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Artigos-->MEU MALÃO DE ALUMINIO -- 14/12/2014 - 19:34 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

                                                                                                                        MEU MALÃO DE ALUMÍNIO



                                                                                                                                                                                                                                                             L. C. Vinholes



Na primeira vez que saiu do Japão e veio ao Brasil foi pela costa da África, na rota de Lourenço Marques e Cabo da Boa Esperança, em um dos navios mais conhecidos da companhia holandesa, o Boisevein. Quando lá voltou foi por outro caminho, costeando o Brasil e a Venezuela, passando pelo canal do Panamá, fazendo uma parada em San Diego, na Califórnia, e atravessando o Pacífico que, pelo menos em três longos dias e noites, não fez jus ao nome tal era a força dos ventos e a altura das ondas que sacudiam o Brasil Maru, da companhia japonesa Osaka Shosen Kaisha.



Ficou durante dez anos em Tokyo, inicialmente em Kinutamachi, depois em Jyugaoka e Gokokuji e, finalmente, em Aoba-cho no bairro de Minato-ku.



Certamente o período em que sua presença foi mais útil foi aquele de Jyugaoka, entre 1957 e 1961, quando serviu não só para guardar os poucos bens de propriedade do seu dono, mas, ainda, como improvisada mesa de estudo. Sobre ele estavam sempre alguns livros, cadernos de apontamento e partituras de sho e shichiriki para músicas de gagaku. Ficava sempre coberto com um furoshiki azul, com letras brancas em caligrafia cursiva, quase da mesma tonalidade da sua parte interna revestida de madeira e forrada de papel mais anil. Na parede à sua frente, por alguns meses, teve a companhia de um quadro a óleo de Samson Flexor.



Apesar dos anos, dos dois lados e na frente se via escrito em letras romanas maiúsculas, em tinta preta, as iniciais MF. Nada tinham a ver com o nome do seu último dono. No lado superior esquerdo da parte da frente tinha a identificação da fábrica, um selo redondo cor de prata com impressão em vermelho-terra identificando o fabricante, Suzuki, e anunciando os produtos que ele tinha à venda: Tranks & Bags - Suitcases. O endereço era apenas Shiba - Tokyo e o telefone 57.0360. Na tampa, escrito em japonês com pincel, constava kyabini 3 tô, significando beliche, terceira classe.



Era um malão como outro qualquer, de dimensões reduzidas medindo 120x45x45 cm, mas tinha como singularidade ter sido feito de alumínio com material recuperado das azas e fuselagens de aviões abatidos durante a Segunda Guerra Mundial. Suas alças laterais e as cantoneiras eram de aço, a fechadura e as presilhas de metal bronzeado.



Malão que conheceu o Brasil na companhia de um jovem imigrante, Makoto Furuya, que só regressou ao Japão no final dos seus dias, que lá voltou quando levado por outro jovem, este interessado nas culturas do Oriente. Sua história certamente termina por aqui somando cerca de trina anos nas suas vindas e idas. Não havendo mais perspectivas de enfrentar longas viagens, foi doado à uma instituição de caridade onde teria merecido fim, mas, certamente, sem ver nenhum acréscimo no seu currículo.



Aobacho= “bairro folha verde” no qual foram conservadas edificações tradicionais, residências e de negócios em prédios de dois pisos.



furoshiki= pano quadrado de aproximadamente um metro de lado usado como o pano de trouxa no Brasil.



gagaku= música elegante, música tradicional japonesa praticada na Corte Imperial e nos templos xintoistas.



Gokokuji= bairro com o templo homônimo que lhe deu o nome.



Jyugaoka= um dos bairros mais apreciados de Tokyo, pela sua tradição e pela tranquilidade das áreas residenciais.



Kinutamachi= área do bairro de Setagaya nos arredores de Tokyo onde estavam os estúdios da companhia cinematográfica Toho.



Minatoku= bairro do porto, um dos mais centrais e extensos de Tokyo.



sho= instrumento musical de sopro, conhecido por órgão de boca, usado na música do gagaku, formado por um recipiente feito de madeira laqueada do qual saem 17 tubos de bambu, cada um com uma lingueta de metal.



shichiriki= espécie de flauta vertical, com sonoridade estridente e parecida com a do oboé, com palheta dupla, feito de bambu, usado especialmente na música do gagaku


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