Cecílio Damázio, de Serra Pelada, no Pará, com infindas saudades da noiva Florentina Neves, a quem chamava de LINDA FLOR, falecida em um hospital de Belém do Pará, me pediu e eu escrevi:
A MORTE DA MINHA FLOR.
Com muitas léguas eu soube
Da morte da Minha Flor
O meu coração não coube
Lamento, tristeza e dor.
No impacto da saudade
Desgosto e ansiedade,
Transformações de relance,
Senti a mágoa fatal
Mostrar-me a página final
Do doloroso romance.
Adeus, adeus, Flor da Serra!
Foste num balão de véu
Enquanto eu luto na terra
Tu tens consolo no céu,
Findou-se o teu sofrimento
E começou meu tormento
Além do que eu já sofria,
Mas sofro resignado
E canto emocionado
A mágoa que me crucia.
Senti por estar distante
Nos teus momentos finais,
Na minha vida ambulante
Sem poder te rever mais.
Olho para todos rindo,
Finjo não estar sentindo
A morte da Minha Flor,
Sinto os olhos rasos d água,
Nem o peito cabe a mágoa,
Nem o coração a dor.
De chorar tenho razão
Por perder quem tanto quis,
A Deus imploro perdão
Se ingratidão te fiz.
Foste uma flor entre as flores
Depois soluços e dores
Carregaram a tua essência,
Deixando apenas saudade
E a morte sem piedade
Roubou a tua existência.
Quando recordo os abraços
E afetos carinhosos,
Sinto o calor dos teus braços,
Doces beijos amorosos.
Ligeiramente a doçura
Se transforma em amargura
Queimando como uma chama,
Carbonizando o meu peito,
Soluço, mas não há jeito
De reviver nosso drama.
Tudo o que me resta agora
É pedir nos versos meus
À Santa Virgem e Senhora
Que rogue ao Supremo Deus,
Que como Pai e Senhor
Possa levar Minha Flor
Ao Santo Mundo da Luz,
Onde o espírito é julgado
Para sair sem pecado
Do Tribunal de Jesus.
Caruaru-PE, 26/06/1985.
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