DESPEDIDA
Os velhos móveis desbotados
Quase esgotados,
Foram às únicas testemunhas
Caladas,
Da tua partida apressada
O vidro transparente da mesa
Não reflete a tristeza
Que escureceu minha alma
Escaldada na inexorável dor
Que a tua ausência deixou
Te pensas deserto de mim
Mas meus vestígios estão todos
Espalhados em ti
E teus resíduos colados em mim
São tantos compartimentos teus
Cheios de mim
Que na verdade, vás pela metade,
A outra deixastes aqui
Em tantos lugares, jeitos e beijos
De tantas maneiras, formas e cores,
Em tantos detalhes, olhares e cheiros,
Em tantos gemidos, gritos e risos,
Me sentirás no vento
Num fim de tarde, em novembro,
Nos teus pensamentos quando libertos,
Estarei sempre por perto,
Com os olhos bem abertos
Mas vou te guardar em mim
Vou te fazer virar capim,
Essa emoção boba
A me entristecer assim,
Ainda é resto que sobrou de ti
Vou me esquecer de ti
Te reinventando em pedaços soltos de mim,
Moldados em cânticos de antigos serafins,
Que um dia segredaram para mim
Que amores sempre tiveram fim.
MORGANA
Rio de Janeiro, 24/04/04
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