezes maior do que o resto da população em geral.



“O crack provoca um aumento drástico no tipo de comportamento sexual de risco que leva à propagação de vírus como o do HIV e o da sífilis. Faz com que muito mais pessoas nas áreas pobres comprem drogas, aumentando a probabilidade de levarem a seus bairros uma infecção. Muda o padrão das relações sociais entre os bairros.” (Gladwell, Malcolm. O Ponto de Desequilíbrio, Editora Rocco Ltda., 2002, p. 21).



Estudantes e trabalhadores transformam-se em mendigos.



 



CORAÇÃO



 



A cocaína pode provocar infarto precoce, que pode levar à morte pacientes jovens. Outro risco são os micro enfartos, quando há obstrução de pequenas artérias, o que pode produzir a perda de funções cognitivas como a inteligência, a capacidade de abstração, a memória e a organização de ideias.



A cocaína favorece a formação de coágulos, que podem bloquear a passagem do sangue para o coração, leva à contração das artérias e acelera o processo de aterosclerose.



Jovens na faixa etária entre 20 e 40 anos estão sofrendo mais infartos do miocárdio. Nos principais hospitais de São Paulo, eles representam em 2008, em média, 12% dos casos. Em 1998 não passavam de 6%%. Nos EUA, o índice médio de infartos em jovens é de 4%%.



O cardiologista Marcelo Knobel, coordenador da unidade coronariana do Hospital Albert Einstein, atendeu em 2008 a um rapaz de 33 anos, usuário crônico de cocaína, e ficou impressionado com o estado das coronárias: “O padrão é como se fosse um idoso de 70 anos”. Ele explica que além de espasmo, a cocaína pode causar trombose (o sangue coagula e fecha a artéria), ou lesar a parte interna da artéria, causando inflação e aterosclerose. “Toda vez que chega um paciente jovem infartado, é obrigatório excluir exaustivamente o diagnóstico de cocaína”. Isso é importante porque há medicações usadas no infarto como betabloqueadores que são contraindicadas aos usuários de cocaína. Elas podem piorar o quadro de espasmo coronário.



Os jovens morrem menos de infarto, porque o seu coração é mais saudável, mas o infarto deixa uma cicatriz no coração. “O jovem fica sequelado. Tem redução da função ventricular, diminui a contratividade e o coração bate mais fraco. E essa marca é para toda a vida”. (F S P, 13.07.2008, p. C-8). Porém, os infartos costumam ser mais fatais em jovens por características do sistema cardiovascular. Nos idosos as doenças coronárias produzem o desenvolvimento de uma circulação colateral e caso haja a obstrução de uma artéria, estes vasos podem manter a oxigenação do coração.



Liderados pelo médico Arthur Siegel, da Universidade Harvard, pesquisadores analisaram amostras de sangue coletadas de vinte pessoas, antes e depois de ingerirem cocaína, nunca a tendo utilizada antes. Apenas dez minutos após a ingestão, o número de glóbulos vermelhos começa a crescer, e chega a ser 6% superior às concentrações normais. O sangue fica mais viscoso e circula com maior dificuldade por artérias e veias. Aumenta a concentração de uma proteína chamada fator de Von Willebrand, ligada à coagulação sanguínea. A taxa supera em até 40% os índices normais num período de apenas meia hora, Essa situação persiste por 4 horas, aumentando drasticamente o risco de plaquetas se acumularem nas paredes internas dos vasos e formarem coágulos. O problema estaria no baço, órgão que apresenta uma drástica contração sobre o efeito da cocaína e influi na liberação de glóbulos vermelhos. O estreitamento dos vasos combinado ao sangue mais espesso prejudica a irrigação do coração, aumentando segundo estudo publicado na revista Circulation da Sociedade Americana de Cardiologia no decorrer da primeira hora depois do consumo de cocaína o risco de ocorrência de infarto em 24 vezes (Veja, 22.09.1999, p. 87).  



