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Artigos-->ENCONTROS COM KAZUO WAKABAYASHI -- 14/01/2015 - 18:20 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 



ENCONTRO COM KAZUO WAKABAYASHI



                                                                                                                                                                                                                                                                                                      L. C. Vinholes



  Foi em uma tarde de sábado, em 1961, quando passando por Kobe e por intermediação de um amigo comum, o pintor Washio Tsutaka, que encontrei Kazuo Wakabayashi, acompanhado de sua esposa de pouco tempo, de nome Hikari, para um jantar de aproximação. Desiludido, material e espiritualmente, com a situação no Japão criada pelo empenho bélico do passado e pelos resultados arrasadores dos anos 1940 e tendo espírito marcadamente calmo e introspectivo, Wakabayashi, depois de muito pensar, havia decidido deixar sua terra natal e ir de vez para o Brasil. Os comentários dos amigos japoneses e, principalmente, daqueles que tinham alguma experiência com o Brasil pareciam não ser ainda suficientes para acalmar a curiosidade e ansiedade que o afligia. Por intermédio de artistas com os quais eu já convivia, especialmente os da Região de Kansai, onde ficam Osaka e Kobe, Wakabayashi ficou sabendo da minha amizade com Tomie Ohtake, Manabu Mabe, Tomoshige Kusuno e outros artistas de São Paulo, inclusive Samson Flexor, Luiz Sacilotto, Williams de Castro, Hercules Barsotti e Angelo Taccari.



Sentados no tatami no segundo andar de um prédio modesto, mas extremamente belo e tradicional, enquanto apreciávamos as delicadas iguarias servidas, iam e vinham as perguntas e respostas a respeito do ambiente artístico de São Paulo, do nascimento e das atividades dos grupos formados por artistas de uma mesma estética ou de uma mesma origem, entre estes destacando-se o Grupo Seibi, criado em 1935 e reaberto em 1947 após interstício nos anos da II Guerra Mundial, e o Grupo  15 (1948), o primeiro reunindo, entre outros, os artistas plásticos Yoshiya Takaoka, Masato Aki, Masao Okinaka, Flávio Shiro, Iwakichi Yamamoto, Jorge Mori, Flavio Tanaka e o segundo, de duração efêmera, também criado em torno do pintor Takaoka. Ao entardecer, terminada a ceia, servidos os okashi de sobremesa e o mugi-sha, fui acompanhado até a estação ferroviária de Nishinomia, em Kobe, para pegar o trem Tsubame de volta para Tokyo.



Anos mais tarde, em 1967, voltando a São Paulo, depois de dez anos de Japão, vou ao Jabaquara onde encontro Wakabayashi na residência de Mabe e mais tarde, fomos até a obra, bastante adiantada, da casa que ele estava construíndo a pouca distância de onde nos encontrávamos. Lá pude apreciar uma série de novos trabalhos de óleo sobre tela, daquele estilo e daquela linguagem com a qual Wakabayashi se afirmava a cada dia que passava sob o sol tropical do Brasil.



Wakabayashi, ao chegar no Brasil, parece ter-se sentido em casa. Sem dúvidas ficou admirado com a diversidade do tipo físico do brasileiro, da maneira extrovertida do seu comportamento, mas não deve ter-se supreendido demais com a realidade do dia a dia paulista, carioca e baiano, por onde andou para realizar suas primeiras mostras, pois o Japão do final dos anos 1950 era pobre, de certo modo, talvez mais pobre do que São Paulo, e as cenas de Amagasaki, cidade que fica no trajeto entre Osaka e Kobe, onde, como reminicência do Japão feudal, viviam os rejeitados eta e shinheimin eram, então, mais chocantes do que as dos mais afastados bairros da periferia paulista.



Anos depois, quando de volta ao Japão, mais uma vez cuidando do setor cultural, acreditei na possiblidade e  conveniência de se abrir um espaço dentro da Embaixada do Brasil para, fugindo dos aluguéis estratosféricos e das condições corporativistas, permitir, mais facilmente, divulgar a arte brasileira. Para a mostra inaugural da nova galeria, em novembro de 1976, convidei Wakabayashi  que se apresentou com 24 gravuras. Foi nessa mostra que ele, inesperadamente, se viu obrigado a se desfazer de um dos seus trabalhos quando, na inauguração, o embaixador em Tokyo, aproximando-se da obra que mais lhe agradou, dirigiu-se ao artista dizendo:



“Então, Wakabayashi, este é o quadro que você disse que ia me dar?”.



Wakabayashi, naquela calma e serenidade que lhe são até hoje peculiares, sem saber o que fazer, perplexo e constragido, respondeu: “Sim, senhor embaixador”.



E lá se foi a gravura de Wakabayashi. 



 







Tatami. Tipo de esteiras de tamanhos padrão onde o comprimento é duas vezes a largura, feitas de palha de arroz usadas no piso das casas tradicionais japonesas, com enchimento do mesmo material e bordas reforçadas com fitas de brocado ou tecido liso.





Okashi. Confeitos, doces típicos japoneses, na maior parte das vezes feitos com arroz, usados como sobremesa ou tira gosto.





Mugisha. Tipo de chá japonês feito com grãos de trigo;komugiou simplesmentemugi, apreciado inclusive gelado.





Eta. Literalmente, impuro. A classe dos menos favorecidos, plebe, expressão do período de Edo (1603-1868).





Sinheimin. Literalmente “nova plebe”, expressão que a partir de 1872 substituiu eta, quando estes passaram a figurar nos registros de família.




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