Sempre me intrigou ouvir falar em contos da carochinha. Por que da carochinha? Quando Perrault publicou seu livro de narrativas , deu-lhe o nome de Contos da Mamãe Gansa. Sem falar das histórias de dona Baratinha. Porque somente os animais possuem know-how para nos contar essas histórias maravilhosas?
A verdade é estarrecedora: os verdadeiros personagens dessas maravilhas que chegaram até nós foram os animais. Para disfarçar, eles fingem que foram os seres humanos. Em alguns contos de transição, como o Gato de Botas, ainda aparecem animais interagindo com os humanos. Em A Bela e a Fera, podemos notar perfeitamente essa transmutação de animal em homem. Vejam vocês: no Chapéuzinho Vermelho, a figura central era na realidade uma ingênua coelhinha da floresta, na qual o lobo andava de olho. Acontece que a vovó, coelhona escolada, fingiu-se de doente para seduzir o lobo, e assim foi papada antes da netinha.
O conto Rapunzel teve originalmente um final meio desastrado. Isso porque a personagem, de longas tranças, era uma formiguinha. E o príncipe - ao qual jogou suas tranças como uma escada - era esse mesmo: o elefante. Quando o intrépido amante agarrou-se nas tranças para subir, o que aconteceu? Não só a infeliz amada, mas toda a torre do castelo veio abaixo! E a Branca de Neve? Tratava-se de uma cadelinha que habitava a floresta, não com sete, mas com nove pequineses. Na verdade, era conhecida como Branca de Nove. Na transformação em humanos, os pequineses viraram anõezinhos. João e Maria, por sua vez, eram um casal de urubus. Não, a verdade tem de ser dita. Nem todos os personagens eram bonitos. Como era meio ruim da vista, a velha bruxa confundiu-os com papagaios. Por isso, dizia todas as manhãs: mostra o pezinho, louro!
Vamos e venhamos: essa idéia de utilizar a nós, seres humanos, em suas histórias foi muito boa. Os contos se tornaram mais atrativos, cheios de colorido. Bem bolado, dona carochinha, bem bolado!
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