 



CÉREBRO



 



Estudo feito nos EUA por 16 pesquisadores liderados por Hans Breiter, do Hospital Geral de Massachusetts, baseado em imagens do cérebro feitas por meio de ressonância magnética nuclear, publicado na revista “Neuron”, concluiu que o cérebro dos viciados em cocaína é diferente daquele dos que não são usuários da droga, mas não foi possível afirmar se a diferença é causada pelo hábito, ou se ela é preexistente e indicaria uma maior vulnerabilidade de a pessoa se tornar viciada. Os pesquisadores analisaram duas regiões do cérebro, a amígdala e o hipocampo, de 27 viciados em cocaína e as compararam com as de 27 não viciados. Não foi encontrada diferença nos hipocampos, mas as amigdalas dos viciados eram significativamente menores nos cocainômanos, em média 13% menores na amígdala do lado esquerdo do cérebro e 23% menores naquelas do lado direito. Não há “lateralidade nas amígdalas dos viciados, ou seja, elas apresentaram tamanhos semelhantes, enquanto nos não viciados há uma diferença de tamanho”. Não houve diferenciação nas conclusões comparando-se o tempo de dependência da droga, o que pode indicar caso a alteração seja posterior ao início do vício à existência de um rápido processo degenerativo. 



A amígdala esta associada a um mecanismo cerebral ligado ao processamento de recompensas, de estímulos agradáveis e teria também um papel relacionado á tomada de decisões mais ou menos sensatas.



Segundo os autores do estudo, usuários dependentes de cocaína têm dificuldades significativas em identificar os resultados potenciais negativos de seu comportamento ou reconhecer que esses resultados podem transpirar.



Pesquisa realizada pela Unifesp com 30 dependentes e ex-dependentes de cocaína com um tomógrafo computadorizado do tipo Spect, que fotografa o cérebro em atividade concluiu que a cocaína danifica o cérebro depois de dois anos de uso.



O estudo concluiu que o tempo de uso tem mais importância do que a quantidade de droga utilizada. Todos os que usaram cocaína por mais de 58 meses apresentaram alterações graves, independentemente da quantidade que usavam. As alterações nos cérebros dos dependentes de crack eram semelhantes às encontradas com os usuários de cocaína aspirada. Verificou-se também que os danos não diminuíam nos dependentes que tinham parado de usar 30 dias antes do exame. 



As alterações ocorrem por dois mecanismos que são simultâneos. Primeiro, a cocaína provoca uma constrição dos vasos sanguíneos, fazendo com que algumas regiões do cérebro recebam menor quantidade de sangue. Segundo, a vasoconstrição causa micro derrames. Com isso, toda a rede de neurônios deixa de funcionar. Por serem alterações relativamente pequenas, elas afetam especialmente as funções intelectuais abstratas. Por exemplo, a pessoa tem afetada a espacialidade, a capacidade de se situar tridimensionalmente diante de um objeto ou no interior de algum local. Com a espacialidade alterada, o motorista pode ficar em dúvida se passará ou não por um túnel. Uma pessoa poderá cair da escada ao calcular mal a altura e a distância dos degraus. As alterações encontradas se espalham por todas as regiões cerebrais: 45% os lobos frontais (raciocínio abstrato e atenção), 22% a região parietal (espacialidade e atenção), 22% a região temporal (memória e atenção) e 11% a região occipital (parte da atenção). (F S P, 28.06.1999, p. 4-3). 



Pesquisa feita pela Universidade do Texas em Dallas concluiu que bebês de mulheres que consomem cocaína durante a gestação têm uma tendência dez vezes maior de serem portadores de doenças cardíacas do que os nascidos de mães que não usam a droga. O estudo concluiu também que estes bebês apresentam lesões cerebrais permanentes. Eles tendem a ser menores, a ter uma menor circunferência craniana e a serem afetados pelos sintomas que surgem com a falta da droga. (Folha de São Paulo, 17.01.1990, p. A-12).



Estudo com ratos mostrou que o uso da cocaína afetou a memória de três gerações de ratinhos, ou seja, a perda de memória causada pelo consumo da droga pode ser repassada para gerações futuras. (Veja, 22.04.2009, p. 89).



Estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Cambridge, Reino Unido, com uma das autoras Karen Ersche, publicado na revista “Science”, comparou 50 pares de irmãos que incluíam um viciado e outro saudável, com idade média de 33 anos. Como grupo de controle foram analisados 50 outros voluntários com idades e quocientes de inteligência semelhantes. O resultado deixou claro que os pares de irmãos tinham certas características anormais no cérebro que os distinguiam do grupo-controle. Imagens de ressonância magnética do cérebro revelaram alterações na substância branca dos pares de irmãos em comparação aos voluntários saudáveis.  O mau funcionamento desses circuitos pode facilitar o desenvolvimento de dependência química. A grande dúvida ainda é porque um irmão desenvolve o vício e outro não. Portanto a história familiar indica já um risco genético de adquirir o vício em droga. Os dados indicam que pelo menos 20% das pessoas que experimentam cocaína vão se tornar dependentes dela em um prazo de dez anos. (F S P, 3.2.2012, p. C-6).



 



DEMÊNCIA



 



 



Estudo da Universidade de São Paulo mostra que o aquecimento de dois componentes que formam o crack, o éster metilecgonidina (Aeme) e a cocaína, aumenta em 50% a morte de neurônios em usuários, quando comparado ao consumo isolado das duas substâncias.



O crack é produzido a partir da mistura da pasta de cocaína, bicarbonato de sódio e água, sendo que o Aeme é um produto da queima, ocorrida quando o usuário fuma a pedra de crack.



O Aeme é usado no meio médico como marcador biológico do uso de crack. A presença do Aeme em um organismo permite deduzir a causa da morte pelo uso da droga.



Os cientistas ainda estão estudando o papel ativo do Aeme na dependência química do crack, além de provocar um nível maior de morte de neurônios. O crack tem um potencial devastador no usuário, muito maior do que a cocaína nas outras formas de administração e leva à dependência mais rápido e falta estudar as consequências do uso da droga no cérebro ao longo dos anos.



A professora Tania Marcourakis, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da USP, responsável pela pesquisa, alerta para os danosos efeitos a longo prazo não aparecerem no curto prazo:” Isso pode não se manifestar na idade jovem, porque você tem mecanismos plásticos [facilidade para compensar a perda neuronal], que podem dar conta disso dentro da idade adulta, nos jovens adolescentes. Mas, na velhice, já tem uma perda neuronal [natural] e esses mecanismos não estão tão eficientes”. ( Jornal Debate, 2.6.2013, p. 6) .



Essa avaliação significa que a perda de neurônios decorrente do uso compulsivo de crack na adolescência e na idade adulta são compensados pelo cérebro provisoriamente, mas que na idade mais avançada esta compensação deixa de produzir efeito e a demência é inevitável. Ou seja, é preciso ficar claro para o jovem que usa o crack que está entrando em um caminho sem volta. Mesmo que ele depois de tornar-se um viciado, tomar a coragem de fazer um tratamento e conseguir abandonar o vício, o que só ocorre com parte dos que iniciam o tratamento, ele, mesmo que não use mais o crack em sua vida posterior, se sobreviver até a velhice, terá inexoravelmente que se encontrar com um quadro de demência, pois infelizmente, não há remédio ou tratamento que consiga repor os neurônios que foram destruídos durante a idade jovem.



Portanto, a disseminação do uso do crack entre a juventude está condenando esses usuários que sobreviverem a ter um período de vida ativa encurtado, pois a demência os espera no final da vida e isso terá sérias consequências para os familiares e custo elevadíssimo para a sociedade.



 



DETERIORAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS E FAMILIARES



 



Ao contrário do que ocorre com a maconha e a cocaína, o crack torna impossível manter relações com o círculo de amigos, no trabalho ou em casa. A degradação se dá em poucas semanas. Primeiro o viciado emagrece rápido, já que a cocaína inibe o apetite e provoca náuseas diante da comida. Depois passa dias sem dormir e perde até mesmo a vontade de tomar banho. Esquece-se de que existem horários e regras. Como o crack age como anestésico, queimam-se a boca e o nariz ao fumar, sem que se perceba.



“Nenhuma droga danifica o cérebro com tanta rapidez. O viciado perde completamente o senso de julgamento e a responsabilidade. Fica agressivo. Para comprar as pedras, é capaz de roubar o dinheiro dos pais e objetos da própria casa. Muitos, sem nenhum antecedente de delinquência, passam a assaltar” (Veja, 22.06.2011, p. 96).



