Usina de Letras
Usina de Letras
112 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62182 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A poesia pustulenta de Charles Bukowski -- 04/02/2003 - 22:56 (PEDRO VIANNA NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A poesia pustulenta de Charles Bukowski

em preparação para a leitura de poesia de hoje a noite, Charles Bukowski está lá fora no estacionamento, vomitando. ele sempre vomita antes das leituras; multidões lhe dão náuseas. e hoje há uma enorme multidão. mais de 400 estudantes barulhentos – muitos deles vindos diretamente do bar mais próximo – espremidos dentro de um auditório anti-séptico na Universidade Estadual da Califórnia em Long Beach nessa quarta noite de algo chamado semana da poesia; não exatamente o tipo de evento adequado ao campus, como evidenciou o esparso público que compareceu às leituras de outros poetas nas três noites anteriores. mas Bukowski sempre atrai uma boa multidão. ele tem uma reputação aqui – por suas atitudes bem como por sua poesia. da última vez que ele esteve aqui, fez uma leitura pela manhã e outra pela tarde. no intervalo entre as duas, ele descolou uma garrafa e secou até o ultimo gole. bêbado demais para ler na apresentação da tarde, ele decidiu entreter os estudantes trocando insultos com eles.o que se transformou num show e tanto.
nos bastidores, Leo Mailman, editor de uma pequena revista literária e coordenador da leitura de poesia de hoje, dá uma olhada entre as cortinas do palco e diz. muitas dessas pessoas estiveram aqui na última leitura. algumas delas ficaram desapontadas por sua embriagueis; elas se sentiram ofendidas. mas muitas outras ficaram totalmente satisfeitas por se sentirem em contato com o verdadeiro Bukowski – você sabe o legendário grosseirão, o velho pervertido, o bêbado que não dá a mínima e sai por aí procurando porrada. eles viram Bukowski em seu estado natural. por outro lado, quando eu o chamei para os acertos da leitura deste ano, ele estava totalmente sóbrio e caiu em si desculpando-se pela forma como agiu da vez passada. ele estava bastante calmo, e me disse o quanto sentia por ter extrapolado e como pretendia compensar a falha anterior dessa vez. eu fiquei pasmado. então quem pode dizer qual é o verdadeiro Bukowski – o bêbado hostil que faz auto – espetáculo, ou o humilde, o cara tímido e preocupado com a possibilidade de ter desapontado alguém?
alguns minutos depois, Bukowski, vestindo uma camisa meio aberta, casaco esportivo, e calça baggy cinza, da uma espiada dos bastidores, tendo terminado seu ritual de aquecimento no estacionamento. pálido e nervoso, ele diz a Mailman. O.K. vamos acabar logo com isso pra que eu possa pegar meu cheque e cair fora daqui. então ele surge, não anunciado, no palco. Mailman vira-se para a companheira de Bukowski, Linda King, uma espirituosa, bem afeiçoada poeta e escultora de 34 anos que sobreviveu a um relacionamento tempestuoso de 5 anos com poeta. ele está bem? Mailman pergunta. claro, ela diz, ele só tomou algumas cervejas e está se sentindo muito bem. ele quer fazer o melhor desta vez. enquanto o público começa aplaudindo, Bukowski pega uma cadeira ao lado de uma pequena mesa no palco. debruçando-se sobre o microfone ele anuncia, eu sou Charles Bukowski, e toma um longo trago da garrafa térmica cheia de vodka com suco de laranja, propondo um brinde a vários estudantes. sorri, meio cínico, meio tímido. eu só trouxe um pouco de vitamina C comigo pra minha saúde...bem, aqui estamos nós, na batalha poética de novo, escute, eu decidi ler todos os poemas sérios primeiro e deixar sair de qualquer jeito então poderemos nos divertir, certo?
enquanto ele começa a ler, uma colegial na terceira fila que está vendo o poeta pela primeira vez, vira para uma amiga e pergunta, você acha ele tão feio como dizem? sua amiga põe o dedo na boca em contemplação enquanto o examina. é ele tem uma aparência impressionante de qualquer forma. aquele rosto...parece que ele viveu uns cem anos. é meio trágico e digno ao mesmo tempo.
a vodka está funcionando; o velho vai levando. Bukowski está em boa forma. nas frases bem humoradas ele lê jocosamente, alongando certas silabas para enfatiza-las com sua voz mortificante e administrando o ritmo para conseguir as mesmas inflexões na linguagem falada que consegue no papel. a despeito de sua sempre professada antipatia por leituras, ele parece estar curtindo, e para fechar sua performance ele surpreende seu publico lendo um trecho de uma novela inacabada. com um inusitado relato de um encontro com uma gorda, sexualmente faminta de meia idade, ele leva o público à loucura com seu ultrajante exagero. ela pulou sobre mim, e eu me vi preso embaixo de 160 quilos de algo menos que um anjo. sua boca estava colada a minha e gotejava cuspe e tinha gosto de cebola e vinho barato e o esperma de 400 homens. subitamente ela salivou, eu engasguei e empurrei-a... antes que eu pudesse fugir ela já estava novamente em cima. agarrou minhas bolas com as duas mãos. sua boca abriu, sua cabeça baixou, e ela engoliu. sua cabeça babou, chupou, sacudiu. por mais que eu estivesse quase vomitando, meu pau não parava de crescer. então, dando um tremendo puxão nas minhas bolas quase rasgando meu saco ao meio, ela me forçou a cair no chão. sons asquerosos de sucção ecoavam pelas paredes enquanto meu rádio tocava Mahler. meu saco ficou inchado, vermelho, e coberto de cuspe. Se eu gozar, eu pensei, nunca irei me perdoar.
quando ele terminou, a maioria dos estudantes levantou para aplaudi-lo. ele tirou os óculos e deu a multidão um pequeno aceno. agora vamos todos sair daqui e nos embriagar. ele apanhou seus papeis para sair. os aplausos continuavam enquanto ele saía e, obviamente, agradecido, subitamente ele voltou e foi até o microfone. por um momento ele baixou a guarda. vocês estão cheios de amor, ele disse, mamãezinhas.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui