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Contos-->A CAIXA -- 08/02/2003 - 23:59 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CAIXA

Em 1960, Num barraco no morro da cidade, francisca e Maria, com três filhos, lavavam roupas para as madames da cidade. Neide tem dois filhos Carlinho , sete meses Pedro com três anos. Elas costumam ir num barraco mais abaixo onde mora a mãe de Francisca.
Neide não trabalhava, tinha um defeito no braço, e sempre com muitas dores.
Neide não saia de casa nem para ir ao baile no morro, era muito calada, as outras caçoavam de seu jeito, e ela nunca respondia as brincadeiras. Pedro muito tagarela, respondia pela mãe. “Seu Tião, sempre que passava pelo barraco de Neide dizia que o guia dele dizia que um dia ela ficaria boa das dores no braço.
Maria e Francisca voltava no final da tarde da entrega da roupa, os filhos ficavam com Neide que não tinha muito cuidado com as crianças.
Foi numa noite de inverno, as crianças dormiam, as três irmãs reunida, Francisca revoltada com a vida reclamava do frio intenso, pegou um cigarro se encolheu nos lençois desbotados. Maria falava de namorados, dizia não Ter sorte com eles. Neide tentava se acomodar no canto em seu silencio peculiar, de vez em quando olhava indiferente às conversas das irmãs.
De repente ouviram alguém gritar lá em baixo do morro “fogo”. Só Neide levantou o olhar para a janela, Maria a olhou e brincou, dizendo que ela só dá importância à desgraça, diz que falaram de tantas e ela nem respondia, mas guando ouvir alguém gritar fogo, já se interessou como que um agouro. Neide nada respondeu, Ouviram uma explosão, foi um botijão de gás de outro barraco, todas se levantaram, olharam pela porta, a noite fria fora iluminada pôr um grande incêndio abaixo do morro. Apanharam as crianças, desceram pôr outro caminho, muitos barracos destruídos, Neide falou no meio daquela confusão, que precisavam saber da mãe delas, ficaram nervosas, não tinham se lembrado há tempo, já haviam descido muito, e teriam que dar uma grande volta para irem até onde morava a mãe delas, pois a encosta do morro era uma grande pedra, não dava para retornar, na luta de conseguirem retornar, o tempo foi passando, chegando lá, já não a encontram com vida, uma devastação terrível causada pelo incêndio.
Choraram, sem nada falar. Neide permanecia calada.
Na manhã seguinte muitos barracos destruídos, muitos morto, desabrigados. O incêndio começou no centro espirita. Maria e Francisca disseram que debandariam pelo mundo, Neide concorda com um aceno de cabeça.
Desceram o morro sem planos, sem despedida, Neide caminha pela rua, já
Amanhecera, o frio intenso, deitou perto de uma praça, passaram varias pessoas, Neide não estava pedindo esmolas, mas alguém jogou a primeira moeda, e outras mais. Neide se acostumou e foi mudando de lugar até um mais protegido chegando no centro da cidade, perto de uma lanchonete.
A noite chegou e Neide recolheu os poucos objetos que estavam sobre a calçada. Conta o que rendeu durante o dia, compra café e pão para ela e as duas crianças, passou a morar na rua. Vai para baixo da marquise do grande edifício, mas tem que aguardar a lanchonete fechar, pois sempre é mandada sair dali o gerente acha que o aspecto é horrível com sua presença, e além do mais tem que esperar eles lavarem a calçada e apelar que a sorte a ajude a se livrar da água jogada pôr propósito para que ela se afaste dali.
É sempre assim, todos os dias e noites a mesma luta pela sobrevivência.
Durante o dia Pedrinho brinca a sua volta, não pode se afastar, o espaço é imenso demais e perigoso, tem muitas pessoas a sua volta, mas a solidão é grande, quando passa um menino de sua idade, ele tenta uma comunicação, mas é inútil, todos que passam é pendurado nas mãos de suas mães, ele apela para uma careta, sempre leve resposta, é assim seus dias, as vezes chora, quer correr, houve vezes em que Neide cochilava e Pedrinho tenta sair, conhecer aquele mundo estranho e tão familiar, se perde, chora, e depois de Neide largar seu lugar a procura dele, quando o encontra, bate, o sacode, mas sempre tenta outras vezes.
Um noite Neide estava dormindo, passam dois mendigos com uma enorme caixa de papelão. Neide olha para o bebe e vê que dormia no chão, aquela caixa seria um conforto para seu bebe. Neide chama os mendigos e pede a caixa, as crianças estão dormindo e ela fala pede baixinho, eles dizem que não era de graça, Neide entende aquela linguagem e concorda, e de pé, permite que eles passem bons momentos em seu corpo, Neide não participa, apenas levantou a roupa o suficiente para que eles ficassem satisfeitos. E recebe a caixa, é um presente valioso, valeu a pena aqueles corpos mal cheirosos, aqueles hálitos de cachaça, o medo das crianças acordarem, pois não tinha mais leite nem pão.
Na manhã seguinte presenteou o bebe com aquela caixa, pois ficara vazia durante a noite para não acorda-lo. Pedrinho ficou enciumado, chorou e tentava a todo instante de distração de Neide destruir a caixa. E os dias se passaram, até um dia Neide percebe que aquele mês ela não precisou de apanhar papeis na rua para se proteger da menstruação, Neide sente um calafrio, chinga e amaldiçoa sua sorte, e percebe como foi cara aquela caixa, e a chuta para o meio da rua, as pessoas a olham achando que ela estava louca, mas Neide sabe o que é enfrentar uma gravidez na rua sob sol e chuva e vento. Pôr varias vezes teve vertigens, quem a acorda é Pedrinho, ela reage, e chora, muitas vezes fala sozinha, não tem mais paciência.
Um dia resolve com o que ganhou durante o dia comprar um remédio para aquelas vertigens, chega na farmácia já noite, com os dois pequenos, mal ela falou, o balconista manda-a embora dizendo que não tem esmolas, Neide silenciosamente sai da farmácia, sente as tonturas, e volta a farmácia e é mandada embora sob ameaças, passa uma moça, pergunta e Neide explica que não estava pedindo esmolas, queria comprar mas não queriam vender. A moça chama a atenção do balconista e compra o remédio para Neide.
E o tempo vai passando, cada vez mais difícil, sua única roupa já não suporta o volume do ventre, até que chega a hora dos nascimento, com dores, as ruas
Vazias, Neide já havia se mudado de ponto, estava em frente a um hospital, na agonia das dores ela se arrasta com as crianças e vai até o hospital pede socorro, e é atendida. As crianças ficam no hospital em um setor especial até que a mãe tivesse alta. Nasce o bebe, e Neide volta para seu lugar perto da lanchonete. E a luta aumenta para sustentar as crianças. Era véspera de Natal, Neide não entendia como Pedrinho percebeu e pedia presente, Neide batia nele todas as vezes que o via ensinando ao irmão que já estava começando a falar, que papai noel viria. Neide então tem uma idéia, veio de repente , ela já não agüentava mais aquela situação e resolve dar um presente aos seus filhos. Ela levanta-se as crianças a acompanha, o bebe vai no colo, na avenida muito movimentada, Neide atravessa, sem cuidado, era preferível vê-los mortos do que morrendo aos poucos. Uma freada e ela tenta não olhar para trás, mas todos gritam, ela para, Pedrinho a chama e diz : mãe, Carlinho esta sangrando... ela se volta, Carlinho foi levado para o hospital, mas ela não sabe qual, e nunca mais o vê. Neide chora, as pessoas a agride, ela diz que não sabe como aconteceu. E os dias seguem, sem Carlinho mais fácil, mas dava saudade, Neide sabe que talvez ele já tivesse com dois anos, ela não sabia o dia do aniversário deles. Uma tarde o movimento era grande, então Pedrinho estava distraído, o sinal fechado, Neide vê um caminhão, era raro caminhão naquele horário, Neide tem uma idéia, pega o bebe e o joga dentro da carroceira e o sinal abre e com vai seu bebe, sozinho na carroceira do caminhão, quando o motorista percebesse que havia um bebe, já estaria longe, só Deus saberá seu destino. Carlinho assiste tudo, sente medo da mãe e a agarra, pede que não o deixe, então Neide vai andando, Carlinho tenta alcança-la, mas Neide vai mais rápido e já não ouve seus gritos de pavor, Neide agora estava livre, sua missão estava terminada. Vai até o guarda transito e diz o que fez, ela a encaminha até a delegacia e de lá é mandada para o presidio a espera de julgamento.
Uma manhã, quando já é hora de levantar, suas companheiras de sela, dão um grito, Neide estava enforcada na cama pelos próprios lençóis.

Lira Vargas.

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