Yeda escreve: “Sal, lí a sua "Carta para ninguém que é todo mundo" e só não gostei de você se intitular de "velha". Quem lê os seus textos, vê em você uma mulher experiente, mas, jovem... Ás vezes, até a sua adolescência aflora; Como também, a criança que existe em você , se faz presente. Assim é que a vejo quando leio as suas publicações. Beijos. Yêda”

Querida amiga Yêda.

Não me chamo de velha... SOU velha... gosto dessa palavra, não gosto de dizer idosa porque, embora válida como palavra, é uma forma de disfarçar a realidade que é ser velha e de amenizar o que não precisa ser amenizado. Velha expressa muito mais, e melhor, a maturidade, a experiência, o acúmulo das fases da vida, o peso dos anos. Na idade, nem me acho tão velha. A minha velhice está no que conta em vivência. Aí acho que tenho 200 anos... E também me acho mais velha do que a idade cronológica quando vejo as rugas se acumulando e sinto que elas não são apenas sinais do tempo, mas os sinais da dor, das pauladas que a vida dá. Isso sim é que merece respeito, não apenas o fato de ter caminhado por 63 (quase 64) anos.

Minha amiga, não se assuste com as palavras, sejam elas quais forem. Elas também expressam nossa liberdade. Não adianta dar apelidos àquilo que está em nossa mente. Veja: inventaram a expressão terceira idade para substituir velhice. Nada mais absurdo. Pois onde estão a primeira e segunda idades, que ninguém
fala nelas? É que a primeira e a segunda não chocam, a velhice choca porque existe algum preconceito por trás, ou o medo que as pessoas têm de chegarem a ela. Então, essas fases anteriores da vida não precisam de apelidos.

É verdade que afloram meu eu-adolescente e até meu eu-criança nos meus textos. Têm que aflorar, pois vivi essas fases como todo mundo, e vivi intensamente. E afloram justamente porque sou velha... risos... Mas veja a glória de ser velha e ter saudade e ter guardados os amores passados todos na “alma desmedida e inesgotável”. E estar ansiando por novos abraços e beijos e orgasmos múltiplos. E estar vivendo tudo isso, com a mesma garra, ou mais, que na juventude. Por isso, minha amiga, aceitei sem ceromônia ser chamada Afrodite. Ela é a deusa do Amor e a missão que escolhi é cantar o amor. Para tanto, não há idade. Sou uma velha que escreve seus poemas de amor, eróticos ou não, mas sempre de amor, e os publica sem dar nenhuma satisfação a quem quer que seja ou temer qualquer comentário. Não fiz isso desde sempre, é claro. Tive as experiências todas que a maioria de nós tem, muitas vezes quis preservar ciumentamente minha intimidade, mas hoje envelheci e não existe mais razão para ter pudor, para reservar só para mim a glória dos momentos mais lindos da vida. Se fizesse isso, estaria sonegando. Em matéria de amor isso é um crime sem perdão.

Fique tranqüila e pense nisso: é preciso não se assustar com as palavras. Elas existem para que as usemos. Somente tema palavras que expressem uma mentira, nunca aquelas que expressam a verdade.

Obrigada pelos comentários e por me ler. Admiro você, mulher valente, decidida e forte. Sei que me entenderá muito antes de, como eu, chegar aos 200 anos... (risos)

Beijos, querida.