Até que era simples os fins de tarde,
O sol vermelho, a penumbra, pé de manga, sono,
Sonhos, desejos...
Era simples não ver destruídas tantas coisas do espírito
E tantas coisas ainda sequer descobertas.
Era simples o colégio, a inocência, as paixões infantis,
O esporte, o desejo de “ser no futuro”.
Ah! Como era simples não só os fins de tarde
Mas a vida em si! Tudo em si!
Ainda me lembro de ver a vida e todas suas coisas
Como “coisas a serem superadas”,
E todos os homens como “coisas a serem superadas”,
E aguardar a hora de reter todas minhas expectativas
Para alcançá-las como se tudo fosse uma simples questão de tempo.
Ainda me lembro bem
Do metabolismo pulsando lentamente, e o tempo passando lentamente,
Os dias convertendo-se em noites, as noites em dias,
E de todas as mudanças conturbadas ou pacíficas
Que caracterizaram-me essencialmente indivíduo.
Eu tenho saudade de tantas coisas!
Sei que tenho um amor muito imenso morto no passado,
Metade de mim é silêncio, a outra metade é saudade...
Tenho saudade que é sentimento quase sem explicação,
Minha lembrança é um mar glamouroso e simples,
Um lar aconchegante, uma calmaria necessária.
É! É verdade! Creio que eram simples aqueles fins de tarde...
Tudo era simples, mas não sei porque!
Acho que tudo era simples
Por não haver necessidade de “porquê!”
E tudo era belo, e grandioso...
Ah! O fim de tarde converteu-se em névoa fria!
São 18:30 em algum dia, de algum ano D.C
Abro a janela,
Existe um vão entre meus olhos e o céu!
Um vão que diz que talvez tudo tenha perdido o significado,
Que diz que talvez até o tempo tenha perdido o significado...
Eu tenho saudade do tempo em que meu metabolismo tinha governo
E que eu não tinha tantas respostas!
A vida de um homem acaba
À medida em que suas expectativas vão morrendo...
Meus olhos estão fixos à janela deste quarto,
O tempo passa sem razão nem porquê,
Uma névoa fria já não mais permite
Ver o dia despedindo-se
E a lua surgindo feito uma criança...
Sei que já é hora de dormir!
Não sei porquê, mas sei que já e hora!
Apago as luzes e fecho meus olhos
Como se cada noite fosse o fim do mundo.
Permaneço inerte, me silencio, me esqueço, durmo...
E tudo se torna simples novamente.
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