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Cordel-->A CASA QUE NASCI NELA -- 31/01/2004 - 00:05 (Geraldo Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CASA QUE NASCI NELA


Achei enorme mudança,
Quase morro de saudade
Revendo a propriedade
Que vivi quando criança.
Andei plantando esperança
Pisando por cima dela,
Meu espírito quase gela,
Meu coração quase jaz
Olhando os restos mortais
Da casa que nasci nela.

Sai caçando o caminho
Por onde havia trilhado.
Velho, sujo, abandonado,
Cheio de pedra e espinho;
Resmunguei, falei sozinho,
Disse aqui era a cancela;
Lembrei, a trilha era aquela;
Sai repetindo a fala;
Parei na porta da sala
Da casa que nasci nela.

Só tinha, perto da porta,
Uns tijolos removidos,
Uns vinte caibros caídos,
Uma corre-campo morta;
Nas ripas, um boca-torta,
Servindo de sentinela;
Uns três pedaços de vela
Na soleira do batente,
Provando que morou gente
Na casa que nasci nela.

Mexi nuns amontoados
Dum restante das paredes,
Mesmo no canto das redes
Que meus pais eram deitados,
E nos entulhos virados
Achei a foto amarela
Que mãe tirou na capela,
No dia do casamento,
Deixou num compartimento
Da casa que nasci nela.

Fui fazer uma visita
À outra parte vizinha,
Era o lugar da cozinha,
Onde a solidão habita.
Vi o cambito, a marmita,
Uma banda de tigela,
Uns dez cacos de panela
E um restante de pau.
Me lembrei que era o jirau
Da casa que nasci nela.

Achei naquela mistura
Espatifada no chão:
Fivela de cinturão,
Pincel de fazer pintura,
Pedaço de fechadura,
O prego da taramela,
Um punhado de marcela,
Um troço de pegar rato.
Cada coisa era um retrato
Da casa que nasci nela.

Quase a luta não termina.
Tinha uma lata no centro,
Fui ver o que tina dentro:
Era um tubo de vacina,
Uma dose pequenina,
Eu lembrei que era daquela
De curar febre amarela,
Que papai tinha comprado,
E ainda tava guardado
Na casa que nasci nela.

Eu sofri que quase infarto
Pisando naquele chão
Que pai passou precisão,
Que mãe sofreu dor de parto.
Mesmo na porta do quarto
Nasceu um pé de favela,
Um mofumbo na janela,
E a mata de pereiro
Tomou conta do terreiro
Da casa que nasci nela.

No armário inda restava
Um taco de parafina,
Pavio de lamparina,
Um cordão que mãe guardava
Pra medir quando rezava
De levantar espinhela.
Uma marrafa banguela
Que ela comprou em São Bento,
E deixou, por esquecimento,
Na cassa que nasci nela.

Topei num cepo estragado,
Me lembrei que era nosso.
Fui pegando noutro troço
Que tinha nele encostado,
Era o cabo do machado
De papai cortar costela.
Os pedaços de uma cela
Enganchados numa vara,
Era moldura da cara
Da casa que nasci nela.

Fiquei tremendo na base
Ante os restos duma carta,
Daquelas que o tempo aparta
Que ninguém junta uma frase.
O papel estava quase
Na forma que se esfarela.
Só um sinal que revela
Registro da trajetória,
Finalizando a história
Da casa que nasci nela.

Sustentei na carne o peso.
Ferveu dentro a emoção,
Como se fosse um tição
Que tava ficando aceso.
Escrevi dor e desprezo,
É esse o assunto em tela,
Isso daqui ninguém zela,
Prossegui dizendo assim:
Essa é a foto do fim
Da casa que nasci nela.






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