RESPOSTA AO ESCRITOR FERNANDO
Resposta à frase de Fernando Tanajura Menezes “O trabalho enobrece”: “O trabalho enobrece o homem e deixa a mulher cansada.”, publicada a 19/01/2002.
Senhor Escritor Fernando
Li sua resposta. Pensei em nem responder... Entretanto, jamais deixaria um poeta falando sozinho e, muito menos, um homem com a última palavra... Sei que não teve a intenção, em sua infeliz frase, de diminuir o valor da mulher. Fiquei brava, até me exaltei, porque a malfadada frase me atingiu em cheio, pois que, como mulher que sou – apesar de sua tentativa de me transformar num Homem em seu texto – sinto-me tão enobrecida pelo trabalho quanto qualquer homem com todos os membros. E, claro, reivindico o direito de me sentir cansada, lembrando aqui a célebre dupla jornada, coisa que, como homem, o senhor certamente desconhece, pois, em sua volta do trabalho à casa, senta-se comodamente em sua poltrona para ler o jornal ou ver televisão.
Bem, não vamos polemizar, principalmente sobre esse assunto (excelente argumento, aliás) que as feministas já discutiram exaustivamente. Dou-lhe até o desconto de estar sob forte emoção diante do que escrevi, reconhecendo, embora contrariado, que eu estava cheia de razão em tudo o que disse. Também me rendo aos elogios que me fez e os devolvo dizendo que o senhor realmente é um perfeito cavalheiro, coisa que não cai de moda nunca para uma mulher com o perfil que o senhor traçou de mim, aliás magistral, principalmente ao dizer que a mulher brava fica mais bela! (Adianto que vou relevar essa observação e não a interpretarei como uma cantada.) Certamente, a esta altura, já parou para refletir e percebeu que eu não quis absolutamente departamentalizar nada, apenas delineei comparações e creditei as vantagens da mulher à sábia natureza. Eu jamais separaria homens e mulheres, pois meu propósito é uni-los cada vez mais. Se os separo, como poderei viver? Ora, senhor poeta, sabe bem que eu não seria assim tão burra...
Aceito comovida o coração que me entrega. Cuidarei dele com carinho e responsabilidade. Como sei que ele é afeito a um bom vinho, peço a gentileza de me dizer as marcas que ele prefere, para que não lhe falte a ração diária. Garanto-lhe que ninguém o molestará, pois ele está sob a proteção de meu coração, terno e sensível como todo coração feminino. Mas, por honesta que sou, tenho também que adverti-lo: quando for elaborar suas espirituosas frases sobre mulheres, tome mais cuidado. Lembre-se que seu coração está em minhas mãos e que posso tratá-lo com todos os carinhos de que só uma mulher é capaz, mas também posso me enfezar e dar cabo dele com apenas uma arma que tenho e que a natureza lhe negou. Com certeza não preciso explicar mais uma vez que arma seja essa, pois sua sagacidade já adivinhou e deve estar sorrindo ao pensar nela...
Antes de terminar, quero apenas lhe fornecer mais um pequeno detalhe a meu respeito: sou chamada de “Dona Onça”, alcunha que ostento com orgulho e que me foi atribuída justamente por um homem que viveu comigo o amor, embora morrendo de medo... Não interprete isso como uma ameaça...
Agradeço e retribuo seus beijos adocicados. Mas não devolvo a bandeja de prata!
Muito atenciosamente e, repito, comovida,
Sal - sua leitora e fã ardorosa.
20/01/2002
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