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Poesias-->De uma porta escancarada -- 27/04/2003 - 08:15 (Paulo Bruekers Oliveira) |
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É a melhor chuva que se pode ter para escrever
Balanço lembranças de passados que não tive
Passado agitado como todo passado vivido
E repetido no fértil solo da mente
Não importava com a chuva
Eu a sentia
Não pisava com cautela nas poças
A sola tapava o chão molhado
Como se descalço, eu
Era a árvore e a rocha
E rugia
Em tempo algum pensava no que pensariam
Meu tempo não passava direito
Era lento e perigoso o tempo
Eu temia o tempo em que estava vivo
Eu construía minuto a minuto
Tive um elmo e uma espada de duas mãos
E tive olhos arregalados
E olhos hoje não vêem o mesmo verde
Não vêem mais cemitérios
Não visitam mais mosteiros
Não trazem novidades
Olhos não choram mais
O sorriso para os amigos não se larga mais
Os amigos sobreviventes
Nunca foram daquela época
Dois deles se perderam
A solidão me é o pior dos infernos
Onde estou?
Que a palavra já não vale nada?
Onde está a égua amarela de cela rústica?
E a camponesa da aldeia
Que nunca envelhecia
E suas saias que se dobravam em minhas idéias?
Por quem me arrisco?
O artesão que me vendeu a pintura
Dos reis esquecidos
Cantava a música da melancolia mais profana
Eu sempre ouvia tocarem
Tinha duplo som, e um era negro e burro
Outro mudo e desaculturado
Também escutei assombrosa melodia
Em duas datas vermelhas
Dos calendários de soldados e cientistas
No mundo do “tudo voa”
Não há veículo que me leve aonde quero
O caminho não é coerente com a realidade
E, além disso, já passei por lá
É minha história.
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