Em três anos, a quase totalidade dos viciados estará gravemente doente, terá se envolvido em crimes e visto a família se desmantelar. No fim do quinto ano de consumo, um terço deles estará morto – em geral, pelo comportamento de risco que passam a apresentar. As vítimas de homicídio e overdose são as mais frequentes. Para os traficantes o crack apresenta mais vantagens do que a cocaína, devido à quantidade e à velocidade em que é consumido. (Veja, 25.01.2012, p.64-69).



 



DISFUNÇÃO SEXUAL



 



Cerca de 50% dos homens e 40% das mulheres acham que as drogas melhoram o desempenho sexual. Em pequenas doses, realmente drogas como o álcool e o cigarro melhoram o desempenho na cama. Porém, o uso frequente e abusivo começa a provoca alterações na função sexual e a longo prazo traz prejuízos importantes.



Segundo estudo conduzido pela unidade de pesquisa em álcool e droga da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), cerca de 47% dos dependentes de álcool e outras drogas tem alguma disfunção sexual. Na população em geral este percentual é de 18%, segundo o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro que ouviu mais de 7.000 pessoas em 2004.



Os principais problemas levantados foram ejaculação precoce, (39%), diminuição do desejo sexual (19%), dificuldade de ereção (12%), retardo na ejaculação (8%), e dor durante a relação sexual (4%).



As drogas causam alterações nos neurotransmissores no cérebro, envolvidos no controle da ejaculação. O álcool e a nicotina causam alterações vasculares que dificultam a ereção. A cocaína e maconha, se usadas em altas doses, derrubam a libido. Também esse é o efeito de drogas sintéticas como o ecstasy e o LSD. (F S P, 2.6.2010, p. C-7).



 



OVERDOSE



 



A morte por overdose costuma decorrer de derrame ou infarto. O sistema cardiovascular não aguenta a descarga de noradrenalina, um neurotransmissor, o mesmo responsável pela sensação de euforia que vem com a droga. Com o uso excessivo de cocaína, ocorre um espasmo, uma contração abrupta das artérias do coração, e o sangue deixa de circular. (Veja, 17.12.2008, p. 134).



 



PENSAMENTOS OBSESSIVOS



 



Com a mente afetada ele fica agressivo e desenvolve a chamada paranoia, uma mistura de desconfiança com mania de perseguição.



Na fase das reações paranoicas, o viciado acha que está sendo perseguido e tem pensamentos obsessivos, vem daí o apelido de “nóias” que esses dependentes carregam. A estudante paulista M. de 31 anos, livre da droga a três, não conseguia manter as janelas de casa abertas. “Eu realmente achava que estavam me espionando pela janela ou pelas frestas da porta. Também ouvia sirenes da polícia e passava horas rastejando, procurando no chão e no meu carro algum resto de pedra que pensava ter derrubado.” (Veja, 19.11.2008, p. 114-117).



Somente as imagens exaustivamente mostradas pela televisão em cracolândias em São Paulo e no Rio de Janeiro deveriam ser suficientes para desestimular qualquer um a aventurar-se com o crack. O que se vê são dezenas de pessoas que se tornaram escravos da droga, tornando-se como zumbis. Ficam o tempo todo fumando o crack em cachimbos improvisados, ou em transe sob o efeito da droga. Sua única preocupação é tomar mais uma dose quando acaba o efeito da anterior. Tornam-se pessoas inúteis para a sociedade e perigosas, pois não tem nenhuma condição de trabalhar e precisam do dinheiro para comprar mais droga e o obtém com assaltos ou com a mendicância.



 



PULMÕES



 



O vapor quente que se inala queima os pulmões. Enquanto quem fuma cigarro precisa de pelo menos três décadas para desenvolver enfisema pulmonar, no caso de quem usa crack, bastam poucos anos. O enfisema pode matar. O enfisema pulmonar leva três décadas para se manifestar num fumante e poucos anos num usuário de crack. (Veja, 22.06.2011, p. 99).



 



 



TRANSTORNO ALIMENTAR EM MULHERES



 



Segundo uma pesquisa feita com 80 pacientes do Programa da Mulher Dependente Química (Promud/IPq), 56% das mulheres dependentes de álcool ou de drogas que estavam em tratamento tinham algum tipo de transtorno alimentar. Dessa percentagem, 41% tinham transtorno de comer compulsivo, 30% tinham bulimia e 8% eram anoréxicas. A pesquisa concluiu que as mulheres com transtornos alimentares tem oito vezes mais chance de ter um transtorno relacionado com álcool e outras drogas. A droga mais procurada por quem sofre de transtornos é o álcool, mas são comuns os casos de uso de anfetaminas, cocaína e crack, que também ajudam a aplacar a fome. As anoréxicas passam a recusar a comida, mas a aceitar o uso dessas substâncias. As compulsivas geralmente tentam substituir a comida por alguma delas, enquanto as bulímicas juntam à compulsão, formas de compensar a ingestão de calorias, como vomitar ou usar laxantes e diuréticos. (F S P, Equilíbrio, 11.06.2009, p. 4).



 



A DROGA E A DESTRUIÇÃO DE VIDAS.



 



J. Soares, 21 anos , era vendedora em uma concessionária de veículos em Recife, quando em 2011, o namorado de uma amiga a apresentou ao “crack”.



Sua vida a partir daí acabou . Mãe de uma menina de 7 anos , chegou a traficar , mas acabava consumindo o que deveria vender. Teve o marido assassinado por dívidas de drogas e ela mesma afirma dever mais de R$1.000 a traficantes.



“Não tenho noção de quantas vezes me prostituí . Teve uma época em que estava muito magra. O crack estava me dominando. Já fui uma profissional. Hoje , eu não sou nada . [ Com o crack a pessoa] dó tem duas certezas: ou cadeia ou morte . É muito difícil sair da droga”.



Em setembro de 2013 era mantida acorrentada pela mãe à cama. Foi para uma casa de acolhimento para viciados , pela terceira vez. “ Tenho muita vontade de recomeçar. Quero me casar de novo. Meu sonho hoje é sair dessa vida, voltar ao que eu era antes. Hoje ninguém confia em mim”. ( F S P , 20.09.2013, p. C-4) .



 



TRATAMENTO FRACASSADO



 



Creusa, 53 anos: “Uma de minhas filhas , Mônica, já tinha passado por quatro clínicas . Ela era dependente de cocaína e passou para o crack . Gastei muito dinheiro . Ela sumia por dias . Já a encontrei suja , no mato, debaixo da ponte. Não sabia mais o que fazer.



No Facebook, ouvi falar da Ibogaína e entrei em contato com  uma clínica em Arujá (SP). Eles me disseram que a planta tinha curado muita gente e que tirava a vontade de usar a droga. Um homem me contou a experiência de anos de abstinência, depois de usar todo tipo de droga.



Eu achei que era a salvação para ela sair dessa vida. Levei a Mônica para a clínica e ela tomou duas doses. O tratamento custava , R$ 5.000,00 . Paguei , R$ 3.000,00  no começo.



Depois de cinco dias, me informaram que ela estava ótima. Decidi levar a minha outra filha , Monaliza, 25, que estava se tornando dependente de cocaína , e meu primo, alcóolatra. Vi que não ia ter como pagar o restante do tratamento da Mônica e dos outros dois . Passei o meu carro para a clínica.  A Mônica foi para a rua procurar clack no mesmo dia que voltou. A minha outra filha e o meu primo voltaram para o vício cerca de 15 dias depois. Sei que fui ingênua, mas é desespero, né? Sou mãe . Agora a Mônica está em uma outra clínica , porque ela não pode ficar solta. Mas o dinheiro está acabando e a única solução que vejo é trancá-la em casa”. ( F S P , 25.10.2014, p. A-18) .



 



CRACK E MULHERES GRÁVIDAS



 



Pesquisas sobre o desenvolvimento infantil sob a ótica da neurociência  surgiram no final da década de 90 e com exames de imagem houve extraordinário avanço e hoje de pode afirmar que os primeiros três anos de uma criança são uma extraordinária sintonia cognitiva, motora e de linguagem.  Os fatores genéticos são decisivos, mas os estímulos externos, recebidos durante os 36 primeiros meses de infância são cruciais na construção da arquitetura cerebral. Nestes 3 anos, o cérebro de uma criança realiza mais conexões neurais do que na idade adulta.



