Tenho que ler Cora Coralina, Drumond, Pessoa
para me manter vivo.
Sentir que a pele é mais que pele,
que o coração e mais que um músculo,
que o tempo é mais que a vida.
Tenho que ler Maiacovisk,
seguir os sons dos seus esgotos - flautas feitas de vértebras.
Tenho que ler Oswald de Andrade, Mário, Lobato,
me levam para os lugares encantados.
Tenho que ler os poetas nicaragüenses,
que forjaram a palavra no meio da guerra.
Na certeza dos que não amanhecerão,
os poetas incandescem suas ferramentas e,
num ritual louco, grafam suas esperanças.
Tenho que ler para traduzir as almas que atravessam minh alma
sussurrando o tempo que me capta e me escapa.
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