O CARRO DE BOI DA GENTE
Pau pra botar na fogueira
Que agente acende e atiça,
Gente que ia pra missa,
Pra argolinha e caeira,
Pra forró, novena e feira.
E hoje tem cabra que mente
Dizendo: eu fui diferente!
Oh povo besta danado!
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Quando um casamento havia,
De um pobre de pouca sorte
Que não tinha outro transporte,
O carro de boi servia.
Depois que o povo subia
O dono dizia, sente.
O casal ia na frente,
Num banquinho atravessado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Feijão, farinha e batata,
Rapadura, arroz, café,
Cabaça, melão, cuité,
Manteiga, coalhada e nata,
Saco, corda, litro e lata,
Marrafa, tesoura e pente,
Açúcar, milho, aguardente,
Fubá de milho torrado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Capim pra fazer forragem,
A safra de algodão,
Tijolo pra cacimbão,
Material pra barragem,
Cana doce pra moagem,
Lenha pra caldeira quente,
Milho azedo da enchente,
Mandacaru para o gado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Facão afiado o gume,
Enxada de limpar mato,
Alguidar panela e prato,
Couro de boi pra curtume,
Surrão pra botar legume,
Caixão de guardar semente,
Arame, grampo e corrente
Mourão, estaca e machado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente,
Lenha da turma vizinha
Catada dentro da broca,
Batata de mandioca
Pra gente fazer farinha,
A safra que a gente tinha,
O legume dum parente,
Guardado na pedra quente
Dos aceiros do roçado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Não havia outro transporte;
Ninguém usava jumento
Pra carregar bexiguento,
Mulher grávida, mal de morte,
Acidentado de corte,
Ou então doutro acidente,
Ancião com dor de dente,
Menino com buxo inchado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
Aquelas coisas grosseiras
Da roça dos meus avós,
Uns farrapos de lençóis,
Os balaios e peneiras,
Aquelas coisas das feiras
Mandadas do presidente.
Era pra dar de presente,
Pobre comia comprado.
Era tudo carregado
No carro de boi da gente.
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