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Artigos-->antropofagia francisquense -- 29/03/2002 - 22:15 (Roberto J. Pugliese) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Antropofagia francisquense.



Na primeira metade do século XX Mário de Andrade percorreu por duas vezes o nordeste, estudando o comportamento da sociedade, pesquisando costumes e tradições. Manteve estreitas relações com Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, vindo a concluir trabalhos sociológicos que até hoje são de súbita validade para a realidade nacional.

Da aventura pelos sertões, nas odisséias vividas na caatinga, no inóspito interior e nas amenidades da zona da mata, pode constatar a realidade própria da cultura regional, colhendo subsídios bastantes para concluir o Antropofagia, através do qual expôs com a perfeição de sua pena, a versão oficiosa da raça submissa com a qual pode conviver.

Relatou o literato paulistano que a concentração de renda exacerbada, o coronelismo truculento dos proprietários da terra e a ganância dos que gerenciam a política, estavam levando a auto destruição e conseqüentemente a extinção de toda estirpe social local, prevendo que a continuar o mesmo comportamento dos poderosos em relação a plebe submissa, em poucas décadas, todo o nordeste estaria fadado a sucumbir diante da desmoralização total do povo, que sem condições mínimas de sobrevivência,imigrariam e levariam a falência a economia regional, destruindo os meios de produção de suas riquezas, estancando abruptamente os privilégios da elite local, por falta de mão de obra e vassalos, como ironicamente soube descrever com pormenores e detalhes.

Dali a esta época, o nordestino houve colonizar o norte, alistando-se voluntariamente no exército da borracha, iludido pelas promessas do tio san, durante a II guerra mundial e, posteriormente inchar as cidades do sudeste, em busca de condições mínimas para sobreviver, dada a ausência do estado social e a prepotência dos senhores quase feudais.

Hoje, salvo alguns poucos bolsões turísticos, de um modo geral, a região está à míngua. Suas industrias, sem incentivos, estão destruídas. Seus tradicionais engenhos de açúcar, penhorados e no mais, resta a miséria, a falta d’agua, a fome e a inércia de quem não vislumbra nenhuma condição para reverter a situação contemporânea. A população despreparada não tem mais como servir a elite decadente e empobrecida financeira e culturalmente.

S. Francisco do Sul caminha igualmente para a antropofagia. Seus filhos por tradição, para poder sobreviverem com dignidade mínima, estão buscando em centros mais acessíveis,nem sempre maiores, as oportunidades negadas na cidade, quer pelos que manipulam a economia cada vez mais concentrada e não distribuída, quer pelos coronéis do poder político que mantém o cabresto apertado, de forma a controlar a dominação imposta a plebe inculta e acanhada, sempre temendo insurgir-se contra aqueles que sempre deram as ordens. É cultural e histórico a dominação por poucos sobre muitos na Babitonga.

O novo e as novidades não são aceitos, de modo a manter o stabelechiment na mão das mesmas famílias e o poder político permanecer com dantes no quartel de Abrantes.

Castra-se aqueles que possam alertar. Desmoralizam-se os que denunciam. Cala-se a voz dos que gritam e por gerações seguidas, o povo é afastado coercitivamente do poder e das riquezas geradas na ilha pelos seus esforços. A violência é estrategicamente disposta a não se permitir inclusive, que no futuro, surjam lideranças contrárias, a ponto de inibir-se que os estudantes organizem-se em grêmios autônomos, de forma a induzi-los a submissão histórica inerente a cultura local, de que uns mandam e haverão de mandar e os demais obedecem. Foi assim e assim será.

A balela é perceptível, mas a cultura social dirigida à auto destruição, impede que a sociedade civil se organize para mudanças. Temor reverencial àqueles que por tradição impõe suas idéias e não aceitam contrariedades, em troca de esmolas e dádivas generosamente distribuídas aos que contemplam da senzala a luxúria dos senhores. Banquetes e cestas básicas é a relação histórica e harmônica entre os pacíficos, tolerantes e submissos e ilhéus.

Infelizmente a permanecer a situação hermeticamente sitiada do poder e das riquezas, inacessíveis às maiorias, a antropofagia francisquense será inevitável. Veja-se a sina dos poucos empresários que ainda restam: Aliados do referido poder, se esforçam em manter o incipiente comércio, cuja freguesia que restou ou compra à prazo com bastante dificuldade ou deixa para depois, enquanto que a pseudo elite financeira local, mesquinha, inculta e irresponsável debanda elegantemente para outros centros, aplicando seus recursos em variedades bem mais atraentes, de melhor qualidade e preço impossíveis de serem oferecidas na ilha, diante do poder aquisitivo cada vez menor. Veja, para terminar, a sina da tentativa de articular-se um canal político para que as massas pudessem também ser ouvidas: Sucumbiu por aliar-se ao poder tradicional ao invés de ser o portador independente do clamor das maiorias. E assim infindáveis exemplos: A elite paulatinamente está se auto destruindo com a eliminação das vítimas de sua ganância e de seus próprios aliados.PT saudações.



Roberto J. Pugliese

Advogado

Professor universitário

Membro do IDCDH

























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