Quando o sol causticante queima o pasto
E o solo esturrica na quentura,
O nordestino pressente a desventura
Deste fato cruel e tão nefasto;
Calça a sua alpercata-de-arrasto,
Pega a rede, o chapéu, o matulão.
É mais um exilado do Torrão
Que aprendeu a amar desde menino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.
A sequidão deixa traumas tão cruéis,
Muito mais que a morte da pastagem,
Pois o poço, o açude e a barragem
Têm por donos somente os "coronéis".
Sertanejo convive com o revés
E o descaso de Brasília à região,
Mas espera que venha a solução
Da caneta que foi de Juscelino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.
É tremendo esse choque cultural
Que o migrante recebe nas cidades,
Obrigado a viver realidades
Diferentes do seu Torrão natal:
Arrastões, repressão policial,
Camelôs ocupando o quarteirão,
Habitar um antigo pontilhão
Na cruel condição de inquilino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.
Sem a cultura formal pra lhe ajudar
Vai vivendo da renda de engraxate
Ou então se transforma num mascate
Mas o "rapa" não deixa trabalhar.
Nunca arranja dinheiro pra voltar
Para a sua querida região,
Esta ave, infeliz, de arribação
Vive ali lamentando o seu destino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.
Se um dia os nossos governantes
Derem mais atenção ao social,
Nem precisa de muito capital
Pra livrar legiões de retirantes
De sofrerem em terras tão distantes
À procura de teto, paz e pão;
Se quiserem um País com produção
Só precisam apoiar o campesino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.
Vamos todos pedir ao Presidente
Que invista mais verbas no Nordeste:
Irrigando o sertão e o agreste
Os empregos surgirão rapidamente.
Tendo a terra, tratores e semente
Nunca vai nos faltar disposição,
Não deixemos que um rude cidadão
Se transforme num novo Virgulino.
Cada aceno de adeus dum nordestino
Denuncia uma baixa no sertão.