 



Três semanas depois da concepção , o tronco cerebral , responsável por funções básicas como respiração, batimentos cardíacos e reflexos, já começa  a ser montado.



 



Ainda durante a gestação, o feto já é capaz de sentir sabores da dieta da mãe e de escutar sons externos, inicialmente a voz dos pais.



 



Pelo menos um terço dos 20.000 genes que formam o genoma humano é recrutado para a elaboração do cérebro, o órgão mais complexo do ser humano.



 



Há uma hierarquia. Em primeiro lugar amadurecem os circuitos subcorticais, que processam atividades mais simples, que comandam funções como os reflexos e a coordenação dos movimentos.



 



Depois é a vez dos circuitos mais complexos, como o córtex pré-frontal associado a decisões elaboradas como o planejamento , o comportamento e a personalidade.



 



O momento de aquisição de cada habilidade é conhecido como período sensível.



 



Poucas horas depois do parto, cada neurônio já realiza 2.500 sinapses. Rapidamente as conexões se multiplicam , chegam a 700 novas por segundo , atingem trilhões. Em nenhuma outra fase da vida, as respostas aos estímulos são tão rápidas, amplas e intensas.



 



A visão e a audição são formadas nos primeiros meses de vida. Entre os 6 e os 12 meses de idade, abre-se uma porta que permite a diferenciação da fala.



 



Na hierarquia neural que processa as informações visuais, os circuitos de nível inferior que analisam cor , forma ou movimento , estão totalmente maduros muito antes dos circuitos de nível superior , que interpretam estímulos sofisticados , como o reconhecimento de rostos..



 



Crianças que vivenciam situações estressantes como discussões frequentes entre os pais , ou sofreram abuso emocional ou físico podem ter seu desenvolvimento prejudicado. A experiência negativa ativa o sistema de resposta ao stress e produz em excesso substâncias que se tornam danosas ao organismo e projetam para a vida adulta maior índice de derrame, diabetes , depressão e abuso de drogas.  



 



Há problemas na arquitetura cerebral. As conexões nervosas ficam mais curtas e em menor quantidade.  O hipocampo relacionado à memória e ao aprendizado pode ter seu tamanho diminuído. O córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas também é reduzido. A amígdala , que atua  como reguladora das emoções e dos sentimentos , torna-se mais sensível.



 



Passado o período  de proliferação de conexões, dá-se um processo conhecido como poda neural, depois do qual as ligações entre neurônios subutilizados são desligadas , e apenas as decisivas permanecem.



 



Em resumo, os primeiros anos de vida constituem um período crucial , no qual uma criança precisa receber estímulos, contato emocional e físico.  Caso contrário o desenvolvimento será bloqueado.



 



Embora o cérebro consiga se adaptar e mudar ao longo da vida, essa capacidade diminui gradativamente à medida em que o tempo passa. ( Revista Veja, 14.01.2015, p. 80-87) .



 



Com todas estas descobertas da neurologia pergunta-se como é possível que crianças consigam um período de gestação normal e depois tenham uma saudável formação cerebral nos seus primeiros três anos de vida com mães que são dependentes de crack, e vivem em ambientes de viciados.



 



Infelizmente a conclusão é, e só pode ser negativa. Estas crianças estão condenadas a terem uma formação cerebral deficiente, porque suas mães fumam crack e a droga interfere no processo de formação do organismo do feto , através da placenta e as crianças que sobrevivem ao parto, terão uma formação cerebral deficiente em razão do meio em que  estão sendo criadas, sem estímulos e por viciados cujo objetivo é apenas o de conseguir acesso à droga e como os estudos mostram , as distorções decorrentes da vida intra-uterina e dos primeiros anos nestas condições , irão resultar em uma pessoa que não terá nenhuma condição de ter uma vida normal, simplesmente porque seu cérebro estruturalmente estará mal formado.



Está-se formando uma geração de deficientes mentais , está é a nua e  crua realidade.



Oito em cada dez crianças abandonadas são filhas de dependentes químicos. Milhares de brasileiras engravidam sob o efeito do crack , gestam seus bebês drogadas e continuam viciadas depois que os filhos nascem.



Enquanto em um adulto os efeitos do crack duram apenas cinco minutos, no feto, por causa da imaturidade do fígado , podem se estender por horas ou dias.



Está comprovado que , quando uma gestante interrompe o uso da droga, o feto passa por uma crise de abstinência  ainda no ventre.



Quando a mãe fuma até a véspera do parto, situação comum, a criança nasce ainda sob os efeitos da droga. Os sintomas são choro e tremores agudos, taquicardia, problemas respiratórios , vômitos e sucção exacerbada.  O bebê leva até sete dias para se desintoxicar . São usados remédios como metadona e lorazepam, em doses menores.



Ledo engano, a desintoxicação é apenas aparente. O cérebro da criança está inexoravelmente danificado e ela vai enfrentar isso pelo resto de sua vida. É a pior situação que se pode imaginar e uma crueldade imensa.



Uma mulher drogada , ao gestar um filho continuando a praticar o vício, está condenando um ser que nem veio ao mundo à prisão do vício e está colocando no mundo uma pessoa que será incompleta, será imperfeita por causa dos efeitos da droga em seu corpo e por isso, jamais vai ter possibilidades de uma vida normal, de uma inserção plena na sociedade. É uma mutilação cerebral programada.



Os casos não são isolados. Na Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros, em São Paulo, referência no setor de dependência química em gestantes e bebês, em 2014, 71 mães viciadas em crack tiveram filhos ali.



Segundo o Juizado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, 480 filhos de usuárias de crack foram abandonados nos hospitais e maternidades da capital mineira em 2014.



No Rio de Janeiro, 90% das crianças abandonadas tem pais dependentes.  Segundo o Ministério da Saúde , em 2005 foram registrados 1863 casos de sífilis em mulheres grávidas. Em 2012 o número aumentou para 7.043 e o de recém-nascidos contaminados com a doença foi de 4.447. Mulheres viciadas tornam-se prostitutas para conseguir dinheiro para sustentar o vício e por isso muitas engravidam e ainda por cima são contaminadas por sífilis.



A mulher viciada que tem um filho , dificilmente vai abandonar o vício por causa da criança.  Mesmo quem passa por internações e recebe o devido acompanhamento , a taxa de reincidência chega a 15% e é evidente que uma mulher com filho tem mais dificuldade para ser internada. Mas é grande a possibilidade de ela abandonar a criança, que acaba sendo um fardo para a família.



Cerca de 15% dos recém-nascidos de mãe viciada em crack morrem em decorrência de distúrbios respiratórios contra 0,9% da média geral.



Cerca de 5% das substâncias tóxicas do crack fumado por uma gestante entram na corrente sanguínea do feto.



Cerca de 6 dias é o tempo em que as substâncias do crack ficam presentes no leite materno.



De 30.000 crianças e adolescentes vivendo sob a guarda do Estado vivendo em abrigos e casas-lares, 80% são filhos de pais viciados em drogas.



Cerca de 30% dos frequentadores da Cracolândia no centro de São Paulo, têm curso superior ou passaram pela universidade. 



Cerca de 8.541 pessoas foram afastadas do trabalho por causa do consumo de cocaína e crack em 2013.



Cerca de 40% dos dependentes de crack do país , não vivem na rua.



Nos últimos três anos, o número de cidades que registraram alta no consumo do crack no Brasil cresceu 10% , segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios.



O Brasil tem 3,8 milhões de viciados em maconha, 2,5 milhões em cocaína e 2,5 milhões em crack.



Uma mulher que engravida e continua fumando crack não ama seu filho, o odeia . Isto é exemplo claro da escravidão a que a droga submete a pessoa , escravidão que com a gestação se prolonga para uma terceira pessoa, inocente, que nada tem a ver com o que está acontecendo, que não escolheu o vício, mas que , se sobreviver, vai ter toda a sua vida comprometida por causa da fraqueza de quem a gerou. ( Revista Veja, 25.02.2015, p. 78-87) .



 



 



 



 



 



 



 



 



 

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